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Publicado em 29 de dezembro de 2021 às 09:29
Dois pedidos do governo do Espírito Santo - uma ação civil pública (ACP) e um agravo de instrumento - para barrar o reajuste do preço do gás natural encanado foram negados pela Justiça estadual. Em outros quatro Estados, pedidos semelhantes foram acatados pelo Judiciário local, que concedeu liminares suspendendo os aumentos.>
Fornecido pela Petrobras e distribuído pela Companhia de Gás do Espírito Santo (ES Gás), o gás natural encanado vai sofrer um aumento de até 29% a partir do dia 1º em janeiro de 2022. Com isso, a tarifa média vai subir de R$ 3,12 para R$ 4,02. E esta não vai ser a única alta. Já está previsto para fevereiro um outro reajuste, em percentual ainda não definido.>
Diante dos impasses nas negociações com a Petrobras, cujas negociações não avançaram nas últimas semanas, o Estado decidiu recorrer à Justiça com uma ACP, segundo explicou o procurador-geral do Estado, Jasson Hibner Amaral.>
Jasson Hibner Amaral
Procurador-geral do EstadO pedido do Governo do Espírito Santo foi negado pela juíza plantonista Gladys Henriques Pinheiro, na mesma segunda-feira (20) em que a ACP foi apresentada. Ela informou em sua decisão que o tema tratado pela ação civil pública não poderia ser apreciado durante o recesso judiciário, que irá até o próximo dia 6 de janeiro de 2022.>
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“Verifico tratar-se de demanda complexa, envolvendo altos valores, prorrogação de contrato, o que predispõe a necessidade da devida instrução processual, sendo impossível a análise, em cognição sumária que comporta a espécie”, informou a juíza.>
Na sequência, no último dia 22 de dezembro, a PGE recorreu ao TJES com um agravo de instrumento, com pedido de urgência, alegando que o tema precisava ser tratado durante o plantão judiciário, considerando a iminência do reajuste, previsto para o dia 1º de janeiro.>
Novamente o pedido para barrar o reajuste foi negado, desta vez pelo desembargador Carlos Simões Fonseca. “Destarte, uma vez que a utilização do plantão judiciário constitui medida excepcionalíssima, somente ocorrerá em casos nos quais o requerente comprove a impossibilidade de veiculação prévia do pedido durante o curso regular dos serviços judiciários, sob pena de não conhecimento”, disse em sua decisão.>
E acrescentou em outro ponto: “Ademais, não restou demonstrada a urgência, consubstanciada no 'risco de grave prejuízo ou de difícil reparação' a também justificar a apreciação do pleito durante o expediente de plantão”.>
De acordo com o procurador-geral do Estado, Jasson Hibner Amaral, a urgência dos pedidos decorre do fato de que o atual contrato com a Petrobras se encerra no dia 31 de dezembro. Em seguida entra em vigor o novo contrato, com reajuste de até 29% no dia 1º de janeiro, em uma primeira etapa.>
“A Petrobras estava em negociação com as empresas de gás até há alguns dias. E semelhante a outros Estados, o Espírito Santo também só pode ingressar com as ações agora, após as negociações serem frustradas”, ponderou. Ele considera o reajuste pretendido pela Petrobras como “extremamente abusivo”.>
Jasson Hibner Amaral
Procurador-geral do EstadoDiante das duas negativas, a PGE estuda a adoção de outros recursos ainda durante o recesso, para impedir o aumento do preço do gás encanado. >
“O problema é que estamos limitados pelo funcionamento do Judiciário, mas seguimos confiantes quanto ao mérito do pedido, seja ainda no recesso ou no dia 7, quando o Judiciário retoma as atividades. Esperamos que a Justiça estadual seja sensível em reconhecer o abuso da posição dominante por parte da Petrobras e a gente espera que analisem a questão o mais rápido possível”, destacou. >
No estado de Sergipe, a ação foi movida pela Sergipe Energias Renováveis e Gás (Sergás), contra a Petrobras, cujo contrato, semelhante a ES Gás, também vence no dia 31 de dezembro.>
Em decisão do dia 25, a juíza plantonista Érica Magri Milani deferiu a suspensão do reajuste. “Tendo em vista a peculiaridade do conteúdo dos autos defiro parcialmente a tutela antecipada para determinar que a Petrobras mantenha o fornecimento de gás natural à Sergipe Energias Renováveis e Gás S.A. (Sergás) nos exatos termos do contrato atualmente vigente, pelo prazo de 06 (seis) meses a partir de 01/01/2022”.>
Em Alagoas, a ação foi movida contra a petroleira pela Gás de Alagoas S/A (Algás). Em decisão do último dia 25, o juiz Pedro Jorge Melro Cansanção também manteve o atual contrato, sem reajuste. “Mantenha o fornecimento de gás natural destinado aos usuários de gás canalizado no Estado de Alagoas, distribuído pela demandante, nas mesmas condições de preço e faturamento previstas no contrato de compra e venda de gás natural mantido entre as partes e vigentes na data da propositura deste pedido”.>
Situação semelhante também ocorreu, segundo Jasson, com os Estados do Ceará e do Rio de Janeiro.>
Para o jornal O Globo, a Petrobras informou que vai recorrer de liminares judiciais que suspenderam reajustes do preço do gás natural negociado com distribuidoras em alguns Estados. >
De acordo com a Petrobras, a empresa vai ajuizar "recursos e ações cabíveis com vistas ao estabelecimento de preço de mercado para a venda do gás". A empresa acusa as distribuidoras de buscar "vantagem" com os processos.>
A situação vem se agravando desde outubro, quando as negociações para a renovação dos contratos de gás canalizado começaram e a Petrobras propôs reajustes de até 300%, com o argumento do aumento do preço do dólar e do barril do petróleo.>
A situação gerou um impasse com várias distribuidoras estaduais de gás canalizado, incluindo a ES Gás, que iniciou um longo processo de negociações.”Também fizemos consulta a concessionárias estaduais congêneres que se encontram na mesma situação para 2022. Foram consultados, também, organizações não-governamentais representativas da indústria do gás, à exemplo da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado) e da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres).>
O Estado recorreu ainda ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Foi questionado o entrave que impede a participação de outras empresas, em igualdade de condições com a Petrobras no acesso às chamadas infraestruturas essenciais (infraestrutura de escoamento e/ou de processamento e/ou de transporte) e que as impossibilitaram de firmar compromisso com a ES Gás para trazer o gás até o ponto de entrega à concessionária (citygates) na data requerida no edital”, explicou em nota a ES Gás.>
O aumento decorre de mudanças na metodologia de cálculo do preço da molécula de gás natural pela Petrobras que deixaram o insumo distribuído pela ES Gás mais caro. Isso porque a petroleira adotou uma majoração para novos contratos negociados com as concessionárias estaduais. >
No total, 68,7 mil consumidores do Espírito Santo serão afetados, sendo 67,9 mil clientes residenciais, e os demais, CNPJs, como indústrias, comércios, entre outros. Também entra nesta conta o gás natural veicular (GNV).>
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