Depois de enfrentar um câncer, a fisioterapeuta Karlla Leal, de 32 anos, recebeu a notícia de que não poderia engravidar. A limitação, entretanto, não a impediu de realizar o sonho de ser mãe e, neste domingo (9), ela e o marido, o engenheiro civil Marcos Camporez, de 33 anos, seguraram pela primeira vez o filho biológico, Arthur. Para isso, durante nove meses, ela acompanhou, ao lado do esposo, o crescimento do bebê na barriga da cunhada, em um procedimento conhecido como barriga solidária.
A história de começou em abril de 2018, quando Karlla descobriu a doença durante um exame de rotina. O câncer avançou rápido e acabou comprometendo o útero, que precisou ser retirado. Quando o médico me avisou que eu não tinha mais útero, eu ainda estava sob o efeito de anestesia, mas ali mesmo o meu mundo caiu, lembra Karlla. Ainda no hospital, ela e Marcos começaram a pensar sobre as alternativas que teriam. O chamado útero de substituição, quando o bebê é gerado no corpo de outra pessoa, era uma opção.
Mas a ideia parecia distante até a fotógrafa Patrícia Monteiro, de 45 anos, que é casada com o irmão de Karlla, se oferecer para emprestar o útero. Eu chorava tanto que não conseguia falar. Ela olhou para a TV e na mesma hora entendeu do que se tratava. Então, se ofereceu para ser a barriga solidária, relatou Karlla.
O processo durou cerca de um ano. Depois de uma série de exames, a família, que é de Marataízes, no Sul do Espírito Santo, viajou para fazer a fertilização in vitro em uma clínica de São Paulo. O procedimento foi bem sucedido logo na primeira tentativa.
Patrícia e o marido, o professor Wescley Leal Machado, de 39 anos, são os padrinhos do bebê. Para eles, a decisão de optar pela barriga solidária fortaleceu ainda mais os laços entre a família.
Quando há a oportunidade de fazer algo por quem se ama, o ato não se torna tão extraordinário. Tenho consciência do meu gesto porque as pessoas me dão esse retorno. Foi uma decisão minha muito madura e consciente, disse Patrícia.
Nos últimos meses de gravidez, os encontros presenciais ficaram mais difíceis, por causa da pandemia do novo coronavírus. Por isso, Patrícia gravava e fotografava algumas fases da gestação, para que Karlla e Marcos pudessem acompanhar tudo. Um ensaio fotográfico emocionante reuniu as duas famílias.
Ela não é minha barriga solidária, ela é minha alma solidária. Porque não tem outra definição, é muita doação, celebrou Karlla.
O parto foi uma cesariana agendada, no domingo (9), e Arthur chegou pesando 3,510 kg e medindo 49 centímetros.
Eu e o Marcos entramos na sala de cirurgia, acompanhamos tudo de pertinho. Eu cortei o cordão umbilical. Já estou amamentando. Meu corpo já estava produzindo leite, e a médica me receitou uma medicação para induzir. É muito mágico! Sinceramente, eu acho que não sei nem descrever em palavras, contou Karlla.
Na hora que eu o vi, comecei a chorar. Que alegria imensa! Sensação de gratidão a Deus por ter permitido que tudo corresse tão bem! Meu momento mais lindo ali naquele centro cirúrgico foi na hora que eles pegaram o Arthur. Eles chorando, com o milagre no colo! Ali, naquele momento, eu compreendi que tudo valeu a pena! Eu não tive um parto, eu transbordei, disse Patrícia.
Para Marcos, o nascimento de Arthur veio para coroar o primeiro Dia dos Pais. Acho que não tem presente melhor. O nascimento é a hora que vira a chave, a ficha cai. Quando a médica levantou ele, foi onde a gente esqueceu todo o resto, contou.
Para ser barriga solidária, é preciso ter grau de parentesco consanguíneo até o quarto grau. Como Patrícia é cunhada, foi preciso autorização do Conselho Regional de Medicina e toda a família teve acompanhamento psicológico durante o processo.
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