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Publicado em 25 de outubro de 2023 às 20:56
- Atualizado há 2 anos
Uma operação conjunta do Ministério do Trabalho, da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou doze trabalhadores em situação análoga à escravidão nos bairros Rúbia e Altoé, em Nova Venécia, no Noroeste do Espírito Santo, nesta quarta-feira (25). Nos locais, os fiscais constataram que os homens viviam em alojamentos precários, sem acesso à água potável e alimentação. Além disso, alguns não possuíam carteira de trabalho assinada. >
Segundo apurações do repórter Isaac Ribeiro, da TV Gazeta Norte, a operação, que envolveu ao menos 15 agentes do Ministério do Trabalho, da PF e do MPT, teve início após uma denúncia anônima. Os trabalhadores teriam sido contratados por uma empresa para atuar na construção de casas populares no município. >
Em uma casa no bairro Rúbia, oito homens foram encontrados. Ao repórter Isaac Ribeiro, eles relataram que doze trabalhadores residiam no local, mas quatro deles desistiram devido às condições precárias e foram embora para o município de Guarapari, na Grande Vitória. >
À reportagem da TV Gazeta Norte, um ajudante de pedreiro, de 26 anos, que não foi identificado, relatou que os contratantes haviam prometido aos trabalhadores um salário diário de R$ 100 e comida, mas, segundo ele, nada foi cumprido. >
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"Teve certo tempo que colocaram a gente em outro alojamento, não pagaram a dona da casa e nós fomos despejados de lá. Aí, tivemos que morar dentro das casas que nós mesmos estávamos construindo [...]. Essas casas estavam inacabadas, botávamos cortina e madeira para fazer de porta, chegamos a comer pão com água puro. Já tive que tirar dinheiro meu e pedir aos outros para comprar comida [...]. Também estávamos dormindo no colchão, mas no chão puro", disse o ajudante de pedreiro. >
Em outra casa no bairro Altoé, os fiscais encontraram quatro homens vivendo nas mesmas condições precárias. Segundo o Procurador-Chefe do Ministério Público do Trabalho do Espírito Santo (MPT-ES), Estanislau Tallon Bozi, após o resgate, o foco da operação é identificar os responsáveis pela obra e pela contratação dos trabalhadores. >
"Houve processo licitatório e essa empresa ganhou. Agora temos que ver a legalidade desse processo todo", comentou o procurador. >
De acordo com apurações do repórter Isaac Ribeiro, os trabalhadores foram encaminhados para um hotel em Colatina. >
A Prefeitura de Nova Venécia esclareceu por nota que não tinha conhecimento das denúncias sobre as condições precárias dos trabalhadores que estão realizando a obra das 32 (trinta e duas) unidades habitacionais na cidade. E que a contratação da empresa seguiu todos os trâmites legais previstos na lei de licitações. A prefeitura aguarda o término das investigações para definir os rumos do contrato.>
O governo do Estado também foi procurado. A Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb) informou que a obra de construção de 32 unidades habitacionais está sendo executada por meio de convênio com a prefeitura. A contratação da empresa é realizada por licitação pelo município, sendo competência também da prefeitura municipal, a fiscalização das condições de trabalho. A fiscalização compete ao cronograma de entrega da obra para a população, segundo a pasta. >
A Sedurb disse ainda que o investimento do governo do Estado é de R$ 2,2 milhões com contrapartida do município de R$1,1 milhão. A obra tem previsão de conclusão em dezembro de 2023.>
Em contato com a reportagem, por telefone, o proprietário da empresa responsável pela obra negou que os trabalhadores estivessem em condições precárias e afirmou que as casas tinham água e luz. Esclareceu também que um encarregado da obra irá comparecer a uma audiência com o Ministério do Trabalho. >
Confira as notas na íntegra:
Prefeitura de Nova Venécia:
O Município de Nova Venécia/ES esclarece que não tinha conhecimento dos fatos narrados nas denúncias publicadas na imprensa acerca das condições precárias dos trabalhadores que estão realizando a obra das 32 (trinta e duas) unidades habitacionais. Informamos que a contratação da empresa seguiu todos os trâmites legais previstos na lei de licitações e que até o presente momento não temos conhecimento de descumprimento das obrigações contratuais.
Assim, aguardaremos o término das investigações para acionar a empresa mediante os possíveis descumprimentos das cláusulas contratuais, para que sejam tomadas as medidas administrativas e legais que couber.
Por fim, reafirmamos que não compactuamos com os fatos denunciados e que estamos prestando todas as informações requeridas pelo Ministério do Trabalhado e Emprego.
Sedurb:
O Governo do Estado, por meio da secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), informa que a obra de construção de 32 unidades habitacionais está sendo executada por meio de convênio com a prefeitura municipal. A contratação da empresa é realizada por licitação pelo município, sendo competência também da prefeitura municipal, a fiscalização das condições de trabalho. A fiscalização realizada pelo Governo do Estado, compete ao cronograma de entrega da obra para a população.
Informa ainda que o investimento do Governo do Estado é de R$ 2,2 milhões com contrapartida do município de R$1,1 milhão. A obra tem previsão de conclusão em dezembro de 2023.
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