Prédio em Vila Velha: negligência na construção civil é inaceitável

Falta de fiscalização do poder público e descaso com a execução das obras colocam em risco a vida de famílias que investiram seus recursos na compra ou no aluguel dos apartamentos

Publicado em 27/01/2021 às 02h00
Edifício
Prédio com risco de desmoronamento em Vila Velha. Crédito: Reprodução/TV Gazeta

Há quase 23 anos, o desabamento parcial do Edifício Palace 2, no Rio de Janeiro, numa noite de carnaval, deixou oito mortos. O prédio se tornaria então um emblema nacional das tragédias decorrentes de problemas de execução em obras da construção civil. Houve muita controvérsia sobre as causas do desmoronamento de parte do prédio de 22 andares na Barra da Tijuca, com divergências entre laudos, mas ficou comprovado que houve falhas na construção dos pilares, subdimensionados em relação ao projeto.

Ainda é cedo para cravar o que provocou os danos estruturais que obrigaram os moradores do Edifício Santos 2, em Nova Itaparica (Vila Velha), a deixar seus lares por questões de segurança. Moradores de prédios e casas vizinhas e comerciantes do entorno também tiveram que deixar o local, por conta do risco de desabamento. São mais de 200 pessoas vivendo uma calamidade, ainda sem perspectivas de retorno. 

Contudo, um primeiro levantamento realizado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-ES) indica divergências relevantes entre o projeto e o que foi executado, como o uso de menos aço na estrutura das colunas. Uma falha de engenharia que, se confirmada, colocou em risco a vida de proprietários e locatários dos apartamentos. Engenheiros do Crea-ES afirmam que haverá a necessidade de intervenções profundas para verificar, reforçar e reconstituir a fundação.

Nesta terça-feira (26), a Prefeitura de Vila Velha informou que o prédio de cinco andares não tinha autorização para ser construído, o que é alarmante. Sabe-se que construções irregulares se espalham por bairros dos municípios da Grande Vitória, mas chega a ser inacreditável que uma obra desse porte tenha passado incólume aos olhos da fiscalização municipal. O trâmite burocrático exige que o engenheiro responsável apresente os projetos à prefeitura, que dá ou não o aval para o início da obra. Agora, outras obras da construtora estão sob suspeita da mesma irregularidade.

A Construtora Santos, responsável pela construção, tem muito a explicar. O proprietário chegou a enviar um áudio aos moradores no qual alegava que o risco do prédio desabar teria sido causado por algum "morador bêbado ou drogado que acertou as colunas", o que também foi descartado pelo Crea-ES.

As investigações seguem, mas os indícios apontam não só para o desleixo na obra, algo inaceitável por colocar em risco a vida de famílias que investiram seus recursos para conseguir a casa própria ou alugar um apartamento naquele espaço e agora se encontram desamparados, como pelas irregularidades na documentação. O poder público faz vista grossa, ao mesmo tempo que empresários não cumprem com suas responsabilidades.

Em dezembro, o desabamento de duas torres d´água de 15 metros no Residencial São Roque, em Padre Gabriel (Cariacica), também ecoou o possível descaso na construção civil. Uma pessoa morreu e dezenas de famílias foram afetadas, e só agora começam a retornar para seus apartamentos do Minha Casa, Minha Vida.

O residencial havia sido inaugurado dias antes, em 14 de dezembro, após três anos de obras. O laudo do Crea-ES ainda aguarda as informações da fabricante das caixas, a Camarço Reservatórios, para ser concluído. A construtora Cobra Engenharia deu um prazo de até 60 dias a partir da perícia, realizada em janeiro, para concluir seu laudo.

Construtoras devem ter em mente a responsabilidade  com a segurança que é indissociável da construção civil. São pessoas que utilizarão esses espaços, que devem ser invulneráveis do ponto de vista estrutural. E o poder público tem que cumprir seu papel fiscalizador. A negligência, nesses casos, pode matar e, no menos pior dos cenários, desabrigar famílias inteiras.

desabamento da área de lazer do Grand Parc, em Vitória, é outro caso emblemático, que provocou a morte de um funcionário do condomínio de luxo. Três anos depois, o local foi reconstruído e reinaugurado. O trauma, contudo, não desaparece, assim, de uma hora para outra. 

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