Vini Jr. foi gigante contra o racismo, mas não pode continuar lutando sozinho

O racismo que acompanha o futebol espanhol (e não só lá) precisa ser combatido de verdade, com punições que reforcem a atitude criminosa desses torcedores. Do contrário, é só cumplicidade

Publicado em 23/05/2023 às 01h00
Futebol
Vini Jr. é alvo de constantes ataques racistas na Espanha. Crédito: Reprodução/Instagram

Vinicius Junior, um dos jogadores mais aclamados do futebol atual por seu talento com a bola, ao apontar para um torcedor do Valencia e denunciar com vigor o racismo, tomou a parte pelo todo, diante de uma torcida que o chamava incessantemente de "macaco".  Não foi um caso isolado, há um histórico de violência racial contra o jogador, mas a reação incisiva da estrela do Real Madrid, apontando o dedo, personificou o racismo que se espalhava, sem rosto, pelo estádio.

É essa a atitude de grandeza do século XXI, a de não se calar diante de tamanha atrocidade. Mas ficou evidente que Vinicius Jr. chegou ao seu limite. É  inaceitável que pessoas ainda sejam hierarquizadas pela cor da pele. O mundo precisa assistir a homens e mulheres levantando a própria voz contra a opressão. Se Vini Jr, um craque da bola e ídolo de tantos, ainda vivencia essas situações de racismo diante dos holofotes, os anônimos de todo o planeta também continuam vulneráveis. Mas estão reagindo.

A postura de Vini Jr, com suas feições equilibrando o cansaço de quem não suporta mais ataques racistas jogo após jogo  e a dignidade de quem sabe que está fazendo o que é certo, deveria ter encontrado apoio de seus pares dentro de campo. A violência sofrida por ele foi descomunal, mas não suficiente para o juiz tomar uma atitude enérgica. Pelo contrário, o próprio jogador acabou expulso. Foi uma vergonha a partida não ter sido encerrada. Foi um acinte o jogador ter sido desacreditado pelo próprio presidente da La Liga, Javier Teba. 

O racismo que acompanha o futebol espanhol (e não só lá) precisa ser combatido de verdade, com punições que reforcem a atitude criminosa desses torcedores. Do contrário, é só cumplicidade. O clube precisa se posicionar, os jogadores precisam fazer pressão, para que esses criminosos racistas sejam punidos e sirvam de exemplo. Se mantida a omissão das autoridades espanholas, não somente as ligadas ao esporte, será a confirmação da naturalização desse crime no país.

O técnico do Real Madrid, Carlo Ancelotti, foi o que mais se aproximou de uma condenação do ato. Ele conseguiu sintetizar o momento crítico do futebol espanhol, dando a devida dimensão do problema ao se recusar a falar sobre qualquer outro assunto na coletiva após o jogo que não fosse o episódio de racismo:

“Não quero falar de futebol. Vocês querem falar de futebol? Foi mais que uma derrota. Não parece? Eu sou muito calmo, mas aconteceu algo que não pode acontecer. Um estádio gritando 'macaco' a um jogador, e um treinador pensar em ter que tirá-lo por isso. Algo está muito errado nesta liga. Nada acontece.”

Vini Jr. está sendo craque sem a bola nos pés ao se posicionar, ao gritar, ao desafiar as autoridades do futebol. Mas ele não precisava estar passando por isso, deveria estar construindo a sua carreira brilhando dentro das quatro linhas, sem sofrer agressão tão terrível.

Em tom de desabafo, o jogador afirmou: "Vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui". Se chegar a esse ponto de abandonar o país, a decisão deverá receber apoio incondicional. Um artigo publicado no "The New York Times" foi certeiro: "Se Vinicius Junior decidir que quer deixar o Real Madrid pelos ataques racistas regulares que sofre e a falta de apoio que recebe, o futebol espanhol vai perder um de seus talentos mais brilhantes, e será 100% responsável por isso".

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