
Não dá para aceitar tanta violência sem algum tipo de reação organizada da sociedade capixaba. Neste fim de semana, mais duas mulheres não tiveram a chance de seguir com suas vidas porque seus ex-companheiros não aceitaram o fim dos respectivos relacionamentos. São mais duas mulheres com o destino traçado pela violência no Espírito Santo. E a sensação é a de que, a cada dia que passa, os enredos dos feminicídios no Espírito Santo ficam ainda mais aterrorizantes.
Em Guarapari, no último sábado (22), a gerente comercial Laís Leoterio das Neves Silva, de 25 anos, foi morta a tiros pelo ex-marido Gleyson dos Santos Rosa, de 25 anos, em uma verdadeira emboscada. Ela voltava de carro do trabalho, enquanto o ex estava na garupa de uma moto, que parou diante do veículo de Laís. Houve uma discussão, ele atirou na ex-mulher e em seguida tirou a própria vida.
Já no domingo (23), Joyce Moura dos Santos, de 20 anos, foi morta também pelo ex-companheiro com golpes de faca e pedaços de concreto em Cariacica. Ela chegou a pular um muro de cerca de 3 metros para escapar, mas não conseguiu. Acabou assassinada na frente da filha de 2 anos.
No caso de Guarapari, chamou atenção a ação no meio da rua e a decisão do ex-marido de tirar a própria vida. Se as circunstâncias se confirmarem assim, poderão ser indícios de uma premeditação. Ela tinha medida protetiva desde julho do ano passado, e segundo os familiares as ameaças não cessaram. No crime de Cariacica, vizinhos falaram que a relação dos dois era tumultuada. A jovem também foi morta em via pública, em um beco.
Estamos cansados de saber que essas mulheres são vítimas de um machismo arraigado à sociedade, com homens considerando as mulheres suas posses, tendo o poder de decidir se elas podem ou não viver. Mas, mesmo diante dessa insistente constatação, os feminicídios continuam recorrentes, sem trégua. O que se passa na cabeça de um homem que mata a ex-mulher e depois se mata? O que está acontecendo com a vida em sociedade, com as relações humanas, quando alguém chega a esse extremo?
Ainda persiste o senso comum de que esses crimes não podem ser evitados. Ora, as ameaças estavam lá, a medida protetiva também. É, sim, possível prevenir esses crimes, com políticas públicas eficientes. As medidas judiciais e policiais de enfrentamento existem justamente para ser um obstáculo a essa violência, para que ela não se concretize.
Mas o que se anseia, de fato, é a mudança de mentalidade dos homens em seus relacionamentos. Culturalmente, ainda faz falta uma transformação que coloque homens e mulheres em pé de igualdade quando decidirem quais caminhos seguir. E isso só se consegue com educação. E com o poder do exemplo. Não adianta nada ser contra o machismo apenas com a palavra, omitindo as próprias atitudes. Isso vale tanto para as pessoas quanto para as instituições.
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