Nos últimos dias viralizou o vídeo no qual uma passageira sentada perto da asa de um avião da Gol registrou o momento em que uma explosão ocorreu na "turbina" da aeronave. O fato por si só chamou a atenção, porém muitos leitores de A Gazeta questionaram o fato de ter sido usado o termo turbina ao invés de motor. Diante da dúvida, a reportagem foi atrás de respostas sobre esta situação.
Para os entendidos, amantes e pessoas que fazem parte da aviação, o termo correto a ser utilizado é motor, atesta o especialista em segurança de voo e gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, Marcus Nascif.
"A turbina é um dos componentes do motor a jato, como neste caso. Nos aviões turboélices é a mesma situação. Já os motores convencionais não possuem turbina. O nome certo é motor, mas isso é algo muito técnico e específico. Para quem não é do ramo, como demonstra ser o caso desta passageira, tudo ali parece ser uma turbina, por isso ocorre a confusão. Até porque estas aeronaves comerciais são equipadas com motores a jatos com turbinas. De uma forma simples, a explicação seria essa", aponta Nascif.
Dúvidas e nomenclaturas sobre o motor à parte, é preciso deixar claro: voar é seguro e casos como este atestam o nível de segurança da aviação comercial brasileira.
"Antes de se liberar uma aeronave para voo, sempre se considera a possibilidade de falha de motor, principalmente na decolagem, que é o momento mais crítico de um voo (pouso e decolagem). Nos procedimentos operacionais das empresas, os pilotos possuem um treinamento todo voltado para isso e existe um setlist a ser checado. E, diante desta imprevisibilidade, que é algo anormal e impossível de se prever, ainda assim a máquina (avião) é projetada para voar normalmente monomotor (com apenas um) desde que respeitados os parâmetros do fabricante, especialmente em relação ao peso. Voar é extremamente seguro", atesta Nascif.
O especialista cita ainda que, nos momentos que antecedem a decolagem, a aeronave é abastecida com uma quantidade de combustível levando-se em consideração a possibilidade da mesma apresentar uma falha nos motores de tal forma que com apenas um em operação o avião consiga decolar em segurança.
Para se ter uma noção da capacidade das aeronaves, ainda que um motor deixe de operar durante o voo, similar ao ocorrido com o episódio registrado pela passageira, o piloto tem capacidade de manter o controle e retornar ao aeroporto. Até mesmo com todos os motores inoperantes, é possível pousar uma aeronave em segurança, garante Nascif, que já integrou comissões de investigações de acidentes aéreos do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
"Seja por uma perda de potência, ingestão de pássaros ou outra situação, a aeronave não cai como um martelo, nunca. O avião pode perder todos os motores, mas se ele estiver em uma altitude que permita ao piloto manobrá-lo, ele consegue planar e trazer até o aeroporto mais próximo, dependendo da distância que isso ocorra. É comum este pavor nas redes sociais diante de fatos como este porque viram manchetes. Entretanto, isso só ocorre porque são raríssimos. Os níveis de segurança da aviação comercial são extraordinários", explica.
Sobre o episódio com o avião da Gol, Nascif informou que é provável que o mesmo seja classificado pelo Cenipa como um incidente grave. A diferença entre ele e um acidente se dá pelas consequências. Em casos de colisões com pássaros, uma das ocorrências mais registradas na aviação, de 80 a 90% são enquadrados como incidentes graves, sem acarretar problemas para o pouso, sem feridos e com danos mínimos.
"Ainda não se pode precisar o que ocorreu ali e exatamente por isso será investigado. Me pareceu que a aeronave ainda estava em baixa altitude. Pode ter sido um pássaro (sugado pelo motor). Para quem vê a cena, é assustador e faz um barulho bem diferente. É como se o motor desse umas tossidas e engasgadas, mas a prevenção é a palavra de ordem na aviação, por isso que existe a redundância - se um sistema falha, o outro suporta a operação. O segundo motor manteve o avião voando normalmente", salienta o especialista.
Sobre o episódio, a Gol informou que "a tripulação cumpriu os procedimentos previstos e a aeronave pousou normalmente". Também afirma que os clientes receberam suporte e tiveram as passagens remarcadas para os próximos voos com destino a Congonhas. A companhia diz, ainda, que "cumpre à risca" o programa de manutenção preventiva recomendado pelo fabricante dos motores das aeronaves da frota, "aprovado e auditado pelas autoridades de aviação civil". Além disso, diz monitorar em tempo real "os parâmetros de cada motor de suas aeronaves".
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