Tudo o que a polícia não pode ser

Caso do adolescente de 17 anos que, sob custódia de três policiais militares, foi jogado da Segunda Ponte precisa ser apurado com rigor, dada a gravidade da situação

Publicado em 05/06/2025 às 01h00
Quartel da PM
Quartel da PM. Crédito: Carlos Alberto Silva

É grave demais que três policiais militares estejam presos sob suspeita de terem arremessado um jovem de 17 anos, sob a custódia deles, da Segunda Ponte, que conecta Vitória, Vila Velha e Cariacica. O corpo do adolescente foi encontrado por um pescador na Orla de Cariacica um dia depois do seu desaparecimento, em 18 de fevereiro deste ano.

No inquérito policial da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cariacica,  os policiais militares foram indiciados por homicídio qualificado, sem chance de defesa para a vítima. O Ministério Público do Estado do Espírito Santo ofereceu denúncia nos mesmos termos. E o caso tramita em segredo de Justiça.

A sociedade precisa saber o que aconteceu, pois a conduta desses agentes é de interesse público. Os policiais envolvidos, naquela ocasião, levaram o adolescente à Delegacia Especializada do Adolescente em Conflito com a Lei (Deacle) porque ele tinha um mandado de apreensão em aberto por envolvimento em um roubo ocorrido em 2023. Lá, foi constatado que o pedido já havia vencido e houve a orientação de que ele fosse levado para casa.

O que aconteceu no caminho é o que precisa ser explicado. Há imagens anexadas ao inquérito policial nas quais, segundo a mãe do jovem morto, ele aparece sendo jogado da Segunda Ponte. Aos policiais, é assegurado o direito à ampla defesa, uma garantia constitucional. Mas eles também precisam explicar como um adolescente sob sua guarda apareceu morto. Independentemente dos atos infracionais que o jovem possa ter cometido, a polícia precisa garantir a sua integridade física. Os agentes da lei não podem fazer suas próprias leis. Não há espaço para esse tipo de violência ou negligência no Estado democrático de Direito.

É mais um caso trágico que reforça a necessidade do uso de câmeras corporais, para garantir mais controle, transparência e segurança à atividade policial. A programação do governo estadual é de que todas as forças de segurança utilizem o equipamento na farda até o fim deste ano. É o que se espera.

A apuração precisa ser rigorosa e, se for confirmado mais esse caso de violência policial, a punição deve ser exemplar, tanto pela Justiça quanto pela própria corporação, inclusive revisando suas condutas e estruturas de fiscalização da atividade policial. Essa violência é algo que não pode acontecer em nenhuma hipótese.

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