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Amigas fazem homenagem à mulher morta pelo marido em Cariacica

Amigas fazem homenagem à mulher morta pelo marido em Cariacica

Cristina foi assassinada na frente das filhas, na madrugada de domingo. Um dia depois, na última segunda, alunas da escola em que a vítima estudava fizeram homenagens. Até o fim do ano, nenhum aluno vai sentar na cadeira dela

Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 15:06

Amigas fazem homemagem à mulher morta a facadas pelo marido em Cariacica Crédito: Arquivo Pessoal

"Nós sempre esperamos que alguns dos que começaram com a gente não irão até o fim, mesmo a gente não gostando muito da ideia. Mas gostamos ainda menos da ideia de como a Cris se foi, na verdade, odiamos. E odiamos de muitos pontos diferentes..."

Julia Marinho

Estudante

O início do poema escrito para Cristina Melo do Rosário, de 34 anos, assassinada a facadas pelo marido, Eduardo Cruz da Silva, na frente das duas filhas, de 8 e 11 anos de idade, mostra um pouco do sentimento de tristeza e revolta que o crime provocou em amigos e familiares. Cristina foi morta em Porto de Santana, Cariacica, na madrugada do último domingo (01).  Um dia depois, na última segunda-feira (02), alunas da Escola Técnica em que a vítima estudava fizeram homenagens à amiga assassinada.

O caminho feito até a sala de aula, a porta suja de vermelho e com pedido de socorro, a cadeira vazia com uma rosa vermelha. Essas foram algumas formas de mostrar o vazio que a perda de Cristina provocou nas amigas, além de uma tentativa de alertar outras vítimas de violência doméstica. 

Amiga de Cristina, a estudante Tatiane Silva, de 24 anos, contou que o crime comoveu a turma de Técnico em Enfermagem que a vítima estudava. A segunda-feira foi atípica: a prova agendada foi substituída por uma aula de Psicologia. O intervalo foi marcado por um minuto de silêncio. Já os alunos fizeram o acordo de que ninguém irá sentar na cadeira em que Cristina estudava até o fim do curso, em abril de 2020.

"Foi um dia triste. Algo nos faltava. Colocamos tinta vermelha na porta e na cadeira, representando marcas de sangue. Queríamos demonstrar nossa dor e alertar, porque sabemos que outras alunas são vítimas de violência doméstica. O curso era algo que a Cristina gostava muito, porque foi a forma que ela encontrou de tentar ter independência financeira. Porque ela dependia do marido. Ela confidenciava para algumas amigas que o marido fazia promessas de que ia mudar. Quando ela tentava terminar, ele agarrava nas pernas dela, chorava, prometia mudanças e ela acreditava... Dói muito saber que tudo terminou assim. Dói saber que nossa amiga se foi de foi de forma tão cruel"

Tatiane Silva

Estudante
Amigas de mulher morta a facadas por marido fazem homenagem em sala de aula Crédito: Reprodução

Poema para Cristina Melo do Rosário, Por Julia Marinho

Nós sempre esperamos que alguns dos que começaram com a gente, não irão até o fim, mesmo a gente não gostando muito da ideia. Mas gostamos ainda menos da ideia de como a Cris se foi, na verdade, odiamos. E odiamos de muito pontos diferentes:

Odiamos ela ter deixado a gente;

Odiamos a ideia de que suas filhas terão de seguir seus caminhos sem ela e da maneira mais dolorosa possível;

Também odiamos o marido por ter feito o que fez;

E com certeza odiamos a dor da sua partida;

Mas odiamos ainda mais a sua dor nos últimos momentos em que deixava a gente;

Mas quando eu parei para ver parte da turma unida só para vê-la, e se despedir, pude ver um brilho em meio à tanto ódio, a escuridão que estava tomando nosso peito, esse brilho é essência dela. Não se tratava de ódio, não naquele momento, aquele tempo era só ela, dela e para ela.

E essa é a Cris. Cris não é ódio, nunca trouxe isso pra gente. Ela trouxe diversão, um lindo exemplo do que significa parceria ostentando sua irmandade com a Elis.

Ela trouxe força, porque toda mãe precisa ser forte, ela trouxe responsabilidade por mostrar ser tão organizada ainda com tanta responsabilidade e deveres fora daqui. Alguns deles até dolorosos.

E eu tenho certeza que não é o ódio que a Cris gostaria de nos ver levando até o fim dessa jornada, até porque não foi isso que ela ensinou pra gente.

Pode descansar em paz de toda a dor daqui. Pois você merece isso, merece descansar de ser tão forte o tempo todo. E nós, como equipe, temos o dever honrar o que você foi pra gente.

A Cris me ajudou a ver que a vida é um presente que nós precisamos valorizar, e obrigada por ter dividido o seu presente com a gente, a sua vida com a gente... E que hoje é só uma lembrança! Mas o meu desejo hoje é que essas lembranças fiquem marcadas em nossos corações, para que levemos como amor, como alegria e, principalmente, como lição.

O CASO: MORTA NA FRENTE DAS FILHAS

Eduardo utilizou esta faca para assassinar a própria companheira, em Cariacica Crédito: Bárbara Oliveira

Mais uma mulher foi morta pelo companheiro no Espírito Santo. Desta vez, o crime ocorreu em Porto de Santana, em Cariacica, na madrugada do último domingo (01), por volta das 4h30. A vítima, identificada como Cristina Melo do Rosário, de 34 anos, foi assassinada a facadas pelo marido, Eduardo Cruz da Silva, na frente das duas filhas, de 8 e 11 anos de idade. O casal estava junto há cerca de 15 anos.

A motivação do crime seria os ciúmes constante do marido em relação à esposa. De acordo com vizinhos, as brigas entre o casal eram constantes e o homem já havia agredido a companheira outras vezes. Na madruga deste domingo (01), uma vizinha acordou depois de ouvir o grito de socorro das crianças.

"A gente vinha de uma festa, quando uma senhora parou a gente pedindo socorro. Paramos o carro imediatamente. Quando estávamos descendo, vimos uma criança vindo toda ensanguentada. Rapidamente nós descemos, não pensamos em nada, e arrombamos a porta. Vimos ela (Cristina) caída no banheiro, e ele com ela lá, tentando lavar ela. Vimos o último suspiro dela, mas, infelizmente, não dava para socorrer mais não. Seguramos ele e aguardamos a polícia chegar"

Dona de casa, de 41 anos

Por medo pediu para não ser identificada

Após presenciar o desespero das crianças, a vizinha parou um carro que passava pela rua para pedir ajuda. Dentro veículo estavam três rapazes, que voltavam de uma festa. O grupo foi até a casa, arrombou a porta e conseguiu salvar as crianças.

FILHA TENTOU SALVAR A MÃE

Mulher foi morta a facadas na frente das filhas em Porto de Santana, Cariacica Crédito: Bárbara Oliveira

O cortador de roupas, Leonardo Fernandes, era um dos homens que estavam no carro e ajudou a socorrer as duas crianças. Segundo ele, quando o grupo chegou até a casa, já não era mais possível salvar a mãe.

O cortador de roupas contou ainda que a filha mais nova de Cristina, de 8 anos, chegou a entrar na frente do pai para tentar impedir que a mãe continuasse sendo agredida.

"A criança me contou que para defender a mãe, ela entrou na frente, e ele tacou um banco na cabeça dela. Tinha um corte bem fundo na testa da criança"

Leonardo Fernandes

Cortador de roupas

Populares conseguiram segurar o agressor até a chegada da polícia. Ele foi levado para o Departamento Especializado em Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Vitória, onde prestou depoimento. Além das duas filhas que presenciaram o crime, Cristina era mãe de uma outra jovem, de 17 anos, de outro relacionamento.

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