A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) vai participar do teste de um novo medicamento que já tem evidências de boa resposta para a cura da hepatite B. Para isso, pesquisadores selecionaram voluntários que serão acompanhados no tratamento inédito por dois anos.
O estudo é realizado por uma indústria farmacêutica do Reino Unido e abrange 48 países, incluindo o Brasil. No país, a coordenação dos testes é feita pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.
Ao todo, oito centros de pesquisas estão envolvidos na investigação, compreendendo as regiões Nordeste, Sudeste e Sul do território brasileiro.
No Espírito Santo, cerca de 60 participantes se inscreveram como candidatos ao teste. São homens e mulheres diagnosticados com hepatite B crônica há pelo menos um ano e que tomam medicamento para a doença de forma regular por igual período.
Eles vão passar por triagem e exames até que sobrem os dez últimos que tomarão o medicamento.
No estado capixaba, a pesquisa será feita pelo Centro de Infectologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam). A infectologista e coordenadora médica do teste no Espírito Santo, Rúbia Miossi, deu detalhes de como a seleção vai ser feita.
“Procuramos voluntários que se encaixam perfeitamente no perfil do estudo. Para selecionar os dez, serão feitos exames de sangue, eletrocardiograma, exame físico, de pressão, levantamento do histórico clínico… Isso é o que vai dizer se o paciente é candidato ou não ao uso do remédio”, disse.
Depois de definidos, os voluntários vão tomar o medicamento novo por um período de seis meses, e o acompanhamento dessas pessoas será feito por dois anos.
“O remédio é uma injeção. Os pacientes vão continuar tomando o comprimido do qual já fazem uso durante parte do período e, em um dado momento, essa medicação tradicional vai ser suspensa para vermos se o novo remédio tem resposta. A ideia é potencializar a cura sem substituição do medicamento atual, inicialmente, e depois sim extinguir o vírus do fígado”, explicou Miossi.
Segundo a infectologista, o remédio que existe hoje só controla o vírus, não cura.
"O objetivo é que o novo remédio acabe com o vírus para que o paciente não precise mais usar qualquer medicação e também não tenha risco de câncer, porque a hepatite B pode levar à cirrose e ao câncer".
Coordenadora do Centro de Infectologia do Hucam desde 2002, Tânia Reuter considera que a pesquisa representa um grande avanço na busca pela cura da hepatite B. Além disso, afirma que o voluntário de um estudo desta natureza tem a oportunidade de ter um acompanhamento mais constante com uma equipe especializada.
"Os voluntários terão a oportunidade de participar do desenvolvimento de uma nova medicação que já tem evidências de boa resposta quanto à cura da hepatite B e, dessa forma, terão acesso ao medicamento em primeira mão".
De acordo com a Tânia, o Centro de Infectologia do Hucam já participou de diversos estudos voltados para o desenvolvimento de novos medicamentos para hepatites virais.
"Estudos como esses deram origem a medicações disponíveis hoje para o tratamento de hepatite pelo SUS. A gente já conseguiu a cura para a hepatite C, a pessoa usa o remédio por dois, três meses e fica curada. Esse que vamos testar é o primeiro medicamento que vem com essa promessa para a hepatite B", falou.
A hepatite B é uma doença causada por um vírus que ataca o fígado e pode ser transmitida de diferentes maneiras, como a prática sexual desprotegida e o compartilhamento de seringas, lâminas de barbear e outros objetos semelhantes, além da transmissão de uma mãe infectada para o filho durante a gestação ou parto.
Atualmente, é uma doença que não tem cura, mas há tratamentos disponíveis por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), gratuitamente, com o objetivo de diminuir o avanço dela e as complicações causadas aos indivíduos infectados.
“A hepatite B é uma doença mais crônica, o paciente não tem sintomas, às vezes nem sabe que tem a doença. Ela é silenciosa, mas o vírus está ali, vai destruindo as células até provocar um problema mais grave”, disse Rubia Miossi.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, mais de mil casos de hepatite B foram registrados no Estado, somando os últimos quatro anos e os primeiros meses de 2024.
Por Ana Elisa Bassi, g1 ES
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