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Capixaba é a 1ª criança do Brasil a se curar de câncer com terapia inovadora

Capixaba é a 1ª criança do Brasil a se curar de câncer com terapia inovadora

Conheça a história de Lorenzzo, hoje com 10 anos, que após o tratamento conseguiu realizar o sonho de ir para a escola

Alice Trindade

Residente em Jornalismo / [email protected]

Publicado em 31 de outubro de 2025 às 19:09

O primeiro paciente infantil a passar por um tratamento de terapia imunológica para leucemia no Brasil
O primeiro paciente infantil a passar por um tratamento de terapia imunológica para leucemia no Brasil Crédito: Arquivo pessoal

Quando tinha apenas quatro anos, o capixaba Lorenzzo Bom Costa caiu em um parquinho e passou a sentir muitas dores. Mas, somente depois de muitas idas e vindas a unidades de saúde, sem suspeitas sobre o que realmente impedia o menino de melhorar, chegou-se ao diagnóstico: leucemia. Hoje, aos 10, o menino celebra um ano sem a doença, e realiza o sonho de ir para a escola, após se tornar o primeiro paciente infantil do Brasil a ser submetido à terapia imunológica — um tratamento inovador para enfrentar esse câncer, caracterizado por afetar as células sanguíneas e que nada tem a ver com a queda. 

“Depois de tudo que a gente passou durante aquele tempo, parece que saiu um peso das costas. Hoje, eu respiro mais aliviada, mais tranquila”, relata Jane Bom, mãe do menino.

Natural de Vila Valério, Norte do Espírito Santo, Lorenzzo foi diagnosticado em 2019. Foram muitos dias de angústia e internações até o diagnóstico de leucemia, que aconteceu quando chegou a Vitória, após exames no Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória Desde a determinação médica, o pequeno paciente passou por quimioterapia e transplante, mas houve recidiva da doença e ele foi indicado para o novo tratamento. 

Um tratamento inovador

No ano passado, Lorenzzo foi internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde foi submetido à terapia conhecida como CAR T-Cell (Chimeric Antigen Receptor T-Cell), uma forma de tratamento mais recente desenvolvido para combater câncer. A médica oncologista pediátrica, Glaucia Perini Zouain Figueiredo, acompanhou todo o processo.

“O CART-Cell é uma forma de imunoterapia, um processo que utiliza células de defesa, coletadas do próprio paciente, geneticamente modificadas e programadas em laboratório para destruir células cancerígenas”, explica a médica. Esse tipo de tratamento é aconselhado para pacientes com risco de retorno da doença, como foi o caso de Lorenzzo, que já havia passado pela quimioterapia no Hospital Infantil e por um transplante de medula óssea, no Albert Einstein.

Lorenzzo foi diagnosticada ainda aos 4 anos de idade
Lorenzzo foi diagnosticado aos 4 anos após sentir fortes dores Crédito: Acervo pessoal

O mais recente tratamento foi realizado em agosto de 2024, fruto de uma parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), e faz parte de um estudo clínico para o tratamento de leucemias e linfomas.

Desde a imunoterapia, Lorenzzo apresentou um quadro de melhora progressivo. Atualmente, ele comemora o primeiro ano sem resquícios de células cancerígenas.

Quando a gente trata de uma criança com câncer, buscamos tratar de uma criança que vai ter o resto da vida pela frente, sem sequelas e com muita saúde.

Glaucia Perini Zouain Figueiredo

Médica oncologista pediátrica

A jornada do tratamento

O início do tratamento também foi de apreensão para a família de Lorenzzo, que precisou se mudar para Vitória após o diagnóstico, para que o menino tivesse um acompanhamento médico especializado. Mas logo eles puderam contar com a ajuda da Associação Capixaba Contra o Câncer Infantil (Acacci), uma casa de apoio que há 37 anos atua com suporte a crianças, adolescentes e suas famílias em tratamento de câncer.

Lorenzzo e a mãe ficaram na Acacci desde o início do tratamento
Lorenzzo e a mãe ficaram na Acacci desde o início do tratamento Crédito: Acervo pessoal

Segundo a Superintendente Executiva da Acacci, Luciene Sales, a casa oferece suportes como hospedagem, alimentação, transporte para o tratamento, suporte multidisciplinar (serviço social, pedagogia, nutrição, fisioterapia, entre outros). Eles atendem pacientes de todos os municípios do Espírito Santo, Sul da Bahia e Leste de Minas Gerais. Não há limite para o período de estadia, que é correspondente ao tempo necessário para o tratamento.

Além disso, o trabalho desenvolvido na Acacci é articulado com a equipe multidisciplinar do Hospital Infantil e o tratamento é feito no núcleo de onco-hematologia da unidade de saúde. A superintendente também ressalta o compromisso da casa de apoio para que crianças e adolescentes, assim como Lorenzzo, encontrem um ambiente de conforto frente aos desafios da jornada do tratamento.

“Na Acacci, eles abraçam a gente de uma tal maneira que você se sente em casa, se sente abraçada pela sua família”, destaca a mãe de Lorenzzo, ressaltando também o apoio e cuidado da equipe do hospital.

Comemoração de uma vitória

Atualmente, Lorenzzo realiza o seu grande sonho: ir à escola. “Ele está todo feliz, antes não podia fazer muitas coisas, como brincar ao ar livre ou pegar sol. Agora, ele anda de bicicleta, brinca de carrinho no quintal, vai para a escola com os coleguinhas”, conta Jane Bom, emocionada com toda a trajetória do filho. 

Hoje, Lorenzzo e a família comemora o primeiro ano curado
Hoje, Lorenzzo e a família comemoram o primeiro ano curado Crédito: Acervo pessoal

Lorenzzo ainda realiza acompanhamentos médicos e exames de sangue periódicos para monitorar sua recuperação. O tratamento com CART-Cell reinicia completamente o sistema imunológico, fazendo com que todas as vacinas precisem ser reaplicadas. Aos poucos, ele está reconstruindo sua imunidade. Hoje, um ano depois, Lorenzzo finalmente pode aproveitar uma infância comum, cercado pela família e pelos amigos da escola.

Valeu tudo a pena, passar pelo que passou para, hoje, ver o Lorenzzo com essa vitória e fazendo o que ele gosta.

Jane Bom

Mãe de Lorenzzo

* Alice Trindade é aluna do 28º Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve orientação e edição de Mikaella Campos

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