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Publicado em 9 de janeiro de 2022 às 14:51
As imagens armazenadas como lembrança de um dia divertido nunca mais serão as mesmas para uma família capixaba que esteve em Capitólio no dia da tragédia que provocou a morte de oito pessoas após o deslizamento de pedras de um cânion na região mineira. O comerciante Ricardo Fernandes e a família, todos moradores de Guaçuí, no Sul do Espírito Santo, estão seguros e não foram atingidos diretamente pelo acidente, mas estiveram perto da pedra na véspera da tragédia. O passeio foi registrado, com destaque para o local exato onde as mortes aconteceram. >
O capixaba conta que o passeio na sexta-feira (7) durou aproximadamente quatro horas. Entre bares e piscinas naturais, a família do Espírito Santo, junto com amigos de outros Estados, passaram ao lado da pedra que se soltou no sábado (8). Veja o vídeo feito por Ricardo.>
"Fizemos o passeio da lancha na sexta-feira, tiramos fotos, fizemos vídeo e tudo mais. Estávamos em 14 pessoas na lancha. O passeio dura quatro horas, a lancha para em bares e mostrando tudo. Ao lado daquela pedra, tem um restaurante, uma espécie de bar molhado", detalha o comerciante.>
Mas junto com o capixaba estava o amigo Herbert Claros, que é professor de geografia no Estado de São Paulo. Sem saber o que poderia acontecer horas depois, justamente pela imprevisibilidade da natureza, o professor tirou várias fotos das pedras. >
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Entre as fotografias feitas na sexta, pelo menos três delas, em ângulos parecidos, mostram a pedra que caiu. >
Imagens da véspera mostram pedra que deslizou no Capitólio, em Minas Gerais
O professor explicou à reportagem de A Gazeta que o interesse pela formação rochosa do local rendeu várias fotos. Isso porque a formação é bem diferente em Estados como São Paulo, onde mora Herbert Claros. As pedras são de quartzito, ele explicou. >
Herbert Claros
Professor de GeografiaO professor de geografia ressalta que a soltura de uma pedra não acontece em meses ou dias, mas em muitos anos. Por isso, ele avalia que casos como esse acontecem com muita raridade.>
"Vimos vários locais com rachaduras durante o passeio, mas sempre achamos que vai demorar anos pra cair. Quando aconteceu o fato, estávamos ali perto, fui rever minhas fotos. Chamamos isso de acidente geológico, como um resultado de vários processos", detalha.>
O Capitólio, região muito procurada por turistas em Minas Gerais, tem passeios oferecidos na superfície dos cânions, como pontes e mirantes, mas também há opção de lanchas na água. Os vídeos que registraram a tragédia mostram muitas embarcações perto das pedras. Segundo informações do Corpo de Bombeiros, quatro delas foram atingidas, com pelo menos 34 pessoas.>
Perguntado se o movimento das lanchas poderia afetar a estrutura das pedras, o professor de geografia avaliou que a permanência dos turistas naquele local é insignificante. Mas fez questão de lembrar que ações humanas têm o poder de afetar o meio ambiente.>
"O efeito de subida e baixa da água no Capitólio pode alterar a formação das pedras, por exemplo. Perfurações na superfície também podem colocar a estrutura em risco", comenta.>
No sábado (8), a Defesa Civil do Estado de Minas Gerais havia feito um alerta sobre chuvas intensas e a possibilidade de ocorrências de "cabeça d'água' em Capitólio, mas não há confirmação que essa foi a causa do acidente.>
O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas, Pedro Aihara, explicou que a formação rochosa do local é do tipo sedimentar, o que torna as estruturas dos paredões frágeis, e a quantidade de chuvas agravou a situação por acelerar a erosão. >
"Uma outra situação que acabou infelizmente agravando foi porque a rocha cai numa trajetória perpendicular. Geralmente, quando a gente tem ruptura por tombamento, a rocha sai de uma forma mais fatiada, ela escorre por aquela estrutura e cai de uma forma ou diagonal ou então mesmo em pé. Nesse caso, como a gente teve esse tombamento perpendicular, e pelo tamanho da rocha, a gente acabou tendo essas pessoas diretamente afetadas", explicou o bombeiro.>
Para o especialista em gerenciamento de risco, Gustavo Cunha Melo, consultado pelo G1, uma tromba d'água pode ter agido como um gatilho para o deslizamento, mas não foi necessariamente a causa do problema.>
O capixaba Ricardo Fernandes diz que estava fazendo um passeio na superfície das pedras, mas ouviu o "barulho gigantesco" da pedra caindo sobre a água onde estavam as embarcações.>
"Naquele momento, eu estava atravessando uma ponte. Ouvi um barulho gigantesco, eu ouvi o exato momento. Afundou tudo, foi uma gritaria, muitas crianças chorando, adulto gritando. Tá na cabeça da gente, foi um barulho gigantesco", relata.>
A ideia dos capixabas era ficar 15 dias na região de Minas Gerais, mas devem voltar antes disso para o Espírito Santo.>
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