Repórter / abgoncalves@redegazeta.com.br
Publicado em 22 de março de 2023 às 11:38
Um Guaiamum, espécie de caranguejo conhecida em Vitória, foi capaz de alterar a rota de um avião, causando uma cena inusitada em que a aeronave precisou contornar a área de pouso do aeroporto da Capital e ficar mais dez minutos no ar na segunda-feira (20) até que uma equipe fosse ao local e liberasse a pista. O vídeo que mostra o aviso do comandante aos passageiros viralizou na internet e deixou ao menos uma dúvida no ar: um animal tão pequeno é suficiente para atrapalhar um avião tão grande?
Na avaliação do gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, Marcos Nacif, a mudança na rota, que significou mais tempo no ar, foi uma medida "preventiva, acertada e pontual". Em entrevista à jornalista Fernanda Queiroz, da CBN Vitória, Marcos Nacif, que é certificado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), pontuou que os animais oferecem riscos e podem até causar acidentes caso estejam na pista no momento da chegada de um avião.
Marcos Nacif
Gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito SantoNa última segunda (20), por volta das 23h, o comandante da aeronave da GOL, voo com origem no Rio de Janeiro, reportou a presença de "muitos deles" na pista, fazendo referência ao caranguejo. O comandante disse ainda que a torre de controle recomendou que ele aguardasse mais alguns minutos até o pouso.
Em nota, o Aeroporto de Vitória confirmou o fato e detalhou que apenas uma unidade do animal apareceu na pista, e não "muitos deles", como relatou o piloto do avião.
"A equipe de fauna do aeroporto foi acionada. Este é o procedimento padrão previsto para esses casos. Logo após a retirada do animal, as operações seguiram regularmente", informou o aeroporto.
Para Marcos Nacif, é comum e esperado que, em casos como esse, o piloto reporte o problema à torre de controle e receba alguma recomendação. Neste caso, o pedido foi que o piloto esperasse 10 ou 15 minutos até que houvesse uma vistoria na pista.
O especialista explicou que o voo não arremeteu, ou seja, não estava descendo quando percebeu a presença do Guaiamum. "Ele estava em aproximação e foi orientado a manter o tráfego, ficar dez minutos a mais no ar", relata.
De acordo com o gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, a colisão com animais é "um dos problemas mais sérios" enfrentados por aviões em todo o mundo, o que, segundo Marcos Nacif, gera "prejuízos exorbitantes".
Na manhã desta quarta-feira (22), a assessoria da GOL respondeu, em nota, a reportagem de A Gazeta e informou que o piloto agiu conforme as recomendações de segurança da companhia aérea para situações que envolvam a presença de animais na pista quando na aproximação.
Resposta da GOL
A GOL informa que o voo 2094, entre o aeroporto de Santos Dumont (SDU), no Rio de Janeiro, e a cidade de Vitória (VIX), realizado na noite de segunda-feira (20/03), efetuou uma arremetida durante o seu processo de aterrissagem na capital capixaba devido à presença de animais na pista. Todo o procedimento seguiu os protocolos de Segurança, valor número 1 da Companhia. Depois de liberada a pista, a aeronave retomou sua posição e pousou em Segurança às 23h06, hora local, sem nenhum atraso em relação à previsão inicial do horário de pouso.
A Companhia reforça que uma arremetida é o ato de descontinuar um procedimento de aproximação. Ela ocorre quando, após análise, o comandante verifica que o pouso não pode seguir cumprindo todos os requisitos de Segurança ou por determinação da torre de controle do aeroporto, como neste caso. A arremetida é uma manobra normal e segura e que permite que os pilotos iniciem nova aproximação em condições mais favoráveis de pista, nesta situação, sem a presença de animais na área de pouso.
A situação em que um caranguejo atrapalhou o pouso de uma aeronave não é para amadores, como diz a máxima popular. Inicialmente, foi divulgado que seria um caranguejo, mas sem detalhes sobre a espécie que apareceu no Aeroporto de Vitória. De acordo com a professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Mônica Maria Pereira Tognella, pela região onde o animal apareceu e analisando uma foto tirada pelo responsável pela vistoria na área de pouso, é possível afirmar que o caranguejo é da espécie Guaiamum.
A especialista explica que o Guaiamum é associado ao ambiente de restinga, enquanto o Caranguejo-Uçá está ligado ao manguezal.
Mônica Maria Pereira Tognella
Professora da pós-graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)Segundo a professora da Ufes, as duas espécies não são as únicas existentes, mas despertam maior interesse comercial. A espécie Guaiamum é protegida de captura por conta do risco de extinção, explica Mônica Maria.
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