
A pandemia do novo coronavírus atrasou o processo de alfabetização das crianças. Essa é a conclusão de especialistas em educação, professores e pais de alunos matriculados em escolas que ministram a educação infantil.
A dona de casa Iris de Carvalho Sá Hoisel é mãe do Antônio, de 4 anos, do Samuel, de 7 anos, e da Maria, de 12 anos. Todos estudaram em casa durante a suspensão das atividades escolares, mas já retornaram às atividades presenciais.
Maria cursa o 6º ano do Ensino Fundamental, Samuel está no 1º ano do Fundamental, enquanto Antônio vive o processo de alfabetização no terceiro período da Educação Infantil.
Com as aulas e atividades remotas, a dona de casa percebeu que o filho caçula não estava desenvolvendo as habilidades de compreensão do alfabeto. Para ajudar no processo, ela colou as letras na parede do quarto do filho.

Iris de Carvalho Sá Hoisel
Mãe do Antônio
"A professora pedia para levantar as hipóteses escritas, Antônio apontava as que não faziam sentido. Vi que ele tinha esquecido as letras do alfabeto. Com a pandemia, ele perdeu a vivência da escola, quando entrava na sala e via as letras, vivia o ambiente escolar e tinha a assistência da professora"
A psicopedagoga e diretora pedagógica, Elaine Santana, explica que alfabetização é um processo iniciado nos quatro meses de vida, quando a criança entra no berçário, e é intensificado aos 3 anos de idade, no primeiro contato com o alfabeto.
Elaine Santana
Psicopedagoga
"A alfabetização é uma etapa extremamente importante na formação e no desenvolvimento de uma criança porque ela encerra o ciclo da educação infantil, que vai de zero a 6 anos"
ATIVIDADES REMOTAS
Com a suspensão das aulas presenciais, em março deste ano, as escolas passaram a ofertar atividades de forma remota. Segundo Elaine, o processo de ensino em casa só é possível quando a criança conta com um adulto preparado para estimular e aceitar os erros que podem surgir.
“Em casa, a criança vai ler e escrever ‘bola’, por exemplo. Se tiver no início da alfabetização, pode escrever o ‘o’ e o ‘a’ porque ‘bo’ tem o valor sonoro de ‘o’ e o ‘la’ valor sonoro de ‘a’. Quando vê isso, às vezes, o adulto fala algumas frases que acabam desestimulando esse processo. Na escola, há um preparo para isso, caso aconteça”, afirma.
A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Educação, Cleonara Maria Schwartz, reforça que os anos iniciais da educação das crianças ficaram muito prejudicados com a suspensão das atividades presenciais devido à pandemia.
Cleonara Maria Schwartz
Doutora em Educação
"A pandemia causou muitos prejuízos à alfabetização das crianças. É um momento em que elas aprendem conhecimentos específicos sobre o sistema de escrita e requer uma mediação do professor alfabetizador"
De acordo com a especialista, as interações entre aluno e professor são fundamentais para que a criança aprenda a categorização gráfica, funcional e as relações entre os sons e as letras. Tudo isso, a partir de um trabalho que envolva a leitura e a produção de textos, de forma oral e escrita.

ASPECTOS NEGATIVOS DA PANDEMIA
A psiquiatra infantil Fernanda Mappa observa que a migração da educação das crianças para dentro de casa trouxe aspectos negativos na expressão das emoções, aumentou sintomas de irritabilidade, ansiedade e apatia. Mas o que isso tem a ver com aprendizado ou alfabetização? A profissional explica.
Fernanda Mappa
Psiquiatra infantil
"Para aprender, precisamos de motivação, isso aumenta o engajamento, o interesse, e facilita o processo de aprendizagem. Crianças se motivam a partir da convivência com pares. Um ajuda o outro no despertar do interesse e a curiosidade"
Para Fernanda, independente da pandemia, os pais devem estimular a leitura desde cedo, inicialmente lendo para seus filhos. Durante o período de maior restrição social, e impedimentos de ida às escolas, ela avalia que o ensino a distância mostrou sua maior fragilidade exatamente na alfabetização.
"As escolas terão que lidar com 'novas crianças'. Crianças, muitas vezes, mais irritadas, menos engajadas para o aprendizado e que precisarão respeitar medidas de distanciamento social e menor mobilidade nos espaços escolares devido às limitações decorrentes da pandemia. Escolas preparadas para melhor controle das emoções de crianças sairão na frente", sugere.
Se você notou alguma informação incorreta em nosso conteúdo, clique no botão e nos avise, para que possamos corrigi-la o mais rápido possível