Do lixo em mangue de Vila Velha às ondas de calor: está tudo conectado

O bom e velho "pense globalmente, aja localmente" nunca deixou de ser necessário, embora o planeta esteja cada vez mais exigindo ações globais, estruturantes, para realmente mitigar os impactos do desequilíbrio ambiental

Publicado em 13/11/2023 às 01h00
Especial Mangue
Lixo em manguezal do Parque da Manteigueira em Vila Velha. Crédito: Fernando Madeira

O verde predominante e vistoso das imagens aéreas esconde uma calamidade ambiental no manguezal do Parque da Manteigueira, em Vila Velha. Um mar de garrafas pet e outros lixos descartados pela população só podem ser vistos por quem ousa se enveredar pela região, entre essas pessoas o guia ambiental Jorge Calazans, um verdadeiro guardião do mangue. 

O trabalho jornalístico realizado por Vilmara Fernandes e Fernando Madeira para expor essa situação, em reportagem publicada por este jornal na última semana, colocou a sociedade capixaba como testemunha dessa tragédia. Por mais localizada que ela seja, não dá para fazer vista grossa. É o bom e velho "pense globalmente, aja localmente" que nunca deixou de ser necessário, embora o planeta esteja cada vez mais exigindo ações globais, estruturantes, para realmente mitigar os impactos do desequilíbrio ambiental que já estão sendo sentidos na pele pela humanidade.

A população, que segue descartando o lixo de forma irresponsável, tem sua parcela de culpa. E o poder público, diante de tanta degradação, precisa fazer mais do que diz estar fazendo. E é oportuno lembrar que a situação do mangue na Manteigueira não é muito diferente de outras áreas de manguezal na Baía de Vitória. Um ecossistema de transição entre a terra e o mar que é morada e berçário de uma fauna rica, sobretudo peixes e crustáceos, fonte de sustento para muitas famílias.

A questão ambiental, portanto, também passa pela redução das desigualdades sociais. Meio ambiente e economia não estão dissociados. É esse o ponto fundamental de tudo o que se discute hoje sobre o tema.

As notícias de mais uma onda de calor no Brasil são recebidas com apreensão. Cientistas do observatório europeu Copernicus anunciaram que 2023 deve ser o ano mais quente em 125 mil anos. O verão europeu deste ano teve temperaturas altíssimas, seguindo a tendência de 2022.  Estimativas do Instituto de Saúde Global de Barcelona apontam que mais de 61 mil pessoas morreram de calor no continente durante a estação, no ano passado. E, para os estudiosos do clima, as mudanças climáticas são um dos fatores principais para a intensidade do calor dos últimos tempos.

Tudo consequência da ação humana. Do micro, como a poluição do manguezal em Vila Velha, ao macro, como as grandes queimadas na Amazônia ou as emissões de gases em escala global, o planeta está sendo consumido e perdendo a capacidade de regeneração.  E isso provoca uma indignação ainda incapaz de grandes transformações.

A Prefeitura de Vila Velha, na reportagem, respondeu que a "prefeitura tenta remover, faz uma constante limpeza dos canais, mas precisamos do apoio da população para manter o equilíbrio ambiental". Jorge Calazans, que mora na região, há um ano tenta fazer sua parte e já chegou a retirar 98 sacos com lixo em um dia.

Em setembro passado, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) anunciou um teste com a utilização de um veículo não tripulado, fabricado na Holanda, para retirar plástico de mangues e rios. Na ocasião, não havia ainda informação de onde o teste seria iniciado. A reportagem da Gazeta deu uma dica a ser considerada.

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