> >
Empresas assumem compromisso de não demitirem durante a pandemia

Empresas assumem compromisso de não demitirem durante a pandemia

Movimento nacional reúne grande companhias, algumas com atuação no Estado, que se comprometeram a manter os empregos por pelo menos 60 dias durante a crise da Covid-19

Publicado em 18 de abril de 2020 às 15:12

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Data: 20/12/2019 - Linha de produção de tissue na unidade Mucuri da Suzano Papel e Celulose.
Linha de produção na unidade Mucuri da Suzano Papel e Celulose. (Ricardo Teles/Suzano)

Uma campanha nacional tem mobilizado empresas em todo o país para evitar demissão em massa de trabalhadores durante a pandemia do coronavírus. A previsão é de que o movimento “Não demita” salve mais de 2 milhões de postos de trabalho em todo o Brasil.

Ao todo, já são mais 4 mil organizações que se comprometeram a não fazer corte na folha de pagamento por pelo menos dois meses. A ação conta com várias empresas de grande porte nos mais diversos segmentos, com atuação inclusive no Espírito Santo, como a Suzano, MRV, Santander, Lojas Renner, Vivo, Itaú e Weg.

Magazine Luíza, C&A, Natura, O Boticário e JBS também fazem parte da ação, entre outras. O documento assinado pelas organizações não tem valor jurídico, pois possui apenas caráter simbólico. Um dos idealizadores do projeto é o presidente do Conselho da Ânima Educação, Daniel Castanho. Segundo ele, a iniciativa trata-se de uma corrente positiva em que a empresa se compromete na manutenção do emprego de seus colaboradores.

02/04/2020 - Na avenida Expedito Garcia, Campo Grande, grande número de pessoas na rua(Vitor Jubini)

“O número de empresas que se interessaram nessa ação foi muito além das expectativas, que se transformou em um movimento. A responsabilidade do empresário agora é fazer com que o impacto na economia seja o menor possível”, disse o empresário em uma entrevista ao Estadão.

Outra empresa que lidera o movimento, e com atuação no ES, é a Suzano, que tem uma unidade em Aracruz e que vai construir uma fábrica de papel em Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Estado. Em entrevista ao vivo na redes sociais para o Estadão, o presidente da organização, Walter Schalka, afirmou que a empresa decidiu não dispensar funcionários desde o início da crise.

“Tomamos uma decisão muito clara de não demitir. Somos uma empresa privilegiada, que exporta parte significativa dos volumes produzidos para o exterior, basicamente de itens para fins sanitários. Isso representa 61% do volume total de nossa produção. Achamos positivo não demitir e apoiamos o movimento, mas entendemos aqueles que precisam fazer cortes como modo de sobrevivência. A Medida Provisória do governo federal ajuda a dar uma maior flexibilidade às empresas para sustentar o emprego. À medida que as coisas caminharem, elas vão preferir ficar com os colaboradores, porque se preparam melhor para o pós-pandemia”, explicou o executivo.

A Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) Brasil é uma das apoiadoras do movimento “Não Demita”. A vice-presidente da entidade e presidente da Federação Mundial das Associações de Recursos Humanos, Leyla Nascimento, destacou que, no momento atual, é necessário preservar vidas como um todo, não só no isolamento social, mas também na questão profissional.

“A campanha alerta que o mais importante, além dos negócios de uma empresa, é preservar as pessoas e seus empregos. Demitir é uma decisão de curto prazo e pode gerar dificuldades ainda maiores para a retomada, após acabar o período de isolamento. Então, chegará a hora que a companhia vai precisar de toda a força de trabalho para se recuperar”, comentou a executiva.

Ela ainda fez um alerta para que os empresários e executivos não coloquem a culpa na pandemia, caso os negócios já não estavam indo bem.

“Algumas não estavam fazendo o dever de casa e se dizem prejudicadas por conta da crise. Este é um momento de se pensar e refletir sobre os modelos de negócios. Com todo esse cenário, será impossível continuar o mesmo. A campanha mostra um novo olhar para planejar e juntar esforços para atravessarmos esse período da melhor maneira possível”, ressaltou Leyla.

O psicólogo Elias Gomes avaliou o movimento como uma mensagem positiva e de esperança para diversos trabalhadores brasileiros.

“Isso mostra que cada um está fazendo a sua parte. Além da preocupação com a saúde, não demitir demonstra uma preocupação com o futuro. Algumas empresas vão abrir mão de outras coisas para preservar esses empregos e, no futuro, vão ganhar muito  mais como reputação e credibilidade”, afirmou Gomes.

A psicóloga e especialista em carreira Gisélia Freitas ressaltou que há várias alternativas para os empresários não precisarem demitir, como antecipação de férias, redução de salários e carga horária, trabalho em home office, entre outras. Segundo ela, demitir significa ter um gasto ainda maior do que manter um profissional trabalhando em casa.

“O melhor caminho é ser otimista, buscar informações e lembrar que o que estamos passando é passageiro. Dispensar um funcionário agora é precipitado. O momento é de pensar no negócio, manter a produtividade, se reiventar e manter a equipe motivada. É possível fazer outros cortes que não sejam o de funcionários”, observou.

O QUE DIZEM ALGUMAS EMPRESAS SOBRE A CAMPANHA

SUZANO

O presidente da organização, Walter Schalka, afirmou que a empresa tomou a atitude de não dispensar o funcionário desde o início da crise. A companhia é uma das incentivadoras do movimento “Não Demita”.

“Tomamos uma decisão muito clara de não demitir. Somos uma empresa privilegiada, que exporta parte significativa dos volumes produzidos para o exterior, basicamente de itens para fins sanitários. Isso representa 61% do volume total de nossa produção. Achamos positivo não demitir e apoiamos o movimento, mas entendemos aqueles que precisam fazer cortes como modo de sobrevivência”, explicou o executivo.

MRV

A MRV, que atua no setor da construção civil, firmou o compromisso de garantir que seus colaboradores diretos tenham estabilidade no emprego nos próximos 60 dias. A empresa informou que, com esse pacto, garante que nenhum colaborador seja demitido durante o período de pandemia.

“O nosso time continua sendo um valor inegociável, mesmo diante dos desafios que enfrentamos neste momento”, diz presidente dda MRV, Rafael Menin.

Ele ressaltou que a empresa teve uma gestão financeira conservadora o que dá conforto em tempos de crise. O executivo contou que cerca de 85% das obras estão funcionando e os escritórios estão trabalhando com 80% dos trabalhadores de home office, logo não há motivo para demissão.

“Em um momento tão complexo como esse temos obrigação de contribuir para a manutenção dos empregos e da renda da população. O momento é de prevenção e tratar o assunto com a seriedade que ele merece. Temos certeza que passaremos este momento ainda mais fortalecidos, com a colaboração e união de todos e teremos uma nação muito mais unida em prol do bem comum”, disse Menin.

Segundo ele, as ações coletivas com os clientes foram canceladas e os atendimentos estão sendo individualizados. Nas obras, as pessoas do grupo de risco foram afastadas e os demais operários estão sendo monitorados e verificados diariamente, além das diversas ações de segurança do trabalho que estão sendo implementadas em todas as obras.

WEG

O presidente da WEG, Harry Schmelzer Jr., lembrou que este é o momento de unir esforços para mitigar ao máximo possível os efeitos da crise na vida das pessoas. De acordo com o executivo, a prioridade é implantar protocolos para assegurar a proteção à vida, mas também trabalhar para reduzir os impactos econômicos.

“Assim como sempre fizemos em outros momentos difíceis, usaremos todas as ferramentas cabíveis para enfrentarmos essa crise procurando manter os empregos dos nossos colaboradores”, destacou o presidente.

SANTANDER

Em comunicado, o Santander Brasil informou que, “como medida adicional para mitigar as incertezas do momento atual, não iniciará nenhum processo de demissão em todo o território nacional durante o período mais crítico da epidemia da Covid-19, à exceção de casos de justa causa ou de violação do Código de Ética da organização.”

VALE

A Vale não faz parte do movimento “Não Demita”, mas também está num esforço para manter os empregos. Em entrevistas recentes, executivos da mineradora afirmaram que demissões e medidas como a redução de salários e jornadas não estão no radar.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais