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Produção de azeitonas não vinga e fábrica de azeite no ES está parada

Produção de azeitonas não vinga e fábrica de azeite no ES está parada

Pesquisadores investigam o motivo da queda de produção; inexperiência na plantação pode ter contribuído para baixa produtividade no Espírito Santo

Publicado em 22 de abril de 2024 às 16:38

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A produção de azeitonas que era uma grande aposta para 2024 em Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, não vingou e frustrou os produtores. Pesquisadores vão investigar o que pode ter acontecido e o que fazer para continuar o cultivo. Enquanto isso, a fábrica de azeites inaugurada há cerca de dois meses pelo governo do Estado, em parceria com a prefeitura local, está parada.

O produtor rural Ricardo Serro foi um dos pioneiros no cultivo de oliveiras na região. A maior parte da sua lavoura é de plantação de café, mas há dois anos ele decidiu diversificar a produção e apostou nas azeitonas, com foco no produto final, o azeite.

Entretanto, após dois anos de crescimento animador, em 2024, a produção ficou zerada, não só em suas terras, mas como em todo o município.

“A gente está em uma localidade apta para esse tipo de cultura, que é uma cultura que tem um valor agregado grande no azeite e, por isso, resolvi investir. Atualmente, são 500 pés. Com a primeira colheita em 2022, produzi 7kg de azeitonas; em 2023, foram 15 kg; mas, este ano, nem teve colheita”, conta Ricardo.

De acordo com Ricardo, a florada foi muito bonita, o que elevou as expectativas, mas os pés não se desenvolveram.

Produção de azeitonas não vinga e fábrica de azeite recém-inaugurada no ES está parada
Questões climáticas podem ter afetado a produção de azeitonas no Estado. (TV Gazeta)

“A gente até pensou numa produtividade bastante boa, só que a gente teve um pegamento irrisório dos frutos, muita perda mesmo. Isso levou a gente a buscar tecnologia e pesquisa para ajudar a entender o que está acontecendo”, explica.

Em todo o Estado, a produção de azeitona também registrou queda. Em 2023, superou 1 tonelada (1.112kg) e 114 litros de azeite. Já em 2024, caiu pela metade, rendendo apenas 665 kg de azeitonas e 63 litros de azeite, que foram produzidos em Domingos Martins.

De acordo com especialistas, o mau desempenho deste ano e os resultados tímidos dos anos anteriores podem estar relacionados à falta de experiência com esse plantio e questões climáticas.

A extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) Ranusa Coffler explicou que a azeitona tem como especificidade a polinização cruzada.

“A gente precisa que uma variedade de oliveiras polinize a outra, para que tenhamos mais produtividade. Então, a gente precisa de um detalhamento melhor de pesquisa para conseguirmos entender realmente se as variedades que foram plantadas como polinizadoras estão cumprindo o seu papel e polinizando umas às outras”, afirma Ranusa.

A extensionista também lembra de como é fundamental estar atento à fertilidade do solo.

“Nós seguimos algumas recomendações de outros Estados produtores, como Minas Gerais, e a gente percebe que precisa avançar na questão nutricional, de correção e nutrição do solo”, disse Ranusa.

Fábrica de azeite pioneira não está funcionando

 Fábrica de azeite pioneira não está funcionando
Fábrica de azeite pioneira não está funcionando. (Divulgação/Incaper)

Em fevereiro de 2024, foi inaugurada em Santa Teresa a Fábrica de Azeite do Lagar, a primeira do Estado para o uso coletivo na produção de azeite. A capacidade de processamento dessa nova agroindústria é de 100 kg de azeitona por hora.

A fábrica de azeite para uso coletivo é uma iniciativa pioneira também no Brasil. A expectativa dos produtores estava elevada, mas, com a produção em baixa, a fábrica não está sendo utilizada.

“Chegamos a um modelo interessante, que é um equipamento de 100 kg/h. Trata-se de uma agroindústria de caráter coletivo, novidade até no Brasil. Isso porque as indústrias hoje no país são particulares. Mas esse modelo veio para atender todos os produtores que tenham necessidade. É um modelo nosso, desde o início do projeto a gente visualizou que fosse dessa forma”, explica Ranusa.

Para a instalação da fábrica, foram investidos cerca de R$ 600 mil para a aquisição de equipamentos utilizados na fabricação do azeite.

Na ocasião, o secretário de Estado da Agricultura, Enio Bergoli, afirmou que o espaço iria atrelar o agroturismo e a geração de renda para os produtores locais.

“Dos 300 hectares de áreas plantadas de azeitona no Estado, cerca de 100 hectares estão aqui em Santa Teresa. A expectativa é criar oportunidade para o aumento da produtividade e rentabilidade do produtor rural, agregando valor, conhecimento e o uso de novas tecnologias para atender à demanda com as oliveiras”, observa o secretário.

Apesar da baixa, os produtores querem seguir com o cultivo, mas para isso buscam apoio.

“A intenção é perseverar! Essa é uma cultura pioneira e, como todo pioneirismo, vem também com o ineditismo. A gente precisa de ajuda para entender o que houve e atravessar esse momento”, destaca Ricardo.

De acordo com o Incaper, novas pesquisas serão feitas sobre o cultivo, quando servidores que passaram no último concurso para o instituto assumirem os seus cargos.

“Há uma promessa da diretoria do instituto de que exista um fisiologista, alguém que possa estar apoiando especificamente nos estudos em olivicultura”, aponta Ranusa.

Olivicultura no Espírito Santo

Olivicultura no Espírito Santo
Azeite capixaba começa a ganhar reconhecimento pela qualidade, em nível nacional e internacional. (TV Gazeta)

A cultura da olivicultura tem crescido no Estado e o azeite capixaba começa a ganhar reconhecimento pela qualidade, tanto em nível nacional quanto internacional.

Atualmente, o Espírito Santo tem, aproximadamente, 300 hectares de área plantada de azeitona, envolvendo cerca de 130 produtores, com abrangência em 17 municípios dos 23 da Região Serrana vocacionados para o desenvolvimento da atividade.

O foco do projeto é a produção de azeite extravirgem de baixa acidez, visando à expressão da qualidade superior do produto.

O primeiro azeite capixaba de caráter experimental proveniente da Unidade de Observação foi produzido no ano de 2018 e, em 2021, foi extraído o primeiro azeite extravirgem dos plantios comerciais e o processamento já foi realizado em terras capixabas.

O Estado já conta com seis marcas de azeites extravirgem, com aroma e sabor diferenciados, genuinamente capixabas.

"Apoiamos o desenvolvimento da olivicultura desde o início da introdução dessa atividade no Espírito Santo. Vamos seguir trabalhando para ampliar esse suporte aos produtores, principalmente na área de pesquisa, para indicação de variedades de oliveiras mais resistentes a pragas e que se adaptem melhor às regiões produtoras do Estado”, afirma o diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot.

Informações e reportagem por G1 ES

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