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Após perder irmão e com mãe na UTI com Covid, professor do ES faz relato e emociona web

Após perder irmão e com mãe na UTI com Covid, professor do ES faz relato e emociona web

Filicio Mulinari, professor de Filosofia do Ifes de Itapina, em Colatina, desabafou sobre os momentos difíceis que teve de superar com a família acometida pela doença. O relato dele no Twitter causou grande comoção

Publicado em 29 de dezembro de 2020 às 12:59

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Filício
Este foi o único contato que Filício teve com a mãe enquanto ela esteve internada com a doença em um hospital de Vila Velha. (Arquivo pessoal)

A Filosofia é uma área do conhecimento que estuda a existência humana e o saber por meio da análise racional. E foi usando a capacidade em sintetizar as aflições atuais da humanidade, inserida em uma pandemia global, que o professor da disciplina, Filicio Mulinari, de 32 anos, conseguiu transformar o duro momento pelo qual ele e a família atravessaram em uma mensagem direta aqueles que insistem em não atender aos apelos necessários para o atual cenário da pandemia da Covid-19.

Na madrugada do dia 22 de dezembro, em seu perfil no Twitter, o professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Itapina, em Colatina, postou um desabafo sobre a situação que teria de enfrentar algumas horas depois: ir ao hospital onde a mãe estava internada com a Covid-19 para dar a triste notícia de que Jeferson, um dos quatro filhos dela, havia morrido em decorrência de complicações da doença. Veja a postagem:

Em questão de minutos, a postagem de Filicio ganhou grande repercussão, sendo maciçamente compartilhada e comentada. Exatamente sete dias após o desabafo na rede social, a mensagem do professor contabilizava mais de 85 mil curtidas e quase 3 mil compartilhamentos, fato que o surpreendeu positivamente e de certa forma trouxe um pouco mais de calma.

"Eu lido diariamente com os jovens na sala de aula e entendo que é natural nessa fase da vida ter uma certa rebeldia, despreocupação com o futuro, mas não é o que o momento pede. Nem sou tão assíduo em redes sociais, mas postar foi a forma que encontrei de expressar isso. O foco era para alunos e pessoas próximas, mas ganhou uma proporção inimaginável. Ainda que difícil para escrevê-la e tendo de superar a perda do meu irmão, a repercussão positiva da mensagem me serviu até como calmaria. Pessoas que eu nem sei quem são se sensibilizaram com o que passamos e entenderam a gravidade que vivemos", contou.

ALEGRIA INTERROMPIDA

No dia 20 de novembro, a família Mulinari, de Anchieta, no Sul do Estado, estava mais feliz, pois Jeferson havia se casado no civil. Pouco dias depois, ele apresentou sintomas da Covid-19 e foi intubado no dia 7 de dezembro em um hospital de Santa Teresa. No dia seguinte, Regina de Fátima Mulinari, mãe deles, também teve um quadro positivo para a doença.

"Meu irmão foi levado para Santa Teresa e por lá ficou até partir. Já minha mãe foi primeiro para o PA da Praia do Suá, em Vitória, de onde a transferiram para um hospital, sendo que no último dia 11 ela foi para a UTI e ficou completamente isolada. O Jeferson morreu no dia seguinte e ela não soube. Foram dias tendo de lidar com isso e não foi fácil. Entre os dias 21 e 22, quando estava em vias de deixar a UTI para a enfermaria, fui ao hospital e dei a notícia da perda do meu irmão. Os médicos acharam melhor ser nesse momento, pois se algo ocorresse ela ainda estaria bastante assistida", detalhou o professor.

Família Mulinari
Jeferson, de azul, foi vítima da Covid-19. Já a mãe dele e dos outros três irmãos (Filicio é o de cinza) superou a doença. (Arquivo pessoal)

Ter de dizer para a própria mãe que um dos filhos dela havia morrido não foi o único momento de grandes dificuldades que o professor teve que superar. Quando a mãe estava na UTI, Filicio escreveu uma carta a mão para Regina de Fátima narrando como estavam as coisas do lado de fora, porém sem mencionar a perda do familiar.

"Meu irmão já havia morrido e ela ainda não sabia. No dia 17 de dezembro, com mamãe ainda internada, fiz uma carta contando como estavam as coisas na família, mas não podia mencionar que o Jeferson havia nos deixado porque poderia agravar o quadro dela. Então escrevi palavras de incentivo, que sentíamos muito a ausência dela e que a aguardávamos ansiosamente", complementou.

ALTA NA VÉSPERA DE NATAL

Felizmente, no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, dona Regina de Fátima recebeu alta do hospital. Já estava curada. A recuperação da matriarca da família ajudou a recolocar alguns sorrisos no rosto de Filicio e dos demais.

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"Meu irmão infelizmente não volta, mas agora seguimos mais tranquilos porque nossa mãe está recuperada. Pudemos passar um Natal em família. Nós perdemos um ente querido por essa doença, então foi por isso que fiz aquele post, pois as pessoas precisam refletir e entender que sair desnecessariamente não é certo agora. Aconteceu com minha família, mas pode ocorrer com qualquer um", finalizou o professor de Filosofia.

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