Publicado em 16 de janeiro de 2020 às 06:00
O governo do Espírito Santo pode perder R$ 1,6 bilhão em arrecadação de impostos no primeiro ano após a reforma tributária, caso ela seja aprovada do jeito que está. O Estado e outros sete - entre eles São Paulo e Minas Gerais - são os únicos que devem perder receita. As demais unidades da federação terão acréscimo nos rendimentos, segundo estimativa feitas pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). A reforma, no entanto, é considerada urgente e necessária por especialistas, pois pretende simplificar o sistema tributário brasileiro ao mesmo tempo em que tenta reequilibrar a distribuição de renda.
>
O estudo faz simulações e mostra que o IVA (o novo Imposto sobre Valor Agregado que será criado ao extinguir os atuais) tem potencial para promover uma redistribuição de R$ 25 bilhões de arrecadação de Estados mais ricos para os mais pobres. No caso dos municípios, o potencial é ainda maior: R$ 30 bilhões seriam transferidos para cidades pobres.
>
O IVA, segundo propostas no Senado e na Câmara, seria um substituto aos tributos federais, estaduais e municipais que incidem sobre o consumo, simplificando o sistema tributário brasileiro. >
As duas propostas preveem redistribuir as receitas em favor dos entes mais pobres do país migrando de um modelo em que a cobrança é feita no local de origem, ou seja, nos Estados e municípios produtores, para o destino, onde são comprados. Dessa forma, elas afetam principalmente o ICMS e o ISS. >
>
Nesse cenário, quem consome pouco, mesmo que produza muito, vai receber uma fatia menor da distribuição. Já quem consome mais, será beneficiado. O Espírito Santo está no primeiro grupo. "Somos produtores e o ICMS incide na origem, então somos beneficiados atualmente. Só que não temos população grande, então o consumo é menor", explica o advogado tributarista Luiz Cláudio Allemand.
>
Allemand explica que a tributária é uma das reformas mais importantes para o país, sobretudo para simplificar o sistema de impostos, o deve contribuir para uma melhoria do ambiente de negócios e impulsionar a economia. Ele pontua, no entanto, que o fato de governos de grandes Estados como Minas Gerais e São Paulo também estarem entre os "perdedores" pode emperrar a aprovação do projeto no Congresso Nacional. >
"As propostas de reforma tributária continuam insistindo em tirar receita dos Estados. As anteriores não foram para frente justamente por conta disso. Temos um momento propício para essa reforma, e é um consenso de que ela é necessária. Mas, se é para fazer reforma 'Robin Hood', que se retire dinheiro de quem tem, que é a União", avalia. O especialista esclarece que, como se trata de um estudo primário, pode ser que os valores remanejados sejam diferentes se a reforma for aprovada. >
O tributarista alerta que é preciso que o Espírito Santo fique atento, para não acabar prejudicado. "O Estado nunca teve retorno da União quanto aos investimentos. O último grande projeto foi o Aeroporto de Vitória que demorou 16 anos para ficar pronto. Estamos sempre enviando receita e não temos retorno", diz.
>
A Secretaria da Fazenda do Espírito Santo (Sefaz) foi procurada para comentar sobre o estudo do Ipea e afirmou, por meio de nota, que instituiu no segundo semestre de 2019, o Grupo de Trabalho para Avaliação da Reforma Tributária. "A análise dos impactos segue em andamento", diz a resposta.
>
Ainda de acordo com a estimativa do Ipea, dos 78 municípios capixabas, 51 prefeituras terão perdas sobre a receita corrente líquida com a reforma tributária. Em 37 deles, a redução se dará pela unificação do ICMS e ISS e pelos novos critérios de cobrança.
>
Já as demais, serão afetadas também pelos efeitos que a reforma provocará no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) que é formado hoje por 20% de algumas receitas, entre as quais o ICMS e sobre as transferências federais e estaduais que se baseiam no critério da cota-parte do ICMS.
>
Haverão também impactos nos repasses da Lei Kandir e do chamado Fundo de Compensação pela Exportação de Produtos Industrializados (FPEX), ou IPI exportação (em que 10% da receita de IPI destinada a compensar os Estados exportadores de produtos industrializados, sendo que 25% dos recursos divididos entre seus municípios).>
Considerando esses outros fatores, as perdas chegam a R$ 908 milhões para os municípios do Espírito Santo que sofrerão redução de receita. Já as cidades que terão aumento na arrecadação receberão, juntas, R$ 365 milhões a mais do que atualmente. >
Somados os feitos potenciais sobre a receita corrente líquida do governo do Estado e sobre os municípios capixabas, o Ipea estima que a receita por habitante do Espírito Santo deve cair R$ 409. Atualmente, esse valor é de R$ 6,3 mil e passará a ser de R$ 5,9 mil.
>
Para o presidente da Associação dos Municípios do Espírito Santo (Amunes), Gilson Daniel, os prefeitos capixabas e o governo do Estado terão que se unir em prol de mudanças no texto para não acabarem no prejuízo. "A reforma é importante para o desenvolvimento do país e isso é inegável. Mas toda vez que há alteração tributária ao nível nacional, o Espírito Santo, por ser pequeno e estar organizado, é prejudicado. Foi assim no Fundap e outras decisões que o governo federal tomou", diz. >
Daniel afirma que vai procurar os parlamentares para dialogar e buscar uma solução. "Vamos dialogar com a bancada para que não sejamos penalizados, e avancemos em vez de perder. Temos minoria na Câmara, mas vamos trabalhar para não ter prejuízo", afirma.
>
* Com informações da Agência Estado
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta