Publicado em 31 de agosto de 2020 às 15:37
"Barretão" começa com uma desnecessária sessão de elogios vindos das mais variadas partes do mundo -ou seja, dá para esperar pelo pior. Isso dura uns dois minutos, felizmente, depois dos quais entram os créditos e, enfim, Barretão em pessoa. Ou Luiz Carlos Barreto. >
Quem já passou na porta de um cinema no Brasil sabe de quem se trata. Quem der uma olhada em seu currículo perceberá sua importância. Mas é raro ter a oportunidade de acompanhá-lo discorrer sobre si mesmo, o cinema brasileiro e o cinema em geral.>
Tudo, é verdade, começa pela questão, formulada aliás por ele mesmo: o que é um produtor? O que faz? Não há uma resposta conclusiva ao longo do filme, mas não é impossível notar, ao longo de suas falas, que um produtor é, em linhas gerais, o que é Barretão. O sujeito que vai atrás de dinheiro, que faz política de cinema ou não, que monta toda a estrutura física e financeira (também intelectual) para que um filme exista.>
Desfeita, mais ou menos, a dúvida, o espectador terá a vantagem de acompanhar uma prosa agradabilíssima e sedutora (o que não deixa de ser função de produtor), ao longo da qual ficamos sabendo desde o básico -a saber, que Barreto é um nordestino que se vê como sobrevivente. Dizendo isso, explica-se, em parte, o partido do filme "Lula, o Filho do Brasil". De certo modo, Barreto vê em Lula uma espécie de duplo, de sobrevivente, também, que insiste em continuar vivo contra todas as previsões.>
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Mas "Lula" é um detalhe entre tantos outros. De sua prática de repórter fotográfico (na verdade, se entendi bem, repórter e fotógrafo) nos tempos da revista Cruzeiro, que lhe trouxe o convívio com pessoas que eram ou seriam importantes para o Brasil. Portanto, para o cinema brasileiro e para Barreto como produtor.>
Depois, o convívio com Glauber Rocha e o pessoal do cinema novo, movimento do qual ele se tornaria personagem exponencial, seja por seu peso como produtor, seja como o fotógrafo de vanguarda de "Vidas Secas" ou "Terra em Transe". Nesse setor, vale a pena acompanhar a descrição dos recursos (mínimos) que usa para chegar a resultados por vezes assombrosos. Ou alguns embates com a censura pós-1964, mais bem-humorados do que se poderia imaginar.>
Tudo isso, no entanto, gravita em torno das ideias-chave de Barreto, que conformam um nacionalista clássico sem nenhum pudor de lutar, a partir de certo momento, por um cinema de mercado. Ou seja, alguém que se bate pela conquista do mercado interno, que busca enfrentar o quase monopólio do cinema americano em nossas telas, que acredita em suas ideias.>
A virtude essencial de "Barretão" consiste, portanto, em ser antes de mais nada um "Barretão por Barretão", que oferece uma visão geral da vida e obra do produtor tal como contada por ele mesmo.>
Impossível não dizer que se trata de um filme oficial. É isso o que pretende ser -o autorretrato de um homem central no cinema brasileiro moderno, com trajetória tão polêmica quanto fascinante.>
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