Distância entre muito ricos e pobres expõe polarização social do Brasil

Relatório Riqueza Global, publicado anualmente pelo Credit Suisse, aponta que quase metade da riqueza no Brasil está em posse do 1% mais rico, o que coloca o país como o segundo mais desigual entre os dez avaliados

Publicado em 25/06/2021 às 02h00
Fome
Fome: o prato vazio de muitos brasileiros contrasta com a riqueza de poucos. Crédito: Shutterstock

No Brasil, quase metade da riqueza do país está acumulada nas mãos de quem ocupa o topo da pirâmide social, em plena pandemia. O relatório Riqueza Global, publicado anualmente pelo Credit Suisse, aponta que 49,6% dos recursos estão em posse do 1% mais rico, o que coloca o Brasil como o segundo país mais desigual entre os dez avaliados, atrás apenas da Rússia. Mas o avanço na concentração de riqueza não é localizado: é um fenômeno que se deu globalmente em 2020.

O Brasil, contudo, viu esse processo se acelerar no decorrer da pandemia de forma mais robusta. Os brasileiros mais ricos tiveram um avanço de  2,7 pontos percentuais nas suas fortunas, índice maior até mesmo que o da Rússia, com 1,1 ponto percentual.  “Os grupos mais ricos foram relativamente pouco afetados pela redução no nível geral de atividade econômica e, ainda, se beneficiaram com o impacto da queda de juros na valorização das ações e dos preços de imóveis”, avalia o relatório.  A crise sanitária, já está constatado, não afetou a todos da mesma forma.

O avanço da desigualdade no Brasil salta das comparações de números e percentuais para a vida real. As ruas tendem a ser um termômetro do empobrecimento da população, com o aumento sensível das pessoas que passam a viver nelas. E, na Grande Vitória, isso pode ser facilmente confirmado. Mas a pobreza também consegue se camuflar em quem tem casa, mas vive em estado de insegurança alimentar, sem conseguir garantir comida com o mínimo valor nutricional para a família.

A pandemia acentuou a polarização política, mas o que deve ser a preocupação maior, neste momento, é essa polarização social. Não é o caso de vilanizar os ricos, mas de lutar por um país com mais oportunidades, reduzindo paulatinamente esse abismo que separa a sociedade. Com um Estado mais eficiente, que direcione seus esforços para oferecer aquilo que deveria ser garantido a cada cidadão: educação de qualidade, saúde abrangente, emprego e renda, segurança pública. Uma vida com dignidade, enfim.

Porque não se pode achar normal que um cidadão brasileiro passe fome. Reportagem recente deste jornal mostrou que casos de furto de comida no país estão chegando a instâncias superiores, como o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). No meio do debate entre quem defende que um furto é crime em qualquer circunstância e as posições jurídicas que apoiam o "princípio da insignificância" nos casos de quem subtrai algo para matar a fome, fica uma certeza: uma sociedade na qual indivíduos precisam tirar do outro para comer é uma sociedade que ainda precisa encarar um processo civilizatório profundo. A questão jurídica acaba sendo acessória.

A pandemia, obviamente, não criou a pobreza brasileira, ela já se fazia presente. Houve uma redução acentuada nas últimas décadas que não se consolidou a ponto de se estabilizar, sobretudo por políticas econômicas equivocadas, incapazes de sustentar o crescimento e a consequente melhora da qualidade de vida da população. Mas é a crise sanitária que tem sido capaz de expor com mais nitidez as fragilidades sociais: em meio ao desespero de quem tem fome, e até mesmo à angústia de uma classe média que vê seu salário não chegar ao fim do mês, há 1% da população que conseguiu ficar ainda mais rico.

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