Combate à pobreza é urgência que virou conveniência

Só no Espírito Santo, houve um crescimento de 40% no número de pessoas consideradas pobres entre 2020 e 2021. Estratégia de turbinar benefícios com a PEC Kamikaze ameniza por um tempo a situação, mas não resolve o problema

Publicado em 15/07/2022 às 02h00
Fome
Pessoa com prato de comida vazio: pobreza cresceu 40% no ES. Crédito: Shutterstock

ministro Paulo Guedes defendeu a aprovação da PEC Kamikaze na Câmara dos Deputados tentando construir uma lógica distorcida: "Se há fome no Brasil, se as pessoas estão cozinhando à lenha, esse programa não é eleitoreiro. Ou ele é eleitoreiro e não tinha ninguém passando fome".

Sim, há cada vez mais gente passando fome e empobrecendo no Brasil. Mas a criação de um estado de emergência para poder turbinar benefícios a poucos meses da eleição - com prazo de validade em dezembro - é apenas arrumar superficialmente a casa para a foto. Para a foto eleitoral. 

Os números do Espírito Santo expressam um microcosmo dessa tragédia brasileira.  Dados da Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua (Pnad),  analisados pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), mostram que 1,079 milhão de pessoas no Espírito Santo poderiam ser consideradas pobres em 2021. O equivalente a uma entre cada quatro pessoas no Estado, um aumento de 40% em relação a 2020.

Com a PEC Kamikaze, o governo federal se prepara para abrir as torneiras dos cofres públicos para prestar socorro a essa população que diariamente enfrenta a fome e a vulnerabilidade alimentar,  encarando o desemprego e a queda abrupta da renda. Um socorro que precisou esperar a fase crucial da campanha eleitoral deste ano para ter início. E as intenções oportunistas não encontraram resistência nem mesmo na oposição, também de olho nas eleições.

O Brasil teima em não aprender a fazer a coisa certa. As maiores crises econômicas no país, quando milhões de brasileiros são lançados à penúria, sem oportunidades de emprego e sem qualidade de vida, estão sempre associadas aos períodos de descontrole fiscal. O Estado brasileiro precisa se fazer presente para oferecer saúde, educação, segurança, mas não pode ceder ao excesso de gastos. 

Enquanto isso, as reformas estruturais para consolidar um Estado mais eficiente não conseguem sair do papel. Reformas que cortem os excessos e os privilégios, que racionalizem os tributos, que construam um  Brasil mais justo na distribuição de suas riquezas. A aprovação da reforma da Previdência, em 2019, foi um breve lampejo de esperança de que uma nova forma de pensar o país se consolidasse. Uma arrumação da casa que poderia amortecer os impactos da pandemia e da conjuntura internacional. Mas o país preferiu a letargia.

 O Brasil carece de políticas de Estado que tenham impacto perene na vida dessas pessoas, um pacto pela Educação, por exemplo. A pandemia deveria ter suscitado ações para recuperar as perdas educacionais desta geração, mas só houve omissão.  É uma conta que já está sendo cobrada há tempo demais dos mais jovens.

Despejar dinheiro em benefícios temporários não acaba com a pobreza, não há um projeto vigoroso de país por trás dessa movimentação política. São boas intenções com prazo de validade e interesses bem determinados. 

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