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'Foi milagre', diz pai de garoto que se salvou após mais de duas horas no mar da Barra do Jucu

"Foi milagre", diz pai de garoto que se salvou após mais de duas horas no mar da Barra do Jucu

O adolescente Douglas Iúna, de 14 anos, havia desaparecido após entrar na água, durante a tarde desta segunda-feira (21). Mesmo debilitado, ele conseguiu sair do mar e foi socorrido por um morador local

Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 12:20

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Afogamento
O jovem Douglas Iuna conseguiu se salvar após boiar e nadar por mais de duas horas no mar da Barra do Jucu, em Vila Velha. (Reprodução/TV Gazeta)

"Foi milagre". Essas foram as palavras usadas pelo pedreiro George Inácio Iuna para definir o livramento que o filho dele, o jovem Douglas Iúna, de 14 anos, teve após boiar por mais de duas horas no mar da Barra do Jucu, em Vila Velha, e conseguir sobreviver a um afogamento entre o período da tarde e início da noite desta segunda-feira (21).

Pai, filho, e outros amigos, saíram de Cariacica para pescar na região da foz do Rio Jucu. Enquanto o pedreiro pescava, Douglas e o amigo deles, Régis Ferreira Alves, de 33 anos, saíram para dar uma caminhada à beira da praia pela região. Eles, segundo o pedreiro, decidiram entrar na água, contrariando a recomendação dada por George para que não entrassem no mar.

"Eles resolveram sair para dar uma caminhada e eu ainda falei para que não entrassem na água porque é muito perigoso e revolto. Menos de 10 minutos depois, os outros dois amiguinhos dele, um deles filhos do rapaz que foi também (Régis), vieram falar comigo que eles tinham se afogado. Na hora cheguei a brigar com eles, 'vocês não brinquem com isso não'. Aí outro amigo do meu filho Douglas veio falar também que eles haviam se afogado mesmo. Nessa hora eu pensei que havia perdido meu filho e também meu amigo", contou o pedreiro à reportagem da TV Gazeta.

AJUDA DE MORADOR

Enquanto passava por momentos de aflição sem saber como e onde estavam o filho e o amigo, George Inácio também tentou procurá-los pela faixa de areia, mas sem sucesso. A essa altura, Douglas nadava e boiava para se salvar. Por cerca de duas horas e meia o adolescente ficou à deriva no mar da Barra do Jucu, porém conseguiu sair da água e caminhar com muita dificuldade até uma casa. Lá ele encontrou com o vendedor Mário Eugênio Gomes, que o socorreu e ajudou a avisar à família do jovem.

"Abri o portão e vi o garoto vindo da direção da praia pedindo por socorro. Ele falava 'me ajuda, me ajuda' e pedia para ligar para o pai dele. Ele estava com os olhos muito vermelhos, cheio de areia. Aí ele me disse que veio boiando lá da feirinha da Barra. Levei ele para dentro de casa, perguntei se estava com frio, fome ou sede. Ofereci as coisas para ele, depois tomou um banho, se vestiu com uma roupa que demos a ele... minha mãe tinha feito um bobó de camarão e também demos para ele comer", contou.

Afogamento
Douglas, o pai e outros amigos pescavam na região da Foz do Rio Jucu nesta segunda-feira (21). (Reprodução/TV Gazeta)

Com o menino já a salvo, George ligou para o pai de Douglas, no número do aparelho celular do adolescente, que havia ficado com George Inácio. Pouco depois, uma ambulância dos Bombeiros chegou à casa do vendedor e prosseguiu com o atendimento ao adolescente. Por precaução, ele foi levado para o Hospital Infantil de Vila Velha, onde passou por exames.

Nesse meio tempo, o pedreiro se deslocou até a casa do homem que havia encontrado o filho dele e lá pode finalmente respirar aliviado. "Ligaram para o telefone dele que estava comigo e disseram que ele estava bem. Depois eu ouvi a voz dele (Douglas) e viemos para cá. Eu acredito em milagre e no poder de Deus. Se não acreditasse, passaria a acreditar a partir de agora, pois para mim isso com meu filho foi um milagre", disse George Inácio.

O alívio com o final feliz por encontrar o filho a salvo, contrastava com a preocupação em relação ao amigo. Douglas estava na companhia de Régis, que não havia sido localizado até o período em que permaneceram na região da Barra do Jucu.

Afogamento
O pedreiro George Inácio Iuna viveu momentos de agonia sem saber se o filho estava vivo após desaparecer no mar da Barra do Jucu. (Reprodução/TV Gazeta)

Além de prosseguir com o socorro ao adolescente, os Bombeiros também fizeram buscas enquanto havia condições visuais. Em resposta à reportagem de A Gazeta, a assessoria da corporação informou que os trabalhos iriam prosseguir na manhã desta terça-feira (22), mas felizmente não foi necessário.

"A equipe de mergulho realizou buscas até o horário de segurança, mas suspendeu por conta da visibilidade. Posteriormente, o pai da vítima de 14 anos acionou o Ciodes e informou que o filho foi encontrado com vida, na areia. Uma viatura foi deslocada e realizou atendimento médico do adolescente, orientando a ir a uma unidade de saúde. O adulto ainda não havia sido localizado e as buscas seriam retomadas na manhã de hoje (22). Porém, quando a equipe de mergulho estava a caminho, familiares do homem desaparecido entraram em contato com o Ciodes, informando que haviam visto na televisão, que o trabalho seria reiniciado. Eles relataram que o senhor havia retornado para casa ainda na noite de ontem (segunda-feira) e estava bem. Sendo assim, os militares retornaram à base e a ocorrência foi encerrada".

Ainda de acordo com os Bombeiros, Régis havia entrado na água ao notar que Douglas estava se afogando. Na tentativa de tirar o jovem da água, ele acabou também desaparecendo.

"O MAR NOS PUXOU"

Se Douglas ficou por duas horas e meia na água, a situação de Régis foi ainda mais dramática. O ajudante de obras sobreviveu por quase quatro horas na água até conseguir avistar a faixa de areia. Em entrevista ao ES 1, da TV Gazeta, ele explicou que caminhava um pouco mais à frente de Douglas e, ao notar que o garoto se afogava, tentou salvá-lo. A força da água, contudo, o puxou também para o mar. 

Vila Velha
Após desaparecer no mar por 4 horas, Regis Ferreira Alves, de 33 anos, está junto dos filhos em Cariacica. ( Diony Silva/TV Gazeta)

"Estávamos andando pela praia e quando o Douglas andou um pouco para trás a onda puxou ele para o mar. Eu estava olhando meu filho e quando virei ele já estava sendo levado. Eu corri atrás para tentar puxar ele, mas uma onda também me levou para dentro do mar. E aí o mar foi levando a gente.  Você vê a morte na sua frente, a onda te afundando, batendo em cima de você. Mas eu falei que não ia desistir da minha vida. Eu e Douglas lutamos pela vida", contou Régis. 

Inicialmente, Douglas e Régis nadaram e boiaram próximos um do outro, porém foram separados devido à correnteza. "Fiquei com medo de ele se afogar porque ele é pequeno, direto eu tentava puxar ele para o meu lado. Não conseguia ver ele mais. Eu ouvia os gritos de socorro, mas depois não ouvi mais. Achei que ele tivesse morrido", complementou.

O ajudante de obras acredita que tenha saído no mar já na Ponta da Fruta, também em Vila Velha. De lá, ele ainda andou mais duas horas a pé para chegar até um shopping do município, onde conseguiu uma carona com um motorista conhecido para chegar até sua casa, no bairro Castelo Branco, em Cariacica. Quando isso aconteceu, o relógio já marcava 1 hora da madrugada.

"NÃO ENTRE NA ÁGUA"

Esta, de acordo com o capitão Pedroni, é uma clássica situação que ocorre quando pessoas despreparadas tentam socorrer vítimas de afogamentos. Segundo ele, o melhor a ser feito é acionar o resgate pelo número 193 imediatamente, e só se deve entrar na água caso a pessoa tenha preparação para este tipo de salvamento.

"Por mais tenso que seja ver alguém se afogando, nunca se deve entrar na água ao notar alguém se afogando, pois você pode se afogar junto. O que orientamos a fazer é que se disponibilize uma corda, boia, prancha ou algo que a pessoa na água possa se segurar e seja retirada. Além disso, deve-se procurar por salva-vidas e acionar os Bombeiros. Esta é a condição mais segura e evita que a ocorrência torne-se ainda mais grave", salientou o militar.

Pedroni explicou ainda na entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, da TV Gazeta, que não se deve subestimar o mar ainda que se reconheça a região.

"Basicamente as pessoas tendem a acreditar que a habilidade de natação é maior que a capacidade que elas possuem de fato. Além disso, não conhecem as características dos locais onde estão entrando e nadando. Devem perguntar para pessoas conhecidas qual a profundidade do local, se há buracos. Deve-se também evitar locais onde se observe corrente de retorno, pois são muito perigosas. Muitas vezes o local parece calmo, sem ondas, mas tem correntes que puxam e dificultam a pessoa a sair da água", finalizou o capitão dos Bombeiros.

Errata Atualização
22 de dezembro de 2020 às 13:58

Após a publicação desta matéria, que trazia os detalhes sobre como o adolescente Douglas Iúna, de 14 anos, sobreviveu após ficar à deriva por duas horas no mar da Barra do Jucu, em Vila Velha, a reportagem da TV Gazeta conseguiu falar com Régis Ferreira Alves, de 33 anos, que estava com Douglas e também havia desaparecido no mar, e relatou detalhes de como fez para se salvar. O texto foi atualizado com essas informações.

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Com informações de Tiago Félix e Kaique Dias, da TV Gazeta

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