Onda de ataques em Vila Velha: paz não pode ser um artigo de luxo

Há todo um xadrez do crime que é de conhecimento das autoridades. Na semana passada, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) também determinou o emprego de todos os recursos operacionais possíveis na região

Publicado em 21/07/2025 às 01h00
Pavimentação de ruas de Barramares, um dos bairros que integra a Região 5
 Barramares, um dos bairros que integra a Região 5. Crédito: Adessandro Reis/Secom PMVV/Divulgação

Em meio à barbárie dos ataques promovidos por traficantes em bairros periféricos, na maior parte dos casos por disputas de pontos de venda, o que mais causa indignação são as vítimas que nada têm a ver com essa história. Moradores que estão ali, tentando levar a vida com dignidade, mas impedidos pelo medo constante. A paz acaba sendo um artigo de luxo.

Na quinta-feira (12), quando a onda de violência mais recente começou a ganhar corpo na Região 5 de Vila Velha, composta por 22 bairros, houve vítimas assim: uma mãe e seu filho de 9 anos, baleados por um grupo que passou atirando dentro de um carro em Ulyssses Guimarães.

Em outro bairro do município, afastado da Região 5 que é o epicentro mais recente da violência, o mesmo modus operandi dos ataques: carros que passam atirando a esmo ou na direção de algum grupo de pessoas. Na ocasião, na última quinta-feira (17), quatro pessoas foram baleadas. E chamou atenção a fala de um morador ouvido pela TV Gazeta, que disse que os tiroteios por ali são frequentes: "Para não morrer, temos que ficar presos dentro de casa".

Sobre os ataques na Região 5, as autoridades de segurança pública estão fazendo um trabalho de inteligência importante. Em reportagem deste jornal, elas expuseram a dinâmica da guerra do tráfico na região, após a prisão, em maio, de uma liderança do Terceiro Comando Puro (TCP)  que comandava o comércio ilegal em dois bairros. Desde então, o Primeiro Comando de Vitória (PCV), que domina os outros 20 bairros, tenta tomar os dois territórios. Contudo, por ter sofrido um racha, os dissidentes estariam financiando armas para o TCP resistirem. Uma trama que foi contada pela repórter Júlia Afonso na semana passada.

A colunista Vilmara Fernandes também mostrou que a Justiça do Espírito Santo decidiu manter em Rondônia lideranças do PCV que voltariam aos presídios capixabas, alegando “forte capacidade de articulação e comando, mesmo no interior do sistema prisional estadual”.

Há, portanto, todo um xadrez do crime que é de conhecimento das autoridades. Na semana passada, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) também determinou o emprego de todos os recursos operacionais possíveis na região. O que, a depender do nível de ousadia dos criminosos, pode ser um respiro de tranquilidade para a população que vive nesses bairros e sofre com o acirramento da violência em tempos de disputa de facções.

O problema é que as tensões, muito em breve, estarão em outros bairros, em outras cidades, já se conhece suficientemente bem como se dão as disputas entre as facções para se prever esse movimento. E assim as tréguas que essa parte considerável dos cidadãos consegue acabam sendo curtas demais. O que é uma injustiça que, como sociedade, ainda somos incapazes de resolver.  E isso exige ainda mais empenho de todos os agentes públicos políticos e forças de seguranças no reforço da vigília nos presídios e nas ruas.

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