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'Decisão errada pode colocar tudo a perder', diz pós-doutora sobre isolamento

"Decisão errada pode colocar tudo a perder", diz pós-doutora sobre isolamento

Na avaliação da pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel, as decisões de isolamento adotadas pelo governo do Estado até então para enfrentar a pandemia do novo coronavírus estão corretas

Publicado em 28 de abril de 2020 às 14:50

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Ethel Maciel, vice-reitora da Ufes
Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia. (Divulgação)

As decisões de isolamento adotadas pelo governo do Estado para conter o avanço do novo coronavírus estão corretas, na avaliação da pós-doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel. Ela afirmou, entretanto, que qualquer decisão errada pode colocar tudo a perder. A entrevista da especialista foi concedida à jornalista Fernanda Queiroz, da rádio CBN Vitória, na manhã desta terça-feira (28).

“É importante que todos entendam que a única coisa que temos é o isolamento. Tomamos as medidas de forma adequada, instituímos o isolamento social numa fase que não estávamos em transmissão comunitária e isso nos deu tempo de organizar o serviço de saúde e desacelerar essa transmissão. Estamos no início do pico da doença no Espírito Santo, em momento crucial, e qualquer decisão errada pode colocar tudo a perder do que já fizemos. Já conhecemos o vírus, a velocidade de propagação é muito grande e, se perdermos o controle, não tem como retomar”, declarou a pós-doutora em Epidemiologia.

Ethel acrescentou que uma das grandes preocupações é com a abertura de shoppings, que pode provocar aglomerações e, consequentemente, interações entre as pessoas. São essas interações o grande problema uma vez que o vírus passa de uma pessoa para outra. Nas projeções apresentadas por ela, se a interação aumentar em 10% do que ocorre atualmente, aumentará em 40% o número de internações e 90% a quantidade de mortes.

“Não é porque o comércio irá abrir que as pessoas devem ir, elas devem entender que, se não tiverem algo essencial para fazer, devem ficar em casa. Se pensar racionalmente, vamos comprar uma roupa nova e um sapato novo para ir em qual ocasião se todos os eventos estão cancelados? Esse consumo vai ter que ser repensado. Há uma grande pressão do comércio para o Dia das Mães, acho mais importante do que comprar coisas para sua mãe é conseguir sobreviver a essa pandemia”, pontuou.

Na visão da pós-doutora em Epidemiologia, o problema da economia não será resolvido com a abertura do comércio. A importância está nas estratégias do Ministério da Economia para ajudar a economia. “Há uma falsa narrativa de que se afrouxarmos o isolamento social, vamos melhorar a economia. É um falso dilema e uma falsa narrativa. Temos uma crise mundial, não adianta abrir o comércio se as pessoas estão desempregadas, se há uma crise de produção, uma crise de exportação, uma crise de importação, uma crise gigantesca onde as maiores economias do mundo estão sofrendo”, finalizou.

NOVA REALIDADE

Para Ethel, os brasileiros terão que se acostumar a uma “nova normalidade” ao menos até a chegada de uma vacina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a vacina deve ficar pronta entre 12 a 18 meses. “Sem uma vacina, teremos que conviver com o vírus, vamos ter de mudar os nossos hábitos. Então, tudo que favorece aglomeração vai ter que ser mudado”, pontuou.

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Essa nova normalidade já aconteceu com outras pandemias como no caso do vírus HIV, causador da Aids, segundo a pesquisadora. "O comportamento sexual da década de 80 e de hoje são diferentes, hoje as pessoas se protegem, usam remédio, preservativo. É uma série de comportamento que nunca mais foram os mesmos porque ainda não temos uma vacina para o HIV, temos medicamentos mais efetivos. Várias pessoas queridas perderam a guerra para o vírus”, concluiu a professora da Ufes.

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