A atenciosa senhora de 84 anos, de cabelos brancos e sotaque italiano, passaria despercebida em meio às inúmeras pessoas que sobem o Convento da Penha, em dias sem pandemia, em Vila Velha. Ela é Nerina Bortoluzzi Herzog, moradora da cidade canela-verde, foi a modelo para a escultura da Pietá, representação católica de Jesus morto no colo de Maria, exposta no Convento.
Nascida na Itália, Dona Nerina, que é tradutora e escritora, chegou ao Espírito Santo em 1949. "A Itália estava destruída pela Segunda Guerra Mundial. Vim com meus pais e meu irmão para cá, aos 13 anos, para tentarmos melhorar de vida. Um tio meu já morava aqui. Perdemos muitos familiares na guerra, e meu pai também participou. Vimos armas, batalhões e destruições", conta.
Dona Nerina é devota de Nossa Senhora da Penha e conta que tinha apenas 17 anos quando o autor da obra, Carlo Crepaz, amigo da família, pediu autorização ao pai dela para que pudesse modelar para a escultura. A Pietá ficou pronta em 1955 e, desde então, integra o conjunto de símbolos religiosos apreciados pelos devotos. "Também sou devota e já fui diversas vezes ao convento. Poucos sabem dessa relação com a escultura. Eu era uma menina, uma mocinha, não posava por horas, era com roupa toda, era o suficiente para o artista memorizar. A Pietá ficou pronta muito tempo depois que posei", detalhou.
Dona de uma memória invejável, a tradutora contou que também foi modelo para a estátua do imigrante alemão, inclusive usando as vestes da imagem, que atualmente está na Praça Central de Domingos Martins. Uma terceira obra de Carlo Caprez com a participação de Dona Nerina foi a estátua da Professora Ernestina Pessoa, exposta no Parque Moscoso, no Centro da Capital.
A tradutora chegou a fazer um livro, lançado em 2018, onde conta a história da infância, juventude e outros anos dos 71 que está no Brasil. Dona Nerina já retornou à Itália algumas vezes e lamentou a atual situação do país. "Este ano teríamos ido de novo, tenho tios e primos lá, mas com esse problema todo do coronavírus todos estamos impossibilitados de viajar", disse.
A tradutora é discreta, não costuma contar aos que lhe rodeiam sobre a Pietá. "Já estive no Convento da Penha e na Festa da Penha diversas vezes. Tenho uma veneração muito grande por Nossa Senhora, além da fé e da religião animarem as pessoas. Mas agora, na minha idade, acredito que vivo no tempo de outra guerra que é a contra um inimigo invisível, o coronavírus. Precisamos ter fé no que fazemos e pensar em coisas positivas, agora", completou Dona Nerina.
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