
O Pix tem sido tão inovador nas transações financeiras que está provocando um comportamento inusitado, que certamente nem tenha sido previsto quando foi criado, em 2020: as relações comerciais baseadas na confiança, impulsionadas pela praticidade do pagamento, que pode ser feito em outro momento. Uma espécie de "pendura" tecnológica que, contra todas as probabilidades, funciona.
Uma reportagem deste jornal com dois empreendedores que vendem doces nas ruas, Larissia Nobre, de 30 anos, e Jonhson Apolinário, de 40 anos, acaba sendo uma injeção de ânimo em quem acredita que a desonestidade é a regra no Brasil. Pelo contrário, a experiência deles mostra que os negócios podem prosperar baseados na confiança. Vale ver o vídeo abaixo para conhecer essas duas histórias:
No caso de Larissia, as circunstâncias a motivaram a adotar o "Pix da confiança": foi na praça do pedágio da Terceira Ponte que ela viu as vendas da pipoca gourmet crescerem; com o fim da cobrança e a retirada das cancelas, os carros não paravam mais por um tempo hábil à venda. Foi quando teve a ideia de imprimir um QR Code e colá-lo na embalagem, possibilitando o pagamento posterior pelo cliente. Deu certo.
"As pessoas esquecem de pagar na hora, mas muitas voltam no dia seguinte. Recebo mensagens com comprovantes, gente pedindo desculpa. É muito legal", disse ela.
Já Jonhson começou o próprio negócio com o propósito mesmo de confiar nas pessoas na hora de vender seus biscoitos no sinal, no Centro de Vitória. "Decidi olhar para as pessoas e confiar nelas. Prefiro focar em quem paga e, surpreendentemente, a maioria das pessoas paga".
Diante de tantas notícias de golpes e fraudes todos os dias, é de fato revigorante saber que é possível ter sucesso em um negócio com base na honestidade das pessoas. Na essência, é justamente a confiança que pode fortalecer as relações sociais. É assim que se prospera.
O brasileiro tem um histórico de inovações, modalidades de pagamento que nem sequer existem em outros países, que de certa forma também se baseavam na confiança: o velho cheque pré-datado é um exemplo, assim como parcelamento no cartão de crédito. Aliás, o próprio crédito só existe porque existe credibilidade: a certeza de que a dívida será paga no futuro.
Existe um "jeitinho brasileiro" bem diferente do estigma a que estamos acostumados: um jeitinho que busca formas de melhorar, com benefícios mútuos, para comerciante e cliente. Um jeitinho brasileiro do bem, em que a ética é algo esperado e natural, mesmo quando ninguém está vendo.
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