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Publicado em 7 de abril de 2023 às 08:23
O cardápio do almoço da Sexta-feira da Paixão no Espírito Santo tem sempre um gostinho para lá de especial, afinal, é dia de saborear a tradicional torta capixaba. Mas nos lares católicos, não só do Estado, o costume de se comer peixe nessa data tem um significado que passa longe de ser apenas um aspecto cultural. Tem o objetivo de lembrar o sacrifício de Jesus.
"É um respeito frente à paixão do Nosso Senhor", explica o coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Vitória, padre Claudio Moreira. Segundo ele, não comer carne é uma forma de penitência, que tem como referência a crucificação de Jesus que, de acordo a Bíblia, aconteceu numa sexta-feira.
Esse gesto de renúncia é, para os católicos, uma forma de aproximar os fieis de Deus, experimentando restrições de prazer. "Sentimos na carne um pouco da privação, pois o Senhor passou por privações", disse o padre Claudio.
A tradição segue viva até os dias de hoje. Como já existe há quase 2 mil anos, foi se adaptando com o tempo. Atualmente, a igreja incentiva, também, obras de caridade, principalmente para fiéis que precisam comer carne vermelha.
Por ser uma tradição muito antiga, não dá para dizer a data certa em que foi instituída. Existem relatos históricos da Igreja Católica que apontam para o Século 3°. Tertuliano, um escritor cristão que viveu entre os anos de 160 e 220 depois de Cristo, no Norte da África, falava da penitência na Quaresma, incluindo a Sexta-feira da Paixão, em seus livros "De Fuga in Persecutione" e "De Corona Militis".
Um livro mais conhecido e que pode ser encontrado em livrarias e na internet é "História Eclesiástica", de Eusébio de Cesaréia, um historiador da Igreja do Século 4°. Na obra, ele registrou a prática do jejum e da abstinência de carne durante o período que precede a Páscoa.
Há registros sobre o tema em uma das reuniões cristãs mais importantes da história: o Concílio de Niceia, realizado no ano de 325 depois de Cristo. Cerca de 1.800 bispos se reuniram na primeira tentativa de unificar as tradições cristãs. Já naquela época, o concílio recomendou a prática do jejum e da abstinência de carne durante o período da Quaresma e, consequentemente, da Sexta-feira da Paixão.
E se o nome do concílio lhe fez lembrar de histórias sobre bibliotecas secretas e conspirações, é bom dizer logo que todas essas informações estão disponíveis no site do Vaticano. A Santa Sé disponibiliza um vasto acervo com arquivos, livros e até manuscritos que podem ser consultados.
O Papa Francisco divulgou sua mensagem para a Quaresma de 2023, que também pode ser acessada no site do Vaticano. No texto, o Papa destaca a importância de escutar Jesus e servir os irmãos necessitados como "veredas" para seguirmos durante a Quaresma.
Embora o documento - este ano - não mencione explicitamente o jejum ou a penitência, Francisco fala da transformação interior e do serviço aos outros. A mensagem é um convite para que os fiéis se preparem espiritualmente para a Páscoa, buscando uma maior proximidade com Jesus e um compromisso com os mais necessitados.
O padre Claudio também destacou a importância da caridade para os católicos. "Essa penitência é uma oportunidade para que os mais abastados possam experimentar o que nossos irmãos mais pobres passam todos os dias", disse.
Para responder a essa pergunta é preciso, antes, entender como a religião diferencia os tipos de carne. Para isso, vamos recorrer à Bíblia. Na versão católica do livro, São Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, no capítulo 15 e versículo de número 39, escreve: "Nem todas as carnes são iguais. Uma é a dos homens e outra a dos animais; a das aves difere da dos peixes."
Como dito no início, vale destacar que, mesmo peixes, deveriam passar por preparos simples. O significado do costume está ligado ao sacrifício e, para isso, é preciso abrir mão dos prazeres gastronômicos. O padre Claudio também lembra que o peixe promove uma sensação de saciedade por menos tempo, por isso essa proteína é consumida ao invés das carnes de boi, porco, frango, entre outras.
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