Poder público deve se unir para tirar BR 262 da beira do precipício

Importante rodovia do Espírito Santo, que já se encontrava em situação dramática, agora corre risco de colapso após as recentes chuvas. É um aniversário melancólico para a estrada, que acaba de completar 50 anos

Publicado em 30/11/2019 às 04h00
Atualizado em 30/11/2019 às 04h02
Deslizamento de terra bloqueia metade da pista da BR 262 próximo a Pedra Azul. Crédito: Divulgação
Deslizamento de terra bloqueia metade da pista da BR 262 próximo a Pedra Azul. Crédito: Divulgação

Os pessimistas diriam que nada é tão ruim que não possa piorar. Quando o assunto é a BR 262, fica difícil se livrar dessa disposição de espírito ao ver que a importante rodovia do Espírito Santo, que já se encontrava em situação dramática, agora corre risco de colapso após as recentes chuvas. É um aniversário melancólico para a estrada. Ao completar 50 anos, figura como um exemplo da falta de planejamento e gestão das administrações públicas.

Não é de hoje que capixabas e turistas, empresários e motoristas de veículos de carga exigem a modernização da via. Com seu traçado perigoso e sua pista simples, a BR 262 já registrou 474 acidentes até outubro deste ano, apenas no trecho que corta o Espírito Santo. Mais de um por dia. Mas antes que os problemas de segurança e logística fossem resolvidos, algo ainda mais urgente se sobrepôs. O que era ruim piorou.

Para os antigos problemas, até agora pouco foi feito. E esse pouco encontrou pedras no caminho. A duplicação de minúsculo trecho de 7 km entre Marechal Floriano e Domingos Martins, conduzida pelo Dnit, foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União por indícios de irregularidades. Com isso, uma verba de R$ 54 milhões de emendas parlamentares, que se dirigia à estrada, teve seu trânsito desviado.

A longo prazo, a saída é a concessão, mas o trajeto até uma parceria com a iniciativa privada também é sinuoso. No passado, um leilão fracassou e outra articulação para oferta foi pavimentada, mas colapsou, como a estrada agora corre o risco de colapsar. O próximo leilão, marcado para o ano que vem, prevê que os 180 km da rodovia no território capixaba só estejam totalmente duplicados em 2040. Isso se nada der errado, o que demanda mais esperança do que um brasileiro pode dispor.

A incapacidade de o Planalto arcar sozinho com a conta é inegável. Neste ano, o dinheiro reservado pelo governo federal para toda a infraestrutura rodoviária foi de R$ 6,2 bilhões. Quase R$ 3 bilhões a menos do que o investimento necessário somente para a duplicação da BR 262, que é de R$ 9,1 bilhões, segundo a ANTT.

Mas o que se viu nos últimos dias é bem mais grave do que um traçado antiquado. Imagens de drone feitas pela TV Gazeta mostraram que a rodovia está à beira do precipício: em um curto trecho de 15 quilômetros, foram registrados 52 deslizamentos. Os prejuízos são incalculáveis com um colapso da BR 262. Acima de tudo, há o risco à vida. Em seguida, há o fato de que a estrada é arterial para a economia do país, por desaguar a produção de Minas Gerais e do Centro-Oeste para o Porto de Vitória. Turismo e agricultura capixabas seriam extremamente afetados.

Não é razoável que a BR 262 espere por um contrato de concessão para ver problemas tão prementes resolvidos, da mesma forma que não se marca consulta para tratar uma hemorragia. O triste mas conhecido jogo de empurra de autoridades deve dar lugar à união de forças. Governos estaduais, bancadas federais e União precisam buscar uma solução para que os motoristas não tenham mais que se aventurar na BR 262, no pior sentido.

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