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Médicos explicam como a Covid-19 pode evoluir para trombose e AVC

Médicos explicam como a Covid-19 pode evoluir para trombose e AVC

Segundo especialistas, a doença provocada pelo coronavírus se caracteriza por três fases, a dos sintomas gripais, a da pneumonia e a inflamatória, que é quando ocorre inflamação nos vasos sanguíneos

Publicado em 14 de agosto de 2020 às 12:02

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A fisioterapeuta Natane Mendes colhe e anota os dados de um paciente. E' a tarefa diária na UTI
Profissional de saúde acompanha evolução da doença em paciente internado com coronavírus. (Carlos Alberto Silva)

Tosse, febre, coriza. Em muitos casos, os sintomas da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, são esses, semelhantes a um quadro gripal comum. Mas em outros pacientes, a enfermidade evolui para falta de ar e chega a provocar até Trombose Venosa Cerebral (TVC) ou Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC). 

Os médicos explicam que essa evolução da infecção por coronavírus para uma trombose ou AVC não é por acaso e que o agravamento pode ser muito rápido, muitas vezes, levando o doente direto ao coma. Por isso, o acompanhamento constante com especialistas é a melhor forma de prevenção em meio à pandemia da Covid-19, asseguram.

A TVC é uma doença cerebrovascular causada pelo fechamento dos seios venosos ou das veias cerebrais por trombos (coagulação do sangue). De acordo com o neurocirurgião Tiago Madeira,  essa é também uma das causas do Acidente Vascular Cerebral (AVC) - que pode ser o isquêmico (quando a obstrução venosa determina uma redução do suprimento sanguíneo para uma determinada área do cérebro) ou hemorrágico (quando a obstrução venosa determina um aumento da pressão no interior da veia, provocando a ruptura  e extravasamento de sangue para o cérebro).

De acordo com o infectologista Crispim Cerutti, uma das propriedades do novo coronavírus é justamente promover a trombose, que são coágulos de sangue que formam-se dentro de vasos sanguíneos. Esse aumento da coagulação, forma os trombos. 

"Um dos locais onde os trombos se formam é nos vasos cerebrais. Muitas vezes, vemos idosos internados porque tiveram um AVC (Acidente Vascular Cerebral), mas uma parte dos AVCs é resultado dessa trombose dentro de vasos sanguíneos. Como uma das propriedades do vírus é promover a trombose, quem está infectado tem mais probabilidade de formar trombos no cérebro do que quem não está. Além disso, a evolução dele é mais grave nas pessoas com Covid-19", explica. 

O infectologista acrescenta que a manifestação da trombose no organismo é peculiar, já que a doença pode acontecer em várias partes do corpo. Porém, a trombose é mais comum no pulmão e cérebro.

"Uma pessoa pode estar infectada pela Covid-19 e não ter sintomas clássicos da doença, mas já começar a apresentar manifestações da trombose e, só depois, descobrir que está com coronavírus. Os locais em que a trombose age mais frequentemente são pulmão - que pode vir com uma tosse ou falta de ar - e cérebro - que pode começar com uma dor de cabeça, desorientação e vômito", disse.

Cerutti pontua que, diferente da Covid, que costuma se apresentar de forma mais progressiva, os sintomas da trombose tendem a se manifestar de uma vez só e, em alguns casos, a pessoa vai direto para o coma  "Por isso é importante o acompanhamento constante com um médico", frisa. 

FASES

A Covid-19 possui três fases: os sintomas gripais, a pneumonia e a inflamatória, de acordo com o médico cardiologista Henrique Bonaldi. Nesta última fase, considerada mais grave, a doença tem a capacidade de gerar inflamação nos vasos arteriais e venosos - os vasos que levam e trazem o sangue. 

"Nos vasos venosos, quando há vasculite (inflamação), a chance do sangue coagular lá dentro é enorme, causando a trombose venosa - que pode ser no pulmão, intestino, cérebro e outros lugares. É quando as células do sangue acumulam e coagulam dentro do vaso que está extremamente inflamado e o fluxo do sangue não passa mais", explica. 

O médico completa que a trombose e o AVC podem ser uma manifestação da Covid-19 no final da fase dois (pneumonia), entrando na fase três (inflamatória) - ou seja, no estado mais grave da doença, quando o paciente apresenta um quadro que justifique internação na UTI.

Se para uma pessoa sem sintomas de Covid-19, é necessário manter uma rotina de acompanhamento médico, para quem tem sintomas ou já foi diagnosticado com a doença, esse cuidado tem que ser ainda maior para tentar evitar complicações.

"Se a pessoa não foi diagnosticada com Covid, mas apresenta sintomas como febre por mais de três dias, tosse persistente e dificuldade respiratória, tem que procurar um médico porque podem ser indícios de possíveis complicações", alertou Cerutti.

O cardiologista Henrique Bonaldi corrobora e acrescenta que a única prevenção para evitar a trombose ou o AVC como um agravante da Covid-19 é não sendo infectado.  "Se pegar o vírus, tem que torcer para não piorar e ir para UTI, onde a chance de ter complicações é maior. Fora do ambiente hospitalar não há artifício nenhum que reduza os riscos. Infelizmente estamos falando de uma doença nova, que tem muitas perguntas e poucas respostas", pontuou. 

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