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A fraude por trás das sementes misteriosas que chegam ao ES

A fraude por trás das sementes misteriosas que chegam ao ES

Conhecida como 'brushing', tática melhora a reputação de lojas e produtos on-line com avaliações falsas, mas depende de envio de encomendas para validar pedidos

Publicado em 2 de outubro de 2020 às 11:47

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Semente chinesa
Saky Martins recebeu sementes da China no lugar de produtos que havia comprado. (Vitor Jubini)

Pacotes com sementes de origem não identificada – enviados junto a alguma encomenda, ou de forma aleatória  – vindos países asiáticos, em especial a China, vem se espalhando por diversos Estados do país, inclusive o Espírito Santo. Os acontecimentos levaram as autoridades a alertarem para que o material não seja aberto e, em hipótese alguma, plantado.

A fraude por trás das sementes misteriosas que chegam ao ES

Uma das possibilidades é de que as sementes possam conter pragas capazes de atacar lavouras, ou mesmo estarem contaminadas com algo nocivo à saúde de quem manusear. Nesta semana, vários consumidores do Estado falaram ter recebido os grãos misteriosos, como a Saky Martins.

Nos últimos dias, entretanto, novas teorias vêm surgindo. Uma delas, que vem sendo estudada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, aponta para a possibilidade de que as encomendas indesejadas estejam relacionadas a uma fraude conhecida como "brushing".

A técnica consiste, basicamente, no envio de mercadorias não solicitadas com o objetivo de registrar compras falsas. A semente, neste caso, simplesmente serviria para não deixar o pacote vazio. 

Utilizando informações obtidas por meio de falhas de segurança em sites de e-commerce conhecidos como "marketplace", que vendem produtos de diversos lojistas, golpistas fazem pedidos falsos e enviam, no lugar, um item com peso leve e valor pouco significativo – como as sementes –, simplesmente para que possam forjar uma avaliação do produto que realmente querem vender.

Geralmente, esses sites obrigam os vendedores a registrar um código de rastreamento em cada pedido, então os golpistas se veem obrigados a enviar algum produto, em vez de simplesmente efetuarem um pedido que nunca chega.

O golpe ajuda a alavancar as vendas, muito embora o consumidor seja levado à compra pela falsa impressão de que está adquirindo um produto de qualidade, bem recomendado. 

A tese explicaria por que as autoridades até agora não encontraram sinais de tentativas de bioterrorismo ou contaminação. A Embaixada da China no Brasil, inclusive, chegou a emitir um comunicado dizendo ter percebido indícios de fraude nos pacotes com sementes de plantas enviados ao Brasil por via postal.

Além de o transporte de sementes ser vetado pelos Correios da China, etiquetas nas embalagens continham erros.

O que diz a Embaixada da China

"Soubemos por nota do Ministério da Agricultura e pela imprensa que brasileiros de diferentes partes do país têm recebido pacotes contendo sementes de plantas e que alguns desses pacotes trazem etiquetas com ideogramas chineses. Sementes são artigos de envio proibido ou restrito para os países membros da União Postal Universal (UPU). 

Os Correios da China seguem rigorosamente as disposições da UPU e vetam o transporte postal de sementes. Uma verificação preliminar constatou que as etiquetas de endereçamento apresentam indícios de fraude, com erros no código de rastreamento e em outros dados. A Embaixada está disposta a cooperar com a investigação das autoridades brasileiras."

Sementes misteriosas

CASO AINDA ESTÁ SENDO INVESTIGADO

Apesar de ainda não terem sido identificados problemas com as sementes, a orientação oficial ainda é de que, caso o consumidor receba algo deste tipo, encaminhe às autoridades responsáveis. O caso ainda está sendo investigado pelo Ministério da Agricultura, que tem enviado as amostras recebidas para análises técnicas no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Goiânia. 

Por enquanto, a orientação é para que as pessoas que receberem as mercadorias não solicitadas não abram o pacote e nem plantem as sementes. 

Moradores do Espírito Santo que receberem sementes sem pedir, principalmente em remessas internacionais, devem entrar em contato com a Superintendência do Ministério da Agricultura no Estado pelo telefone (27) 3137-2700.

Um alerta semelhante também foi emitido pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), que orientou para que os consumidores que receberem pacotes de sementes não solicitados entreguem o produto, lacrado, em uma das unidades do órgão para a destinação adequada.

O Idaf reforçou que a importação de vegetais sem autorização pode facilitar a entrada de pragas ou doenças que não existem ou estão erradicadas no país, além de causar prejuízos econômicos.

SEMENTES PRECISAM DE CERTIFICAÇÃO PARA SEREM IMPORTADAS 

O Ministério da Agricultura destacou que a entrada de sementes no Brasil só pode vir de fornecedores de países com os quais o Mapa já tenha estabelecido os requisitos fitossanitários. Esse material deve ser certificado pelas autoridades fitossanitárias do país exportador.

Antes de autorizar a importação da semente de determinado país, a pasta realiza análise de risco de pragas para identificar quais podem ser introduzidas por aquelas sementes. A partir disso, ficam estabelecidas medidas fitossanitárias a serem cumpridas no país de origem para minimizar o risco de introdução de novas pragas no Brasil por meio da importação desse material.

A importação de vegetais sem autorização pode facilitar a entrada de pragas ou doenças que não existem ou estão erradicadas no país, além de causar prejuízos econômicos. Para evitar o risco, o Mapa afirma que atua no controle do e-commerce internacional com equipe dedicada a fiscalizar e impedir a entrada de material sem importação autorizada no país.

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