Até Trump já sabe que Pix é o Brasil que dá certo

Investigação comercial contra o Brasil, acusado pelos EUA de "práticas desleais em relação aos serviços de pagamento eletrônico", é mais um elemento a reforçar a revolução provocada pela ferramenta do Banco Central

Publicado em 18/07/2025 às 01h00
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Pix. Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Antes de mais nada, é preciso esclarecer as coisas. A investigação comercial contra o Brasil determinada pelo presidente Donald Trump nos EUA e divulgada nesta semana cita que o país "parece envolver-se em uma série de práticas desleais em relação aos serviços de pagamento eletrônico, incluindo, mas não se limitando a promover seu serviço de pagamento eletrônico desenvolvido pelo governo".

Para bom entendendor, as autoridades norte-americanas estão se referindo ao Pix, forma de pagamento digital lançada em 2020 que rapidamente ganhou a adesão dos brasileiros, sendo que em 2024 superou o dinheiro e passou a ser o meio mais usado no país.

Trump, contudo, não tem poderes para acabar com o Pix. O que pode ocorrer é, se a investigação comprovar irregularidades — "se atos, políticas e práticas do governo brasileiro são irracionais ou discriminatórios e oneram ou restringem o comércio dos EUA" —, a imposição de retaliações, como tarifas adicionais e suspensão de benefícios comerciais. Não deixa de ser uma pressão contra o Brasil, que pode ou não se concretizar.

Mas o novo episódio no circo de Donald Trump acaba expondo que a força do Pix ultrapassa as nossas fronteiras. Afinal, o que parece é que o presidente dos EUA age para proteger as big techs, além de serviços de pagamentos e bandeiras de cartão de crédito americanos. E é interessante ver o Brasil como pivô de uma disputa tecnológica. O Pix é gratuito, instantâneo e se disseminou rapidamente por facilitar as transações. É, sim, motivo justo de ufanismo.

A própria dinâmica da criação e do desenvolvimento da ferramenta tem muito a ensinar. Embora tenha nascido na gestão Bolsonaro, o Pix foi gestado no mandato de Michel Temer. Obviamente, é um legado que todos querem para si, algo parecido com o que ocorreu com o Plano Real na década de 90. Mas o que importa de fato é que o Pix só conseguiu se fortalecer por ter sido uma inovação tratada como política de Estado. O Pix não é de um governo, é de todo o país. 

Ninguém mexe com o Pix. O modelo foi tão abraçado pelo brasileiro que qualquer movimento nesse sentido tem repercussões na opinião pública. Basta lembrar o que ocorreu no início deste ano, quando uma onda de desinformação sobre novas normas de monitoramento dos pagamentos acima de R$ 5 mil provocaram uma crise política que fez o governo federal abandonar a ideia, após não saber comunicar o que queria com a medida.

O Pix é hoje fundamental para a economia brasileira. É o Brasil que dá certo, e isso nem Donald Trump pode negar.

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