Publicado em 19 de julho de 2021 às 11:56
Mineiro, mas de coração e alma capixaba, o cineasta Orlando Bomfim Netto morreu na manhã desta segunda-feira (19), vítima de uma pneumonia, aos 80 anos. >
Radicado no Espírito Santo desde o início da década de 1980, o realizador, por conta da idade avançada, estava morando com parte da família no Rio de Janeiro desde setembro do ano passado, pois necessitava de cuidados especiais.>
De acordo com a neta, Mariana Bomfim Fontoura, Orlando foi acometido por uma pneumonia na última semana e sentiu-se mal no domingo (18), dando entrada em um hospital na capital carioca. O realizador, porém, não resistiu e morreu na manhã desta segunda-feira. >
A família afirmou não se tratar de Covid-19. O velório e o sepultamento acontecerão na terça-feira (20), no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, no Rio de Janeiro. >
>
"Meu avô passou os últimos dias sereno e tranquilo, ao lado da família, com muito amor. Não deixava de pensar no cinema em nenhum momento. Torcia para a pandemia acabar logo, para poder voltar a frequentar as salas de exibição. Também tinha o desejo de voltar a ver e a sentir o mar", revelou Mariana, com muita emoção. >
Orlando deixa quatro filhos (Monica, Daniel, Guilherme André e Pedro Orlando), além de quatro netos (Mariana, Pedro, Vinicius, e outro Pedro, que ainda não completou um ano). >
Um dos símbolos do movimento documentarista no Espírito Santo, Orlando iniciou sua carreira no Rio de Janeiro, em 1969, com o curta-metragem "Status 69". Em 1980, se mudou para o Estado, mas, cinco anos antes, dirigiu seu filme capixaba mais emblemático, "Tutti Tutti Buona Gente" (1975), um registro da memória e do centenário da imigração italiana no ES. >
A obra circulou vários festivais no país, ganhando prêmios e recebendo elogios. Bomfim também participou de longas como "Toda Nudez Será Castigada", "A Rainha Diaba" e de produções da empresa de Roberto Farias, que lançou vários filmes de Roberto Carlos.>
Entre outros títulos dirigidos por Orlando, estão projetos marcados por fortes tons iconográficos da nossa cultura, como "Canto para a Liberdade - A Festa do Ticumbi" (1978); "Augusto Ruschi Guainunbi" (1975 - 1979); "Itaúnas: Desastre Ecológico" (1979) e "Orlando Bomfim Jr - Desaparecido Político" (2012), em que destacou a trajetória de seu pai, Bomfim Jr., jornalista, advogado e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) desaparecido em 1975, após ser perseguido pela ditadura militar. >
Parte da obra do realizador foi restaurada por uma iniciativa capitaneada pelo cineasta e produtor cultural Marcos Valério Guimarães, que contou com participação da produtora capixaba Pique Bandeira Filmes, dentro da iniciativa "Projeto Acervo Capixaba". >
No início dos anos de 1980, Bomfim presidiu o antigo Departamento Estadual de Cultura e, poucos anos depois, passou a ocupar a direção da TV Educativa do Espírito Santo, com um trabalho sempre voltado à descentralização e a difusão do audiovisual capixaba. >
Nos anos 2000, foi o fundador e primeiro presidente da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta Metragistas do Espírito Santo. Ao todo, Orlando dirigiu 13 filmes, entre curtas e médias metragens, entre os anos 1975 e 2014.>
Netto também esteve presente em momentos de grande importância para a cultura local, como a criação do Cineclube Metrópolis (Ufes) e a concepção do festival Vitória Cine Vídeo, no início dos anos 1990. >
Por falar na mostra mais importante do Estado, o realizador foi homenageado pelo Festival de Cinema de Vitória em 2014, por sua contribuição à produção local. >
Diretora do FV, Lucia Caus destacou a força do cineasta para o cinema do Estado. Orlando Bomfim é uma das figuras mais importantes do cinema capixaba e também brasileiro. Seu trabalho documental é um reflexo do homem engajado, que sempre priorizou a cultura popular, os direitos humanos e entendeu a importância da cultura na formação de uma sociedade, além de ser um amigo querido e uma das pessoas fundamentais para o Festival de Cinema de Vitória. Com sua partida, perde o audiovisual brasileiro e perde a sociedade capixaba, enfatizou.>
Atual Secretário Estadual de Cultura, Fabricio Noronha também lamentou a perda para o cinema capixaba. "Orlando Bomfim Netto contribuiu muito com a cultura capixaba e brasileira. Através de suas lentes, registrou a nossa diversidade, como as festividades da cultura italiana, em Santa Teresa e o legado de Augusto Ruschi para a ecologia, assim como os festejos do Ticumbi, do Congo e demais celebrações do folclore tipicamente capixaba", definiu, relembrando ainda que, em 2019, o realizador foi homenageado pelo Governo do ES durante o lançamento dos Editais da Cultura, no Palácio Anchieta.>
Pelas redes sociais, o Governador Renato Casagrande (PSB) destacou a importância de Orlando Bomfim Netto, decretando três dias de luto oficial no Estado. >
Por meio de nota, o ex-governador Paulo Hartung também se pronunciou sobre a perda de Bomfim Netto. >
"A semana começa com a triste notícia da morte do Orlando Bomfim Netto, grande nome do cinema capixaba, especialmente no campo do documentário. Ele registrou, por meio de sua obra, a memória do nosso Estado e da nossa gente. Meus sentimentos aos familiares e aos amigos, por essa lamentável e significativa perda". >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta