Repórter / dsanchotene@redegazeta.com.br
Publicado em 16 de janeiro de 2022 às 08:40
Cansaço físico e mental excessivo, insônia, dificuldade de concentração, perda de apetite e irritação. Estes são apenas alguns dos sintomas provocados pela Síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional.
Quem sofre com este problema sente um cansaço físico e mental, sempre associado ao trabalho. Em outras palavras, é como se o cérebro chegasse quase ao limite, assim como o restante do corpo.
Por estar diretamente ligada ao trabalho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a síndrome como uma doença ocupacional. A nova determinação passou a valer a partir de 1º de janeiro de 2022. Isso quer dizer que o Burnout passa a ser tratado de maneira diferente, exigindo uma atenção maior por parte das empresas.
Natane Moyses
PsicólogaAo ser diagnosticado com a síndrome, o trabalhador precisa ser afastado para fazer o tratamento, como ocorre com outras doenças como Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou depressão. É importante salientar que a confirmação deve ser feita por um profissional, ou seja, psicólogo ou psiquiatra.
A doença tem ainda outros sintomas deixando o indivíduo com baixa autoestima, apatia, dor no corpo e de cabeça, sentimento de fracasso, chegando até ao isolamento. Além disso, a pessoa fica sem querer sair de casa para trabalhar e tem uma tristeza excessiva. Natane lembra que os sintomas são muito parecidos com os da depressão.
“Se a pessoa fica muito bem fora do ambiente corporativo, mas não quer ir trabalhar, acende um sinal de alerta para o Burnout. No caso da depressão, estes sintomas aparecem em qualquer lugar. Dependendo do estado em que a pessoa se encontra, vai precisar de medicamentos. Atividade física regular, exercícios de relaxamento, meditação, yoga e caminhada podem ajudar na prevenção e na recuperação”, destaca.
A especialista em carreira Gisélia Freitas atribui a pandemia ao aumento no número de casos da Síndrome de Burnout. Para ela, houve um desgaste em relação ao trabalho provocado pelo home office.
Gisélia Freitas
Especialista em carreiraMesmo com as empresas modificando o modelo de trabalho, a pressão continua, segundo a especialista. “Com a competitividade acirrada e as cobranças diárias, acaba gerando insegurança em relação à própria capacidade”, resume.
A psicóloga, CEO da Selecta e especialista em gestão de carreira e liderança, Vânia Goulart, complementa que o profissional com sinais de burnout não consegue exercer seu melhor potencial no serviço, começa a ter queda de produtividade, queda nas relações, começa a se queixar mais e, dentro desse processo, ele vai perdendo toda a naturalidade.
A pessoa não se sente mais útil, acha que o que ele está fazendo nunca está bom, começa a se questionar sobre isso.
Vânia Goulart
especialista em gestão de carreira e liderançaEla afirma que, para tratar, o primeiro passo é identificar os níveis de relações, se as entregas e os resultados caindo. Vânia ressalta que o quanto antes a pessoa perceber que não está se sentindo bem nem produtiva, não está gostando do que está fazendo, é importante que ela possa se questionar e verificar uma forma de garantir essa energia circulante de uma maneira melhor.
Os trabalhadores que são diagnosticados com a Síndrome de Burnout passam a ter os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários previstos nas demais doenças relacionadas ao trabalho, conforme explica a advogada trabalhista Ana Luiza Castro. A principal mudança foi a criação da CID - Código de Identificação da Doença - para Burnout.
Ela salienta que tanto a literatura médica quanto a doutrina trabalhista já enquadravam a síndrome como uma doença ocupacional, ou seja, uma doença que aparece como consequência do trabalho.
A questão é que a CID vai dar uma dinâmica um pouco diferente, porque já vai haver uma presunção que aquela doença acometida pelo empregado seria razão do trabalho, conforme destaca a advogada.
Segundo ela, é muito importante que o empregador tenha consciência de que existem algumas práticas com as quais é necessário ter um pouco mais de atenção. Ela cita como exemplo, impor metas que são impossíveis de alcançar, treinamentos desgastantes físicos e mentais.
“A gente sabe que hoje existem empresas com culturas de treinamento onde o empregado vai para retiros e é obrigado a acordar de madrugada para correr, por exemplo. O empregador tem que ter preocupação com a saúde mental do empregado. A empresa tem que lembrar que pode ter que provar documentalmente que, ao longo do contrato de trabalho, adotou todas as medidas preventivas para controle de doenças mentais como estresse, fadiga e até mesmo Burnout”, finaliza.
O que é a Síndrome de Burnout?
Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.
Quais são as causas?
A principal causa da Síndrome de Burnout está relacionada ao excesso de trabalho. A doença é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, entre outros.
Também pode acontecer quando o profissional planeja ou é pautado para objetivos de trabalho muito difíceis, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir.
Se não for tratada, pode resultar em estado de depressão profunda. Por isso é essencial procurar apoio profissional no surgimento dos primeiros sintomas.
Quais são os sintomas?
A doença envolve nervosismo, sofrimentos psicológicos e problemas físicos, como dor de barriga, cansaço excessivo e tonturas. O estresse e a falta de vontade de sair da cama ou de casa, quando constantes, podem indicar o início da doença.
Como surge?
Normalmente os sintomas aparecem de forma leve, mas tendem a piorar com o passar dos dias. Por essa razão, muitas pessoas acham que pode ser algo passageiro.
Para evitar problemas mais sérios e complicações da doença, é fundamental buscar apoio profissional assim que notar qualquer sinal.
Como é feito o diagnóstico?
É feito por profissional especialista após análise clínica do paciente.
O psiquiatra e o psicólogo são os profissionais de saúde indicados para identificar a Síndrome de Burnout e orientar a melhor forma do tratamento, conforme cada caso.
Muitas pessoas não buscam ajuda médica por não saberem ou não conseguirem identificar todos os sintomas e, muitas vezes, acabam negligenciando a situação sem saber que algo mais sério pode estar acontecendo.
Amigos próximos e familiares podem ajudar a reconhecer sinais de que precisa de ajuda.
Qual é o tratamento?
É feito basicamente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). O tratamento normalmente surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por mais tempo, conforme cada caso.
Mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida são primordiais.
A atividade física regular e os exercícios de relaxamento devem ser rotineiros, para aliviar o estresse e controlar os sintomas da doença.
Após diagnóstico médico, é fortemente recomendado que a pessoa tire férias e desenvolva atividades de lazer com pessoas próximas - amigos, familiares, cônjuges etc.
Quais os sinais de piora?
A síndrome pode piorar quando a pessoa não segue o tratamento adequado. Com isso, os sintomas se agravam e incluem perda total da motivação e distúrbios gastrointestinais.
Nos casos mais graves, a pessoa pode desenvolver uma depressão, que muitas vezes pode ser indicativo de internação para avaliação detalhada e possíveis intervenções médicas.
Como prevenir a Síndrome de Burnout?
Fonte: Ministério da Saúde
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