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Futuro do trabalho: como manter profissões tradicionais relevantes?

Futuro do trabalho: como manter profissões tradicionais relevantes?

Faculdades já estão adaptando os currículos, ensinando aos futuros profissionais como as tecnologias e a inteligência artificial podem ajudar no dia a dia, de forma a manter esses trabalhos relevantes e competitivos

Publicado em 28 de setembro de 2023 às 05:02

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Direito é uma das profissionais tradicionais que vêm passando por transformações
Direito é uma das profissionais tradicionais que vêm passando por transformações. (Freepik)

Novas profissões surgem com o avanço da tecnologia, mas como será o futuro daquelas consideradas tradicionais, como Direito, Administração, Contabilidade e Economia? Diante desses avanços e da importância do papel dessas áreas na sociedade, faculdades já estão adaptando os currículos, ensinando aos futuros profissionais como as tecnologias e a inteligência artificial podem ajudar no dia a dia, de forma a manter esses trabalhos relevantes e competitivos.

No campo do Direito, tecnologias baseadas em aprendizagem de máquina e redes neurais já têm sido aplicadas há vários anos, especialmente para empreender análises preditivas em processos judiciais, seja para ajudar magistrados a tomarem decisões, seja para auxiliar advogados em suas estratégias processuais.

É o que destaca o coordenador de Ensino a Distância (EaD) da Faculdade de Direito de Vitória (FDV), Bruno Costa Teixeira.

Ele lembra as inteligências artificiais conversacionais, como Bardo e ChatGPT, passaram a ter impacto no modo como as pessoas trabalham e se relacionam com a tecnologia, cenário que também é vivenciado pelos profissionais da área jurídica.

“Juristas e desenvolvedores de tecnologias digitais sempre tiveram algo em comum: elaboram e manipulam códigos linguísticos, que, por sua vez, modulam a realidade e regulam o comportamento humano. Assim como ocorre com parte das inovações legislativas, o surgimento de novas tecnologias resolve, mas também cria, uma série de problemas, conflitos e dilemas. E a capacidade de enfrentá-los de modo inteligente e criativo é justamente o que se espera dos profissionais da área”, destaca.

O professor enumera uma série de novas possibilidades em que a tecnologia pode auxiliar no Direito. Além de a IA ser assistente de tarefas repetitivas e burocráticas, pode ajudar na tomada de decisões, com magistrados usando-a para recuperar e identificar tendências em decisões anteriores, auxiliando na fundamentação de suas sentenças.

Bruno Costa, da FDV, diz que IA já é realidade no mundo jurídico
Bruno Costa, da FDV, diz que IA já é realidade no mundo jurídico. (Divulgação)

Outros exemplos citados são no auxílio à transcrição e também à análise de contratos e leis. “Através do machine learning, é possível analisar rapidamente contratos e leis, identificando potenciais conflitos, ambiguidades ou desvios de padrões estabelecidos”, detalha.

Diante dessas transformações no dia a dia da profissão, Teixeira conta que o tema já integra os espaços de aprendizagem e debate na graduação há vários anos, tanto em atividades acadêmicas eletivas quanto na disciplina Direito Digital, que compõe a grade regular do curso e tem como objeto de estudo os impactos jurídicos da inteligência artificial.

“Acreditamos que a transformação dos ambientes de aprendizagem do Direito, ampliada pelas IAs, abrirá espaço para que os estudantes desenvolvam as competências e habilidades imprescindíveis ao enfrentarem problemas típicos do mercado profissional, cujas soluções mais inteligentes e criativas provavelmente serão, cada vez menos, estritamente jurídicas ou tecnológicas e, cada vez mais, uma combinação de ambas”, frisa.

O diretor acadêmico da FDV, Ricardo Goretti, salienta que diante do fato de o conflito ser o objeto de intervenção dos profissionais do Direito, sempre haverá mercado para esses profissionais, tanto no campo da prevenção, quanto no da resolução.

“As IAs podem ser exploradas como auxiliares nesses processos, porém acreditamos que existem competências e habilidades mais complexas que essas tecnologias não poderão desempenhar com a mesma eficiência, atividades humanas que dependem de inteligências criativas e relacionais”, analisa.

Economia e Contabilidade, como ficam?

Na avaliação do diretor-presidente da Fucape, Valcemiro Nossa, neste contexto de transformações, que já aconteceram também no passado, as profissões não acabam por si só, elas se modernizam.

“O que acaba são os profissionais que não se atualizam com as novas tecnologias, aqueles que não se modernizam. Vejo os avanços como grande apoio e ferramenta para que o profissional faça o trabalho de forma mais ágil, assertiva e competitiva”, pontua.

Dessa maneira, o professor conta que, na faculdade, sua equipe já monitora esses avanços nas tecnologias e busca antecipá-los, levando esses conceitos mais atualizados e o impacto da inteligência artificial para a sala de aula.

“Nos cursos de Administração, Economia e Contabilidade, inserimos matérias de Ciência de Dados e de IA de forma introdutória. Outra coisa que sempre trabalhamos aqui e vem ao encontro das necessidades é o raciocínio lógico e analítico. E como adquirimos isso? Estudando muita matemática. Temos muita matemática no curso. Muitos se perguntam onde vão usar as fórmulas no dia a dia. Mesmo sem serem usadas, elas foram úteis para treinar a mente para o raciocínio lógico”, defende.

A faculdade também tem um hub de inovação desde 2018 com atuação de 16 startups que passaram a ser um laboratório para os alunos. Elas levam desafios para a sala de aula e contam com a ajuda dos alunos. Outro movimento da instituição em prol das profissões do futuro é a criação de um novo curso para 2024: Ciência de Dados para Negócios.

Qualificação profissional é prioridade no ES

Mesmo de olho no futuro, é preciso pensar a formação também nos dias de hoje para atender às demandas atuais do mercado. Para tanto, o Espírito Santo investe na qualificação profissional, preparando mão de obra, gerando emprego e renda. E, para facilitar o acesso ao ensino, o governo do Estado possui programas de educação que contribuem para o desenvolvimento do capixaba.

Bruno Lamas, secretário estadual da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti), ressalta que o planejamento estratégico tem três eixos: a educação, a sustentabilidade e a inovação e tecnologia.

Ele ressalta que os programas de educação profissional do governo do Estado são robustos. Há uma modalidade de qualificação no primeiro nível, o Qualificar ES, que oferece 70 cursos em 140 polos, e um programa em que o Estado compra da iniciativa privada bolsas em instituições de ensino.

“Além disso, contamos com nossas próprias escolas, que são os centros de ensino técnico de alto nível de qualificação profissional. Essa rede está sendo ampliada e vai chegar a oito escolas. Agora, vamos inaugurar em Castelo e em Vargem Alta”, adianta o secretário.

Bruno Lamas
Bruno Lamas, secretário da Secti, destaca oportunidades de qualificação gratuitas oferecidas pelo Estado. (Divulgação)

Para o ingresso no ensino superior, frisa Bruno Lamas, o governo ainda dispõe do Nossa Bolsa, com bolsas de graduação na rede privada, e também a Universidade Aberta Capixaba (Unac), que funciona por meio de polos em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) com diplomas emitidos pelas instituições federais. Na Unac, há também cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado.

O secretário observa que os cursos ofertados resultam de uma coleta de informações de todos os setores da economia capixaba.

“São demandas induzidas que transformamos em qualificação em vários níveis. Eu posso citar como exemplo a pós-graduação em Cidades Inteligentes. Ela nasceu este ano, mas já temos 200 alunos fazendo pós-graduação pela Ufes, financiados pelo governo do Estado, dentro da nossa Unac”, valoriza.

O secretário acrescenta que, em outubro, será inaugurado em Vitória um hub criativo para um ambiente de inovação do Espírito Santo, que já conta com um programa de aceleração de startups. “Um Estado com os setores de serviços, comércio e agricultura fortes, rocha, café, gás e petróleo, tem que ser um elo para entregar essa mão de obra qualificada, e nós temos sido”, conclui Bruno Lamas.

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