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Georgeval: "Tudo não passa de um engano, eu não assassinei meus filhos"

Georgeval: "Tudo não passa de um engano, eu não assassinei meus filhos"

Pastor foi ouvido na madrugada desta quarta-feira (19). É a primeira vez que ele fala a respeito do caso desde 2018, quando um incêndio matou o filho e o enteado dele

Publicado em 19 de abril de 2023 às 05:34

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Pastor Georgeval deixa Fórum de Linhares após primeiro dia de julgamento
Pastor Georgeval deixa Fórum de Linhares após primeiro dia de julgamento. (Carlos Alberto Silva)

O pastor Georgeval Alves Gonçalves depôs no júri popular na madrugada desta quarta-feira (19). Foi a primeira vez que ele falou publicamente desde o ano do incêndio que vitimou Kauã Sales Butkovsky, 6 anos, e Joaquim Alves Sales, 3 anos, em 2018, em Linhares.  Respondendo às perguntas do advogado de defesa, ele reafirmou diversas vezes que é inocente e que não violentou e nem matou os meninos. Ao ver um vídeo de um dos meninos, chorou bastante.

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Eu tenho uma perspectiva de futuro que eu possa provar minha inocência, pra que eu não deixe esse legado de um monstro, homicida, abusador, porque eu não sou essa pessoa. Tudo isso não passa de um engano, de um erro. Eu não cometi esse crime, não incendiei nada, não assassinei os meus filhos

Georgeval Alves Gonçalves
Réu
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Aos prantos, ele afirmou que ouviu mentiras e recebeu olhares de desconfiança há cinco anos e disse que quis usar o espaço do depoimento para contar sua versão do que aconteceu na madrugada do dia 22 de abril de 2018.

"Fiquei cinco anos preso ouvindo muita mentira. Eu não abusei sexualmente dos meus filhos nem de ninguém. E pra mim dói não poder falar. É a minha vida que está em jogo, a minha vida, minha liberdade, tudo. Se eu não puder falar, me expressar, colocar tudo o que está dentro de mim para fora... Eu não sou essa pessoa. Por mais que eu receba olhares, como se quisesse voar pra cima de mim para me matar. Não só aqui, como no presídio ouvindo, e tendo que ficar quieto. Eu não aguento mais. Se eu soubesse (que seria assim) eu tinha entrado naquele quarto e morrido junto. Meus filhos não vão voltar, o meu ministério não será mais o mesmo", afirmou chorando bastante.

Ele contou novamente a versão que havia dito recentemente para o psiquiatra forense de que não entrou no quarto dos meninos ao perceber o incêndio. Ele reafirmou que teve medo de se queimar e que, por isso, correu para fora da casa para pedir ajuda. A versão é diferente daquela dada inicialmente à polícia em que ele teria aberto a porta do quarto e tateado a beliche onde as crianças dormiam sem encontrá-las.

"Fui ate lá (quarto do s meninos) bati a porta e recebi um vácuo de calor. Eu não entrei no quarto. Fui para a sala, gritei desesperado. Fui tentar voltar pelo corredor e não consegui voltar mais pelo corredor porque tava muito quente, muito calor. Tentei abrir a porta da sala e não estava abrindo, me desesperei, comecei a passar mal com a respiração. Nesse momento fui para a garagem, comecei a andar de um lado pro outro pedindo ajuda. Eu estava desesperado, eu estava com muito medo, com medo de morrer. Eu não sabia qual era a dimensão do incêndio, não sabia que era só no quarto. Saí gritando na rua só de cueca. "

Induzido por pastor

O réu afirmou que deu a outra versão anteriormente porque foi induzido por um pastor da igreja para não parecer omisso e covarde. Segundo ele, havia muitas pessoas dentro e fora da igreja que comentavam sobre a incapacidade de Georgeval em salvar as crianças.

"Eu menti porque as pessoas começaram falar que eu deveria ter entrado, me jogado, feito alguma coisa, que se fosse fulano teria entrado. E os pastores começaram a falar pra mim 'não e bom que você passe essa imagem que você foi covarde, omisso. Fiquei com medo de ser julgado por não ter tentado salvar meus filhos", relatou.

O primeiro dia de júri popular durou mais de 15 horas, começando as 9h45 da terça-feira (18) e terminando as 1h50 da quarta-feira (19). Foram ouvidas quatro testemunhas e o réu. Estavam previstas a oitiva de 17 testemunhas no total, mas em um acordo entre acusação e defesa, 13 delas foram dispensadas.

O primeiro a ser ouvido foi o delegado Romel Pio Abreu Junior, que presidiu o inquérito sobre o caso, e era testemunha de acusação.  Ele narrou o que o pastor disse em depoimento e deu detalhes sobre as reações de Georgeval nos dias imediatamente após o incêndio. O interrogatório durou toda a manhã.

À tarde, foi ouvido o coronel do Corpo de Bombeiros Benício Ferrari, que foi questionado pelo Ministério Público e pela defesa do réu principalmente sobre os laudos produzidos pela perícia da corporação. Segundo Ferrari a perícia constatou que não há a possibilidade de o incêndio não ter sido provocado por ação humana.

Em seguida, foi a vez das duas testemunhas de defesa. Ambos são peritos forenses e deram depoimento por videoconferência. Segundo o psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro, Georgeval não tem doença mental nem psicopatia. Já a psicóloga forense Elise Karam Trindade disse que a análise feita com testemunhas, fotos e desenhos das crianças não demonstra que os meninos tenham sido vítima de violência sexual.

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