Com as atividades encerradas no fim de 2024, o Hospital Pedro Fontes, em Cariacica, será transformado em um polo empresarial, segundo a prefeitura municipal. Ainda não há prazo para a realização do projeto. Atualmente, o espaço segue abandonado e em processo de degradação devido ao vandalismo. Leitores de A Gazeta relataram, inclusive, que a região está deserta e sem vigilância.
A unidade abrigou, durante anos, pacientes diagnosticados com hanseníase – anteriormente conhecida como lepra –, razão pela qual a região passou a ser chamada de leprosário, na antiga Colônia de Itanhenga. A área, que possui mais de 1.000 hectares, foi doada pelo Governo do Estado ao município de Cariacica em 2024, conforme antecipou a colunista Vilmara Fernandes.
Procurada para falar sobre a revitalização do espaço, a Prefeitura de Cariacica não precisou datas para a ativação do polo empresarial. Questionada sobre o vandalismo nas instalações do antigo hospital, a administração municipal afirmou que "já determinou a contratação de seguranças para atuar no local e autorizou a limpeza do terreno. Além disso, notificará todos que possuem posse precária para a retirada de qualquer área da fazenda e, após a desocupação, dará início à implantação de um polo empresarial"
Antiga administradora do hospital, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informa que encerrou as atividades do Hospital Estadual Pedro Fontes em novembro de 2024. "O imóvel foi doado pelo Governo do Estado ao município de Cariacica para a regularização fundiária urbana, na forma da legislação municipal, conforme autorização garantida pela Lei Nº 12.026/2024, publicada em 23 de janeiro de 2024".
A chamada "colônia dos excluídos" foi construída em 1935, em Cariacica, com o objetivo de isolar pessoas diagnosticadas com hanseníase. Já o Hospital Pedro Fontes foi inaugurado em abril de 1937, em uma área de 1.200 hectares, localizado a 14 quilômetros de Vitória e a 80 metros acima do nível do mar. Inicialmente destinado ao isolamento de pacientes com hanseníase no Espírito Santo, chegou a ser considerado um leprosário modelo.
Fundado com a estrutura de uma cidade, especialmente planejada para atender todas as fases da doença, a região contava com escola, dormitórios, hospital, cemitério, prefeitura e delegacia próprios. No passado, algumas áreas foram cedidas às famílias dos internos, o que deu origem aos bairros Pica-Pau (atualmente chamado Padre Matias) e Cajueiro.
O hospital surgiu no contexto da política de isolamento e internação compulsória de pacientes com hanseníase durante o primeiro governo do presidente Getúlio Vargas. Com a descoberta da cura da doença, a internação compulsória foi oficialmente encerrada em 1962, mas há relatos de que internações continuaram ocorrendo até a década de 1980. Quando foi fechado, em 2024, ainda havia oito pacientes internados. Eram idosos que permaneceram na unidade devido a problemas de saúde não relacionados à hanseníase, como AVC.
Pedro Fontes, o médico que dá nome ao hospital, foi um pioneiro no tratamento da hanseníase no Espírito Santo. Em 1927, foi transferido do Serviço de Saneamento Rural do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, para a Inspetoria de Profilaxia da Lepra e Doenças Venéreas no Espírito Santo. Ao identificar um grande número de portadores da doença no estado, iniciou um projeto de criação de dispensários para tratamento e profilaxia da hanseníase.
Em 2007, o presidente Lula sancionou a Lei nº 11.520, que instituiu pensão vitalícia para as pessoas atingidas pela hanseníase e submetidas a isolamento e internação compulsórios em hospitais-colônia, como o Hospital Pedro Fontes, até 31 de dezembro de 1986.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta