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Pesquisadores do ES usam lítio de baterias para fazer biodiesel

Pesquisadores do ES usam lítio de baterias para fazer biodiesel

Os resultados mostraram que o uso do componente, presente em baterias de celulares e notebook, acelera o processo químico de fabricação do biocombustível

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 05:02

Laboratório na Faesa estuda uso de lítio no processo de fabricação de biodiesel
Laboratório na Faesa estuda uso de lítio no processo de fabricação de biodiesel Crédito: Divulgação / Faesa

Pesquisadores do Espírito Santo descobriram uma maneira de utilizar o lítio, elemento presente em baterias de celular e notebooks, na produção do biodiesel, o biocombustível mais utilizado no país. O componente é utilizado como catalisador, aumentando a velocidade da reação química que transforma o óleo de cozinha comum em combustível.

A pesquisa foi publicada na revista acadêmica do Instituto Americano de Física. O professor doutor da Faesa Gilberto Maia de Brito, que coordenou o estudo, afirma que a mistura de hidróxido de lítio com os hidróxidos de sódio ou de potássio rendeu uma produção de biodiesel maior que 90%. Isso significa que, de cada 100 ml de óleo utilizado, pelo menos 90 ml se converteram em combustível de boa qualidade.

O método permite transformar e dar novo uso a dois produtos geralmente descartados de forma incorreta e que trazem sérios danos à natureza, o óleo de cozinha e as baterias.

"Ainda é um desafio o descarte correto de óleo de fritura. É muito difícil ver uma família que colete e faça a destinação de maneira correta. As pessoas colocam na pia. Com esse biodiesel a gente consegue dois ganhos, o de recuperar o óleo de fritura para evitar que contamine recursos hídricos e reaproveitar a baterias que também têm descarte muito incorreto. O aproveitamento desse resíduo eletrônico é importante e estratégico", avalia.

O professor trabalha com reutilização de óleo de fritura desde 2012. Ele afirma que o biodiesel feito a partir desse produto reciclado tem a mesma qualidade daquele produzido com óleo de soja "limpo", mas ele só é utilizado em 2% da produção de biocombustível no país."Agora que Brasil está começando a utilizar o óleo de fritura. Já tem muita pesquisa em cima dele e é tão bom quanto o outro. A molécula é praticamente a mesma. Aqui no laboratório só filtramos para retirar resíduos de comida, para não interferir na reação", esclarece.

Professor doutor Gilberto Maia de Brito coordenou pesquisa com biodiesel
Professor doutor Gilberto Maia de Brito coordenou pesquisa com biodiesel Crédito: Divulgação / Faesa

Além disso, ele diz que o lítio pode ser usado para produzir biodiesel a partir de outras fontes.

"Pode ser usado para qualquer material oleoso. Hoje, produzimos biodiesel a partir da soja, mas tem óleo de dendê, canola, girassol, mamona. Além da fonte de matéria-prima oleosa, pode-se usar esses catalisadores com matéria-prima derivada de animais, como sebo ou resíduos de abatedouros, por exemplo", esclarece.

A pesquisa começou em 2013, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Os resultados vieram cerca de um ano depois. Como os pesquisadores estavam em processo de obtenção da patente sobre a descoberta, houve um período de sigilo, que terminou com a publicação do artigo científico na revista americana.

Este ano, o grupo obteve outra bolsa da Fapes, desta vez com o objetivo de pesquisar um método padrão para extrair o lítio das pilhas e baterias em parceria com alunos e professores da Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental Jacaraípe.

"Os alunos da escola vão recolher essas baterias de celulares e computadores através de campanhas de sensibilização da coleta seletiva e do descarte correto, e nós vamos utilizar esse material descartado e desenvolver uma metodologia para extrair o lítio"

Na bateria, em geral,  o lítio vem misturado com outros metais, como cobalto e níquel. A pesquisa vai criar um procedimento que seja sustentável para extraí-lo, convertê-lo em hidróxido de lítio e usá-lo como catalisador.

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