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Futuro das profissões: como as escolas e faculdades devem preparar os jovens

Futuro das profissões: como as escolas e faculdades devem preparar os jovens

Em um mundo em que a tecnologia é cada vez mais protagonista no dia a dia, cenário é de transformação no mercado de trabalho; entenda como fica a formação dos futuros profissionais

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 05:00

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Jovem com óculos VR
Jovem com óculos de realidade virtual: novas tecnologias mudam a forma de aprender e trabalhar. (Freepik)

Com a tecnologia cada vez mais inserida em várias tarefas do dia a dia, tanto na rotina das famílias quanto no trabalho, você já parou para pensar que muitos empregos que existem hoje podem acabar no futuro? Dados divulgados pelo Fórum Econômico Mundial em maio de 2023 indicam que quase um quarto dos empregos (23%) deverá mudar de perfil nos próximos cinco anos. Postos tradicionais devem cair 12,3%, enquanto funções “novas”, aceleradas pela inteligência artificial e pelos padrões ESG, tendem a crescer 10,2%.

O Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, elaborado pela entidade, aponta que, em 803 empresas pesquisadas, os empregadores estimam que 69 milhões de novos empregos sejam criados e 83 milhões eliminados entre os 673 milhões de empregos correspondentes ao conjunto de dados, uma redução líquida de 14 milhões de vagas, ou 2% dos empregos atuais.

Diante dessas alterações, como fica a formação para essas futuras profissões? Como ficam alguns ofícios tradicionais no futuro? E como será o preparo das crianças e adolescentes para esse mercado em constante transformação?

Para a psicóloga Martha Zouain, as transformações impulsionadas pela tecnologia e pela inteligência artificial têm e continuarão a ter um impacto significativo no mercado de trabalho. Neste momento, pontua ela, o maior desafio é que os profissionais entendam que precisam se reinventar, desenvolver novas competências e aceitar que o processo de aprendizagem quando se pensa em carreira é permanente. As oportunidades continuarão a existir, mas com muitas outras necessidades de qualificação.

Martha Zouain diz que todas as áres serão impactadas pela IA
Martha Zouain diz que todas as áres serão impactadas pela IA. (Divulgação)

“Todas as áreas deverão ser impulsionadas pela IA, algumas um pouco mais do que outras. Crescerão oportunidades para engenheiros, cientistas de dados, especialistas em ética da IA, desenvolvedores de realidade virtual e designers de interações homem-máquina, entre muitas outras profissões. Em paralelo às especificidades de oportunidades que envolvem conhecimentos técnicos específicos, profissionais que cuidam de gente dentro das organizações precisarão estar muito atentos à harmonia e ao clima organizacional diante de tudo isso”, destaca Martha.

Tendências do mundo do trabalho

Um levantamento feito pelo Itaú Educação e Trabalho em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, Fundação Arymax, Fundação Telefônica Vivo e GOYN SP traçou um panorama sobre as tendências do mundo do trabalho e o retrato dos jovens brasileiros. Entre as tendências apontadas, está a crescente digitalização da economia, que leva a um movimento de substituição de postos de trabalho, principalmente de baixa complexidade e repetitivos, pelo uso de máquinas.

Por outro lado, o estudo mostra que a digitalização também traz um viés positivo, com o aumento das oportunidades em áreas como tecnologia da informação, saúde e educação. Outra tendência que se destaca é a flexibilização das relações de trabalho acarretada pelas mudanças na legislação.

Este último ponto, especificamente, facilitou a contratação de funcionários de forma intermitente, por exemplo. Isso levou a uma redução de vagas em regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a uma crescente busca por alternativas informais, como trabalho com aplicativos ou como microempreendedores.

Todos os cenários para os próximos anos trazem desafios e oportunidades, apontando setores e carreiras promissoras para a inclusão produtiva de jovens, e envolvem basicamente um grupo de cinco novas economias, como é possível conferir no box da página seguinte.

Mudanças econômicas que estão vindo aí

  • 01

    Economia verde:

    Contribui para o bem-estar das sociedades, combatendo os efeitos nocivos do processo de mudanças climáticas. Traz oportunidades em campos como energias limpas, turismo sustentável e agricultura.

  • 02

    Economia criativa:

    Também chamada de economia laranja, engloba atividades artísticas e culturais com potencial para criação de trabalho e riqueza. Oferece oportunidades no campo das artes, turismo e audiovisual.

  • 03

    Economia do cuidado:

     Compreende as atividades de cuidado direto e indireto, em uma grande diversidade de serviços, e profissionais como enfermeiros, cuidadores de idosos, empregados domésticos e babás. Também compreende a área da saúde. 

  • 04

    Economia prateada:

    Diz respeito aos produtos e serviços destinados a um público consumidor com 50 anos ou mais. Tem oportunidades em áreas como serviços, cuidados pessoais e saúde.

  • 05

    Economia digital:

    Integra recursos digitais incorporados a indústrias, mercados e diferentes cadeias de produção, no intuito de promover maior eficácia. Ao permear todas as economias citadas anteriormente, apresenta-se como essencial no contexto de mudanças ágeis de mercado, com maior impacto em áreas como educação, saúde e marketing.

Novas profissões crescem em solo capixaba

Com o volume de investimentos previstos para o Espírito Santo nos próximos anos, principalmente na área de petróleo e gás, a estimativa da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) é que sejam necessários 179 mil trabalhadores em ocupações industriais até 2025.

Entre as profissões que vão atender a essas demandas, a gerente-executiva de Educação da Findes, Tatiane Franco, cita três áreas primordiais para as quais as atenções devem ser voltadas: inovação, economia verde, e pessoas e cultura.

Ela elenca ainda profissões que serão cada vez mais necessárias para esse novo cenário em cada área. No campo da inovação, destaque para cientista de dados, engenheiro de dados, desenvolvedor de big data, analista de software e desenvolvedor de BI. Também devem se sobressair as funções de engenheiro da plataforma em nuvem e relacionadas à cibersegurança.

Na área de pessoas e cultura, deverão ser exigidos desenvolvedores de novos produtos, analistas de produto e engenheiros de qualidade.

E para a economia verde, serão demandados especialistas de sustentabilidade, especialistas em processamento de biocombustíveis e especialistas em projetos de energia eólica e ainda de prevenção de incêndios florestais. “Essas vão ser algumas das principais demandas da área industrial do Espírito Santo, bem como do mundo.”, afirma Tatiane.

Tatiane Franco monitora tendências do setor industrial no Estado
Tatiane Franco monitora tendências do setor industrial no Estado. (Divulgação)
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Aqui no Estado, caminhamos ao encontro do que está acontecendo no mundo das indústrias que são relevantes e também vêm protagonizando esse cenário

Tatiane Franco
Gerente-executiva de Educação da Findes
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Desenvolvimento deve começar cedo

Guilherme Cintra, diretor de Inovação e Tecnologia da Fundação Lemann, ressalta que uma das demandas do mercado é atrair cada vez mais profissionais que consigam atuar com resolução de problemas de forma criativa e trabalhar as habilidades humanas e sociais.

“Além do conteúdo, é preciso trabalhar nos alunos suas habilidades e competências. Com o apoio da tecnologia, elas podem reforçar os pontos altos e fazer com que eles se desenvolvam melhor profissionalmente. Para a escola, um caminho é trabalhar nesse conceito. E a primeira coisa é ter acesso a recursos adequados, que vão da conectividade de equipamentos até a formação para os professores, além de um currículo embasado, para que ele possa articular esses conhecimentos em prol da habilidade dos alunos”, frisa.

Guilherme Cintra diz que habilidades devem ser exploradas na educação
Guilherme Cintra diz que habilidades devem ser exploradas na educação. (Divulgação)

Para Carla Chiamareli, gerente de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, o desenvolvimento do raciocínio lógico pode ser trabalhado desde a infância. Nessa primeira fase, ela detalha que isso pode ser desenvolvido com jogos e brincadeiras livres. Nos anos iniciais, já podem ser trabalhadas as competências em prol de uma atuação coletiva.

“Fizemos em 2021 uma pesquisa sobre como as empresas veem as potências e dificuldades dos jovens. Eles são contratados por competências técnicas, mas 77% são dispensados por falta de competências socioemocionais, tendo problemas com criticidade, flexibilidade e adaptabilidade. Isso tudo pode ser trabalhado em todo o processo de educação básica”, sugere.

Mudanças no modelo de ensino podem estar a caminho

Quando olhamos os números e as tendências de mercado, parece óbvio que o mundo do trabalho que conhecemos hoje está prestes a sofrer uma grande transformação, certo?! Mas não é só no ambiente corporativo que as coisas serão modificadas. A psicóloga Martha Zouain

destaca outro ponto importante direcionado aos centros de formação: para ela, o ensino precisa acompanhar as mudanças para garantir que esteja preparando os profissionais para as novas oportunidades.

“Currículos e programas acadêmicos precisam ser revisados para incorporar habilidades e conhecimentos relevantes para a era digital. Isso inclui habilidades técnicas, como programação, análise de dados, compreensão de IA e habilidades de cibersegurança. Além disso, as habilidades não técnicas, como pensamento crítico, resolução de problemas, colaboração, comunicação eficaz e adaptabilidade, serão condição de sobrevivência em um mundo em constante mudança”, frisa.

Essa adequação no currículo das escolas também foi sublinhada por Carla Chiamareli, gerente de Gestão do Conhecimento do Itaú Educação e Trabalho. Para ela, um caminho para a preparação do jovem para o futuro das profissões é investir no ensino técnico aplicando o conhecimento na prática.

A gerente salienta que hoje é preciso prever dentro dos currículos que os jovens tenham situação real aprendizagem. Defende, ainda, que a escola disponha de meios para emancipar os estudantes a desenvolver a criatividade e o raciocínio lógico. Nesse sentido, cada vez mais as competências têm que estar presentes na formação, o que é o princípio da educação técnica, que une teoria à prática.

Carla Chiamareli defende que potenciais socioemocionais devem ser trabalhados desde a infância
Carla Chiamareli defende que potenciais socioemocionais devem ser trabalhados desde a infância. (Divulgação)

“Quando a rede for oferecer curso técnico, é importante olhar para o potencial regional e pensar as profissões que levam ao protagonismo. O mercado não quer um operador de máquinas. Queremos um jovem que crie uma máquina. Ele tem que desenvolver habilidades e competências que permitam isso. É sempre bom olhar para o futuro para que o jovem escolha a profissão em que tenha protagonismo”, afirma Carla.

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