A manhã desta quarta-feira (19) foi de debate entre o Ministério Público do Espírito Santo e os advogados que representam Georgeval Alves Gonçalves, acusado de violentar, torturar e colocar fogo no filho Joaquim e no enteado Kauã em 2018. Nessa etapa do júri popular, que começou na terça (18), no Fórum de Linhares, os sete jurados ouvem explanações das duas partes antes de tomarem uma decisão definitiva.
O primeiro a falar foi o promotor de Justiça Claudeval França Quintiliano. Durante uma hora e meia de discurso, ele afirmou que o pastor mentiu na primeira versão que deu do dia dos fatos e debochou do réu, que declarou recentemente não ter entrado nos quarto das crianças em chamas por medo de se queimar e porque tinha asma.
"A sua asma é mais importante que o corpo de duas crianças?", questionou Quintiliano. "A única pessoa responsável pela defesa das crianças era ele, mas ele estava preocupado em queimar os pezinhos", disse, em elevado tom de voz no salão do júri.
Em seguida, mostrou fotos dos corpos das crianças carbonizadas, em uma projeção na parede do fórum, retiradas dos laudos de autópsia feitos pela Polícia Civil. Nesse momento, falou sobre o fato de que a posição dos corpos indica que eles não tentaram fugir e ficaram "torrando" no fogo.
Ele criticou ainda o laudo pedido pela defesa do pastor, que aponta que ele não é psicopata e também não tem “perfil pessoal de autor dos crimes de homicídio, tortura e abuso sexual”. "Essa lambança, esse tipo de coisa é para enganar a sociedade", declarou o promotor.
Em seguida foi a vez da defesa de Georgeval se manifestar, também por uma hora e meia. Os advogados atacaram os laudos periciais produzidos pela Polícia Civil e pelo Corpo de Bombeiros, afirmando que nenhum deles é definitivo em provar que o pastor tenha cometido algum crime.
A acusação justificou a inércia das crianças em não terem fugido do fogo sob a alegação de que os meninos haviam sido torturados. "Gotículas de sangue no banheiro não significam que o sangue era, necessariamente, daquele dia, porque o luminiol aponta apenas a existência de sangue, não a data", argumentou a advogada Florence Rosa, que faz parte da defesa de Georgeval.
"O sangue encontrado no banheiro era do Joaquim, ele tem problema de sangramento nasal, não era sangue de Kauã", ponderou.
Já em relação à proteína PSA encontrada em amostras colhidas dos ânus das crianças, principal indício de violência sexual nos meninos, a defesa disse que o laudo não encontrou material genético de Georgeval na amostra.
O advogado Pedro Ramos, que lidera a defesa, criticou o Ministério Público e os assistentes de acusação por terem dispensado 13 testemunhas de acusação, incluindo os peritos que fizeram os laudos após o incêndio que matou Kauã e Joaquim.
"Não sei por qual motivo dispensaram todos os peritos. Qual o receio da acusação? Retiraram de vossas excelências (jurados) o direito de saber se os laudos são fidedignos. Qual o intento da acusação em esconder provas?", declarou. "O Brasil quer saber o que aconteceu na noite do dia 21 de abril e, ontem, pela acusação, foi retirado esse direito do povo", evidenciou.
A defesa também exibiu aos jurados trechos do filme Justiça em Chamas, que mostra uma história real de um incêndio que aconteceu nos Estados Unidos. O pai, acusado de matar as filhas queimadas, foi condenado à pena de morte. Anos depois, ficou comprovado que ele não era o autor do incêndio.
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