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Publicado em 13 de maio de 2022 às 19:49
- Atualizado há 4 anos
O Espírito Santo registrou, nos primeiros meses de 2022, um aumento expressivo no número de episódios de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAGs) em crianças. No comparativo com o mesmo período de 2021, os casos de asma, bronquiolite e pneumonia, entre outras doenças que se enquadram como síndromes respiratórias, mais que dobraram entre o público infantil. >
Como aponta o coordenador para a região Sudeste da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Rodrigo Aboudib, além da sazonalidade, isto é, do período do ano em que esses quadros são mais frequentes, o fim da obrigatoriedade do uso de máscara e do isolamento social também contribui para a volta de casos aos patamares anteriores à pandemia da Covid-19. >
E é nessa situação que se encontra Lucca Farias Gomes, de 4 anos, o caçula da estudante de Pedagogia Lorena Farias. Internado desde a madrugada de terça-feira (10), dia do seu aniversário, ele está com pneumonia, num quadro que evoluiu muito rapidamente. >
A mãe conta que o filho mostrava-se prostrado no sábado (7), foi levado ao hospital, fez raio-x e ultrassom, mas os pulmões estavam limpos. Na segunda, ao repetir o exame, os órgãos já se mostravam tomados pela infecção. >
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"Está tendo uma epidemia para mim. Os consultórios estão lotados, as crianças estão indo e voltando. Quando eu fiquei no pronto-socorro na segunda-feira (9), tinha criança com bronquiolite em estado grave, que internou, fez aspiração e agora retornou. Os quadros estão evoluindo muito rápido, de um dia para outro", observa.>
Lucca já havia apresentado um episódio de sinusite com princípio de pneumonia no mês passado, mas não precisou ser internado. O tratamento foi medicamentoso, com antibiótico. Durante esse período, ficou em casa. Depois, retornou para a escola, um ambiente que, segundo Lorena, está cheio de crianças com sintomas gripais. >
Preocupada com esse quadro, Lorena tem feito postagens em suas redes sociais para advertir a família e amigos para reforçar os cuidados com os pequenos.>
"Eu quis fazer um alerta para as pessoas ficarem mais conscientes. O que acontece é que as crianças ficaram muito tempo sem ir para escola, e agora que estão voltando, ou as que não iam antes, não formaram o sistema imunológico direito porque não pegaram nenhum resfriado e agora estão cheias de contato por aí.">
Lorena Farias
Estudante de PedagogiaLucca agora toma medicações mais fortes, orais e intramusculares, mas não precisou de terapia intensiva. Nesta quinta (12), passou a usar bombinha porque o peito começou a "chiar". Vai passar por nova avaliação e a expectativa da família é que possa ter alta neste sábado (14). A festinha de aniversário, que estava programada para este fim de semana, teve que ser adiada. Para Lorena, festa será a saída do filho do hospital. >
A SRAG é uma síndrome definida como um conjunto de sinais e sintomas que podem ser gerados por várias causas diferentes. O vírus sincicial respiratório, por exemplo, é o agente causador da bronquiolite, que costuma acometer bebês.>
Aboudib explica que o quadro apresentado é de hiper-reatividade brônquica, quando há broncoespasmos e esforço respiratório. A "sequela", segundo ele, é que numa simples mudança do clima a criança pode voltar a apresentar espasmos, além de "chiado no peito".>
Para ser enquadrado na SRAG, na ausência de outro diagnóstico específico, o paciente deve apresentar febre de início súbito, acompanhada de tosse ou dor de garganta, mais dor de cabeça ou dor no corpo. Em crianças com menos de 2 anos, é preciso considerar ainda sintomas respiratórios como coriza e obstrução nasal.>
Conforme dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), foram 156 casos e quatro mortes por SRAG até 18ª semana epidemiológica de 2021, entre crianças menores de um ano. Em 2022, saltou para 360 registros de síndrome entre esse público e mais seis óbitos.>
Já na faixa etária de 1 a 17 anos, foram 152 casos de síndrome respiratória e 20 óbitos em 2021 - considerando os provocados pela Covid-19 -, e, neste ano, 442 casos e quatro mortes. Por sua vez, os indicadores de mortes reduziram, em parte pela vacinação do público infantil contra o Sars-Cov-2 (coronavírus). >
O foco da imunização contra a gripe também é uma estratégia. A Sesa ressalta que, desde o dia 26 de abril, antecipou a vacinação do público prioritário de crianças de seis meses a menores de cinco anos contra a Influenza, uma das doenças respiratórias que pode evoluir com gravidade e levar à morte. Até segunda-feira (9), a cobertura vacinal deste público era de 16,49%.>
Na Serra, segundo informações da Secretaria Municipal da Saúde, de 1º de janeiro a 10 de maio de 2021, e no mesmo período de 2022, as síndromes respiratórias que geraram mais atendimentos a crianças entre zero e 14 anos, nas unidades de saúde, foram gripes, tosses, resfriados e casos de Influenza.>
Neste ano, a incidência maior na faixa etária até dois anos foi de resfriados, com 498 registros. Entre as crianças de 10 a 14 anos, houve mais quadros de gripe, com 275 atendimentos. >
No município de Cariacica, a Secretaria da Saúde registrou 143 casos de doenças respiratórias, sem contar a Covid-19, no ano passado. Agora, em 2022, já são 436 episódios. Nos dois períodos analisados, a faixa etária com maior incidência é a de 5 a 10 anos, representando quase metade dos casos. >
O órgão informa também que nos últimos meses o número de atendimentos aumentou significativamente nos Prontos Atendimentos do Trevo de Alto Lage, Bela Vista, Flexal e Nova Rosa da Penha. "Esse fato é decorrente do aumento do número de casos de síndromes respiratórias, incluindo asma, gripes, bronquiolites, sinusite e pneumonia. Essas patologias demandam maior tempo de atendimento pelos pediatras, pois as crianças permanecem em observação por períodos longos recebendo medicação", diz a secretaria, em nota. >
Em Vitória, as notificações incluem Covid-19 e síndromes gripais e a faixa etária informada pela Secretaria Municipal se estende para além do público infantil: de zero a 19 anos. Nesse grupo, foram 10.723 casos em 2021 e 16.982, neste ano. >
Já em Vila Velha, a assessoria de comunicação questionou a demanda feita pela reportagem, mas não respondeu sobre os dados de atendimento nas unidades municipais. >
O aumento também é registrado na rede particular. A Unimed Vitória diz, em nota, que houve um aumento de demanda nos prontos-socorros da Grande Vitória, mas que em sua unidade todos os pacientes estão sendo atendidos com o máximo cuidado e eficiência.>
"A Unimed Vitória reforça ainda que também oferece um serviço de teleconsulta pediátrica para atendimentos de casos de menor complexidade e que esse recurso pode contribuir para evitar deslocamentos desnecessários, assim como facilitar o atendimento a seus clientes", informou. >
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