Publicado em 26 de julho de 2022 às 20:08
Autoridades do mundo inteiro já demonstram preocupação com o avanço da varíola dos macacos, também conhecida como Monkeypox. No final de semana, a doença foi classificada como "emergência global" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), acendendo um alerta também no Espírito Santo sobre a importância de controlar o problema, por meio do rastreamento dos pacientes infectados e também com a possibilidade de vacinar a população.>
Até o momento, o Brasil já tem 813 casos confirmados da doença, segundo dados divulgados nesta terça-feira (26) pelo Ministério da Saúde. O número representa um aumento de 33% em comparação com a última sexta-feira (22), quando havia 607 diagnósticos confirmados em todo o país. No Espírito Santo, são dois confirmados e três em investigação. Aproximadamente 75 países também têm registros da Monkeypox.>
O gerente de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), apontou a preocupação com o rastreamento da população infectada, já que os dois casos confirmados no Espírito Santo tinham histórico de viagens para o exterior ou para outros estados brasileiros.>
"O que se tem pedido é um monitoramento nas portas de entrada. Durante a investigação que se faz no primeiro atendimento, precisamos olhar se o paciente infectado veio de avião, ônibus ou carro próprio, para que a gente consiga encontrar as pessoas com quem ele teve contato. Mas ainda não temos nenhuma ideia de fechar barreiras. Neste momento, estamos nos baseando na investigação e no rastreamento de contato", detalha Orlei. >
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O gerente destaca que não há evidências de que exista uma transmissão local da varíola dos macacos no Estado. E lembra que o governo do Estado atualmente está investindo na capacitação de profissionais para impedir que a doença se espalhe. >
"Como é uma doença nova, estamos preparando a nossa rede assistencial. Visamos à capacitação de médicos da atenção primária, do setor de pronto atendimento e da urgência, para que a gente consiga detectar de forma mais precoce possível a doença", ressalta.>
Com a declaração de "emergência global" pela OMS, espera-se o surgimento de novos acordos mundiais para acelerar o combate à doença. A expectativa é que negociações entre empresas e governos para a aquisição de insumos sejam facilitadas, segundo explica a epidemiologista Ethel Maciel. >
"Por termos apenas uma empresa que gera a vacina, na Dinamarca, a produção global ainda é muito pequena. Com a OMS declarando emergência global, é possível que acordos multilaterais, inclusive para a produção da vacina em outras empresas, possam ser expandidos para outro países e outros fabricantes", afirma.>
A epidemiologista também alerta para a possibilidade de uma declaração parecida no País, ainda nesta semana. "Acredito que também seja declarado emergência de saúde publica no Brasil, para que a gente possa fazer contratação de profissionais, treinamento de pessoal, diagnóstico, entre outros", completa. >
Atualmente, são aplicadas duas vacinas: uma específica fabricada na Dinamarca e a da varíola humana, utilizada até a década de 1970, quando a doença foi erradicada. Dados da OMS mostraram que a vacina da época tem até 85% de eficácia contra a versão que circula agora.>
O órgão internacional, porém, desaconselhou a vacinação em massa como forma de controlar o surto fora de países endêmicos. Recomenda-se somente imunização de profissionais da saúde, como aqueles de ambiente hospitalar ou de laboratório, ou de quem teve contato com pessoas infectadas. >
"Nós vemos a Europa e os Estados Unidos já iniciando a imunização, tendo medicamentos à disposição da população. Não temos nada disso no Brasil. Precisamos de ações efetivas para que a gente também tenha acesso", critica Ethel.>
Após a declaração da OMS, o Ministério da Saúde informou que já começou a negociar a compra das vacinas no mercado internacional. De acordo com a pasta, as negociações estão sendo feitas de forma global com o fabricante. >
Em nota, o ministério declarou que a vacinação em massa não é preconizada pela OMS em países não endêmicos para a doença, como é o caso do Brasil. >
Já que ainda não há imunizantes disponíveis, o gerente de Vigilância em Saúde da Sesa, Orlei Cardoso, orienta que as pessoas, por enquanto, sigam os devidos cuidados para evitar a infecção: usar preservativos nas relações sexuais, sempre higienizar as mãos e evitar o compartilhamento de objetos e utensílios. >
"Para pensar em uma estratégia vacinal, em grupos prioritários, teríamos que ter isso aprovado na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ter mais elementos pra que a gente consiga fazer estratégia local. Essa discussão ainda está precoce a nível do Ministério da Saúde", pontua Orlei.>
O Instituto Butantan, responsável pela vacina Coronavac contra a Covid-19, também criou um comitê com o intuito de apresentar análises, estudos e propostas sobre a produção de uma vacina brasileira contra a Monkeypox. Foram selecionados nove pesquisadores do instituto, que ficarão responsáveis pelos estudos.>
Uma portaria publicada no final de junho no Diário Oficial de São Paulo, para comunicar a criação do grupo, afirmou que a medida foi tomada "considerando a iminência de um possível surto da referida doença provocada pelo vírus monkeypox".>
No entanto, conforme explica a epidemiologista Ethel Maciel, esse cenário de surto já é registrado no País, que vive uma onda de subnotificações e está vendo apenas a "ponta do iceberg" do problema.>
"Nós só estamos diagnosticando quem está indo ao serviço de saúde. São pessoas que, no geral, têm uma melhor condição financeira e que em qualquer sintoma diferente procuram ajuda. Com o espalhamento da doença, a tendência é que ela atinja todas as classes sociais e faixas etárias. Como não estamos tendo informação efetiva, é possível que muitas pessoas estejam com a Monkeypox, mas não procuram o sistema de saúde", afirma. >
"Felizmente, os casos até agora são de menor gravidade, porque ocorreram, no geral, em adultos jovens e saudáveis. Mas, quando a doença vai se espalhando muito, a tendência é que encontre pessoas mais vulneráveis, como crianças, gestantes e imunossuprimidas, gerando uma maior gravidade", ressalta.>
A varíola dos macacos é transmitida pelo vírus Monkeypox, que pertence ao gênero orthopoxvirus. É considerada uma zoonose viral (o vírus é transmitido aos seres humanos a partir de animais), com sintomas muito semelhantes aos observados em pacientes com varíola, embora seja menos grave. >
Inicialmente, os sintomas incluem febre súbita, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, adenomegalia, calafrios e exaustão, segundo o Ministério da Saúde. Lesões na pele se desenvolvem primeiramente no rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, incluindo os genitais. >
Casos mais leves de varíola podem passar despercebidos e representar um risco de transmissão de pessoa para pessoa, que ocorre por contato próximo com lesões, fluidos corporais, gotículas respiratórias e materiais contaminados, como roupas de cama. >
O contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados deve ser evitado. Luvas e outras roupas e equipamentos de proteção individual devem ser usados ao cuidar dos doentes, seja em uma unidade de saúde ou em casa. >
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