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Vídeo: vermes aquáticos aparecem na Praia de Camburi, em Vitória

Vídeo: vermes aquáticos aparecem na Praia de Camburi, em Vitória

Segundo o secretário de Meio Ambiente, Ademir Filho, tratam-se de poliquetas, que vivem no ambiente marinho e raramente aparecem em regiões tão rasas

Publicado em 24 de junho de 2020 às 22:42

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Praia de Camburi cheia de poliquetas na manhã desta quarta-feira (24)
Praia de Camburi cheia de poliquetas na manhã desta quarta-feira (24). (Internauta)

Uma grande quantidade de animais que pareciam larvas foi vista na manhã desta quarta-feira (24) na Praia de Camburi, em Vitória. Um internauta registrou os bichos rastejando na areia, mas, segundo o Secretário de Meio Ambiente de Vitória, Ademir Filho, se tratam de Poliquetas.

O secretário explicou que as Poliquetas são espécies de anelídeos marinhos que vivem na areia, mas não costumam habitar uma região tão rasa. Segundo Ademir Filho, foi possível flagrar os animais por conta de um fenômeno chamado Maré de Sigízia.

"É um fenômeno passageiro, que aconteceu por conta da Maré de Sizígia, um alinhamento entre a Terra, o Sol e a Lua no qual há alterações maiores na maré. Temos picos de maré muito altas e picos de maré muito baixas. Então, durante esse pico de maré muito baixa, expõe a fauna marinha. Por isso apareceram mais naquele ponto", informou.

De acordo com o secretário, as poliquetas são parte importante da cadeia alimentar de peixes, arraias e até pássaros, quando ficam expostas na areia. O motivo pelo qual havia uma quantidade tão grande, porém, é desconhecido. "Por algum motivo que desconhecemos, teve algum fenômeno que fez com quem se reproduzissem muito ali naquele ponto", disse.

BIÓLOGOS ANALISAM PRESENÇA DE POLUENTES

Para Karla Gonçalves da Costa, bióloga com doutorado em Oceanografia Biológica pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a presença das Poliquetas é bastante comum em qualquer tipo de ambiente marinho, sejam eles mais fundos, rasos, frios ou quentes, no entanto, a grande quantidade que apareceu em Camburi é preocupante.

Para a professora, a presença dos bichos em tamanha quantidade é uma resposta para algo que está acontecendo na região. Segundo Karla, o despejo de poluentes pode ser uma justificativa para a presença das Poliquetas na quantidade que foi vista na praia, já que algumas espécies podem se alimentar da matéria orgânica.

"Alguma coisa aconteceu para ter aumentado a quantidade. Podem ter chegado larvas, já que as Poliquetas possuem uma fase larval no seu desenvolvimento, e se adaptado muito bem ao local. Tem que saber que espécie que é para entender do que eles se alimentam, já que as Poliquetas têm uma diversidade muito grande de hábito alimentar, desde predadores carnívoros até os que comem detritos, matérias orgânicas. Geralmente, quando há muitos assim, se alimentam de matéria orgânica. Sabendo a espécie, podemos tentar interpretar a situação", disse.

Ainda de acordo com Karla Gonçalves, a presença das Poliquetas pode estar relacionada com poluentes despejados na água, como esgoto. Ela explica que, por se alimentarem de matéria orgânica, quanto mais esgoto é despejado, mais espécies são atraídas para o local.

"Tem Poliquetas filtradores que comem as pequenas partículas que ficam na água. Se tiver uma fonte de esgoto, geralmente aparece um monte de espécies oportunistas e há uma abundância sim, porque favorece as que gostam de se alimentar dessas partículas", informou.

"Quanto mais abrigada é a praia, mais favorece a presença das Poliquetas. Elas gostam de ambientes mais parados, com água mais calma. Isso não quer dizer que não existam em praias mais agitadas, a abundância é que muda. Eu nunca tinha visto isso no Estado, nunca soube de um caso assim aqui. Isso não é uma situação normal, porque se fosse, existiriam outros registros", afirmou.

DESCONTROLE AMBIENTAL

O biólogo marinho Daniel Motta, que trabalha na Ethica Ambiental, empresa especializada em análises e estudos laboratoriais ambientais, recolheu uma amostra da areia da Praia de Camburi onde as Poliquetas estavam. Para Daniel, esse "bloom", como é chamado quando há uma quantidade volumosa de uma espécie na região, indica um desequilíbrio ambiental.

"Como está em Maré de Sigízia, a maré sobe muito e também recua muito. Nesse recuo, esses bichos ficaram evidentes, mas, nessa quantidade volumosa, que chamamos de 'bloom', é algo que nunca vi na vida. Todo 'bloom' é algo que está em descontrole no meio ambiente. Se há um 'bloom' dese animal, então há um desequilíbrio."

Daniel informou também que as Poliquetas são animais cosmopolitas, ou seja, que vivem em qualquer lugar do mundo. Além disso, são importantes indicadores ambientais e podem oferecer informações sobre a qualidade da água. A relação da presença das Poliquetas com o engordamento da praia ou com presença de poluentes, porém, varia conforme a espécie, segundo Daniel.

"Ainda devo analisar o animal pra saber qual é e, pela ecologia dele, saber se o ambiente está poluído ou não. Pode ser pelo engordamento da praia, podem ser vários fatores. Ainda não há dados conclusivos, não posso dar certeza", informou.

Para Daniel, porém, o fato de a areia coletada para a obra de engordamento ter sido de um local poluído pode ter favorecido o surgimento das Poliquetas. Segundo ele, uma sedimentação mais fina é um ambiente melhor para os bichos.

"Eles coletaram areia na boca do valão, basicamente, da Baía de Vitória, pegaram a lama e colocaram na areia da praia. Essa diferença na sedimentação pode ter levado as Poliquetas, porque são partículas mais finas de sedimento, que são mais favoráveis para elas. Naquele local da Praia de Camburi, o sedimento está fino e lamoso, então essa espécie de Poliqueta prefere esse tipo de sedimento", afirmou.

Foto da parte anterior da espécie de Poliqueta encontrada na Praia de Camburi
Foto da parte anterior da espécie de Poliqueta encontrada na Praia de Camburi. (Daniel Motta)

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