Não adianta culpar chuva por erros do poder público e da população

Diante dos alagamentos, não se pode afirmar que “choveu mais do que o previsto” quando faltam obras estruturais, como estações de bombeamento. Também não se pode responsabilizar apenas governos quando até sofás são descartados em canais

Publicado em 13/11/2019 às 16h09
Ônibus presos no alagamento na avenida César Hilal, na Praia do Suá. Crédito: Vitor Jubini
Ônibus presos no alagamento na avenida César Hilal, na Praia do Suá. Crédito: Vitor Jubini

Em meio aos relatos de pessoas que tiveram casas e comércios alagados entre a madrugada de terça-feira (12) e a manhã desta quarta-feira (13) na Grande Vitória, há dois tipos de situação: a de quem enfrenta o mesmo drama a cada chuva mais forte e a daqueles que, pela primeira vez em suas vidas, viram suas ruas inundadas, seus imóveis invadidos pela água. A constatação é que o problema não só é frequente, como vem se agravando.

O aposentado Agostinho Feller, 83 anos, morador do bairro Vasco da Gama, em Cariacica, e o comerciante Eguimar Roque, 54 anos, que trabalha no bairro Alecrim, em Vila Velha, são as duas faces desse problema. O primeiro nunca tinha visto seu quintal ser invadido pela água até esta manhã, enquanto o segundo reclama da negligência com a região. “A prefeitura não faz a parte dela, e a população também não ajuda”, disse, referindo-se à falta de limpeza nos bueiros e ao lixo jogado nas ruas.

O desabafo de Eguimar acerta em cheio o alvo. É preciso esforço conjunto do poder público e da população não apenas para mitigar danos, mas para impedir que novas inundações ocorram e, com elas, interrupção dos transportesengarrafamentossuspensão de serviçosprejuízos financeiros e materiaisdesabamentos, desalojamentos e, em ocasiões mais extremas, até mortes.

Governos de ontem e de hoje apresentam falhas, mas a população ainda minimiza sua responsabilidade. Em alguns casos, houve um paradoxal retrocesso trazido por obras vultosas. A inauguração da Rodovia Leste-Oeste foi crucial para a logística do Estado, mas canalizou as águas das chuvas e ampliou uma área de alagamento já histórica em Vila Velha. Obras de macrodrenagem faziam parte do projeto da rodovia, mas ficaram para 2020. De quebra, no mesmo município, o Plano de Redução de Risco, para indicar áreas vulneráveis e apontar soluções, deveria estar pronto desde 2012, mas até maio deste ano, quando houve outro grande alagamento, ele não existia.

Diante dos alagamentos, constantes ou inéditos, não há espaço apenas para afirmações de que “choveu mais do que o previsto” quando faltam obras estruturais, como estações de bombeamento, comportas e elevatórias, ou quando houve permissão para a ocupação desornada do solo. Também não dá para reclamar apenas do descaso de governos quando até sofás são descartados em canais. Uma gestão das águas eficiente é compartilhada entre as diferentes esferas do poder público e a população. Enquanto não houver essa sinergia, décadas de descuido e falta de planejamento acumuladas vão continuar a desaguar em caos.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.