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Entenda a tradição católica de não comer carne na Sexta-feira da Paixão

Entenda a tradição católica de não comer carne na Sexta-feira da Paixão

Registros sobre a quaresma estão presentes em um dos eventos mais importantes para a história do catolicismo: o Concílio de Niceia

Publicado em 7 de abril de 2023 às 08:23

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Torta Capixaba produzida por Eliana Santos na Ilha das Caieiras
Siri desfiado, ingrediente da torta capixaba, prato típico da cultura do Espírito Santo na Semana Santa. (Vitor Jubini)
Felipe Sena
Estagiário / [email protected]

O cardápio do almoço da Sexta-feira da Paixão no Espírito Santo tem sempre um gostinho para lá de especial, afinal, é dia de saborear  a tradicional torta capixaba. Mas nos lares católicos, não só do Estado, o costume de se comer peixe nessa data tem um significado que passa longe de ser apenas um aspecto cultural. Tem o objetivo de lembrar o sacrifício de Jesus.

"É um respeito frente à paixão do Nosso Senhor", explica o coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Vitória, padre Claudio Moreira. Segundo ele, não comer carne é uma forma de penitência, que tem como referência a crucificação de Jesus que, de acordo a Bíblia, aconteceu numa sexta-feira.

Festival da Torta Capixaba na Ilha das Caieiras terá prato a R$ 8
Festival da Torta Capixaba na Ilha das Caieiras terá prato a R$ 8. (Vitor Jubini)

Esse gesto de renúncia é, para os católicos, uma forma de aproximar os fieis de Deus, experimentando restrições de prazer. "Sentimos na carne um pouco da privação, pois o Senhor passou por privações", disse o padre Claudio.

A tradição segue viva até os dias de hoje. Como já existe há quase 2 mil anos, foi se adaptando com o tempo. Atualmente, a igreja incentiva, também, obras de caridade, principalmente para fiéis que precisam comer carne vermelha.

Qual é a origem da tradição de não comer carne na Sexta-feira da Paixão?

Por ser uma tradição muito antiga, não dá para dizer a data certa em que foi instituída. Existem relatos históricos da Igreja Católica que apontam para o Século 3°. Tertuliano, um escritor cristão que viveu entre os anos de 160 e 220 depois de Cristo, no Norte da África, falava da penitência na Quaresma, incluindo a Sexta-feira da Paixão, em seus livros  "De Fuga in Persecutione" e "De Corona Militis".

Um livro mais conhecido e que pode ser encontrado em livrarias e na internet é "História Eclesiástica", de Eusébio de Cesaréia, um historiador da Igreja do Século 4°. Na obra,  ele registrou a prática do jejum e da abstinência de carne durante o período que precede a Páscoa.

Há registros sobre o tema em uma das reuniões cristãs mais importantes da história: o Concílio de Niceia, realizado no ano de 325 depois de Cristo. Cerca de 1.800 bispos se reuniram na primeira tentativa de unificar as tradições cristãs. Já naquela época, o concílio recomendou a prática do jejum e da abstinência de carne durante o período da Quaresma e, consequentemente, da Sexta-feira da Paixão. 

E se o nome do concílio lhe fez lembrar de histórias sobre bibliotecas secretas e conspirações, é bom dizer logo que todas essas informações estão disponíveis no site do Vaticano. A Santa Sé disponibiliza um vasto acervo com arquivos, livros e até manuscritos que podem ser consultados. 

Mensagem do Papa para Quaresma

O Papa Francisco divulgou sua mensagem para a Quaresma de 2023, que também pode ser acessada no site do Vaticano. No texto, o Papa destaca a importância de escutar Jesus e servir os irmãos necessitados como "veredas" para seguirmos durante a Quaresma.

Embora o documento - este ano - não mencione explicitamente o jejum ou a penitência, Francisco fala da transformação interior e do serviço aos outros. A mensagem é um convite para que os fiéis se preparem espiritualmente para a Páscoa, buscando uma maior proximidade com Jesus e um compromisso com os mais necessitados.

O padre Claudio também destacou a importância da caridade para os católicos. "Essa penitência é uma oportunidade para que os mais abastados possam experimentar o que nossos irmãos mais pobres passam todos os dias", disse.

Não pode comer carne, mas pode comer peixe?

Para responder a essa pergunta é preciso, antes, entender como a religião diferencia os tipos de carne. Para isso, vamos recorrer à Bíblia. Na versão católica do livro, São Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, no capítulo 15 e versículo de número 39, escreve: "Nem todas as carnes são iguais. Uma é a dos homens e outra a dos animais; a das aves difere da dos peixes."

Como dito no início, vale destacar que, mesmo peixes, deveriam passar por preparos simples. O significado do costume está ligado ao sacrifício e, para isso, é preciso abrir mão dos prazeres gastronômicos. O padre Claudio também lembra que o peixe promove uma sensação de saciedade por menos tempo, por isso essa proteína é consumida ao invés das carnes de boi, porco, frango, entre outras.

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