Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 17:05
Um dos últimos segmentos a ter as atividades presenciais liberadas durante a pandemia, as escolas no Espírito Santo foram autorizadas a reabrir em outubro seguindo uma série de protocolos, e desde que estivessem situadas em municípios de risco baixo para a Covid-19. >
Com o aumento de casos da doença, Vitória voltou ao risco moderado e as unidades de ensino tiveram que ser fechadas na última semana, porém, a reação de pais e escolas na Capital levou o governo a rever sua decisão e o retorno presencial foi permitido na última quinta-feira (26). Mas, mesmo com a atual aceleração do contágio, por que a escola hoje é considerada um ambiente mais seguro? Entenda. >
Para começar, a denominação seguro não é sinônimo de imune à doença. O risco de contaminação ainda existe. "É segura dentro de um contexto pandêmico, e sem vacina. Existe risco nesta ou outra atividade. Mas por que suspender esta atividade e nenhuma outra? Para isso, teria que ser algo muito perigoso e temos, hoje, dificuldade de responder afirmativamente: a escola é uma atividade muito perigosa", pontua o secretário estadual da Educação, Vitor de Angelo. >
No começo da pandemia, explica o secretário, a suspensão das atividades presenciais se mostrou mais necessária porque se tratava de um espaço de aglomeração, de presença obrigatória e para o qual não havia protocolos para convivência com a Covid-19. Agora, com medidas de segurança como o distanciamento mínimo em salas de aula e outros ambientes de uso comum, utilização de máscaras e aquisição de insumos para higienização frequente das mãos, Vitor de Angelo ressalta ser possível ter um controle maior da transmissão do coronavírus.>
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"Quando voltamos, e pudemos ver in loco a aplicação dos protocolos, percebemos que a escola não é um ambiente com casos positivos estatisticamente expressivos e, em termos comparativos, superiores a outras atividades. Então, vai fechar por quê? Quando fecha, dá a entender que foi a responsável pela piora e ainda cria a falsa expectativa de que, se fechar a escola, o município vai voltar para o risco baixo", argumenta o secretário. >
Apesar dos argumentos, os sindicatos que representam professores e servidores da Educação se mostraram contrários à mudança nas regras que liberou o funcionamento de escolas em municípios de risco moderado. >
Vitor de Angelo ressalta que, além de não haver, no momento, indicadores que coloquem a escola como uma atividade de risco elevado para a Covid-19, a educação é fundamental e, mesmo faltando pouco tempo para o encerramento do ano letivo, o retorno presencial contribui positivamente para o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que muitos alunos demonstram um certo cansaço das aulas mediadas exclusivamente pela tecnologia. "Se não houver razões realmente fortes para fechar, não vamos", reafirma.>
Para Vitor de Angelo, as medidas adotadas nas escolas ainda podem favorecer a disseminação de protocolos de segurança no ambiente externo à instituição de ensino para aquelas famílias que, por exemplo, não fazem uso adequado de máscaras ou não praticam o distanciamento social. >
Intensivista e cardiologista, Henrique Bonaldi também não vê razões, atualmente, para suspender as atividades presenciais nas instituições de ensino. "O serviço aberto hoje que tem mais rigor e controle é a escola", avalia. O médico, entretanto, faz algumas ressalvas em relação à Covid-19 para que a população entenda que o risco não está eliminado. >
"Temos pouquíssima dimensão hoje de que doença é essa. Se um paciente tem cálculo renal, eu sei sinais e sintomas, exames para realizar, qual a melhor terapia, sei atender no pronto-socorro ou se estiver internado. Eu domino a doença. Na Covid, eu não domino, não tenho ideia de diagnóstico, de 30 a 40% do meu melhor teste não enxerga o vírus e dá falso negativo, não tem terapia específica, não há certeza de quase nada", aponta. >
Da Covid-19, diz Bonaldi, o que se sabe é que a contaminação ocorre por contato. Então, transportando a ideia básica de outras doenças com a mesma forma de contágio, adotou-se como protocolo o distanciamento, a máscara e a higienização frequente das mãos. "Mas nem sabemos se para a Covid faz diferença, embora para todas as outras doenças faça diferença", observa o médico, acrescentando que as escolas implementaram essas e muitas outras medidas para que tivessem autorização para funcionar com atividades presenciais. >
Na avaliação de Bonaldi, ao cumprir metas rigorosas como as estabelecidas pelas Secretarias de Estado da Saúde (Sesa) e da Educação (Sedu), as escolas apresentam um ambiente mais seguro que um estabelecimento comercial, por exemplo, onde não há exigência de aferição de temperatura ou tapetes sanitizantes; ou que o parquinho da pracinha, que não passa por higienização de superfície com frequência; ou mesmo da praia em dias que não dá para praticar o distanciamento. >
"Mas sem risco nenhum só mesmo para quem está há oito meses trancado em casa porque o vírus não vai chegar pela janela, nem pela água", conclui. >
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