Brasil não pode ceder à selvageria nas eleições de 2022

Desde a redemocratização, as transições eleitorais no país mantiveram um nível de civilidade que, neste ano, dão sinais de que podem não se manter, o que é inadmissível

Publicado em 11/07/2022 às 02h00
Urna (preto e branco)
Novo modelo de urna eletrônica, a ser utilizado em 2022. Crédito: Abdias Pinheiro/TSE

A preocupação com a desinformação no ambiente virtual nas eleições deste ano tem respaldo no tsunami de fake news que se espalhou pelo país durante a campanha eleitoral de 2018. Mentiras que tornam o debate público nebuloso, promovendo a desestabilização institucional que abala a própria democracia. Não há de se estranhar que o combate aos ataques virtuais organizados seja desde então uma prioridade do Judiciário brasileiro. 

É temerário, contudo, que o campo de batalha esteja se movendo da internet para a realidade concreta neste momento de pré-campanha. Em 2018, o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro já mostrou os perigos reais do acirramento da polarização. Nas últimas semanas, o noticiário tem registrado episódios de ataques "presenciais" que acendem o alerta para este segundo semestre politicamente decisivo.

É um atentado à civilidade democrática, com riscos à integridade física dos presentes, que uma bomba caseira e fétida tenha sido lançada em um comício de Lula no Rio de Janeiro. Se fosse uma violência similar durante uma motociata do presidente Bolsonaro, seria igualmente inaceitável. 

No mesmo dia, o juiz que determinou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro teve o seu carro atingido por fezes de animais, ovos e terra. E, no dia 29 de junho, um protesto impediu uma palestra do vereador de São Paulo Fernando Holiday, alinhado à direita do espectro político, na Unicamp. Felizmente, em nenhum dos casos foram causados ferimentos graves, mas não é o momento de pagar para ver. 

O ministro Edson Fachin, que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou o temor de que o Brasil testemunhe nessas eleições um episódio mais grave do que a invasão do Capitólio, nos EUA, em 6 de janeiro de 2021. O aumento da tensão política no país exige um monitoramento amplo e um trabalho de inteligência contínuo, para antever possíveis ataques. A Polícia Federal, inclusive, já promoveu o reforço da segurança dos candidatos a presidente.

Desde a redemocratização, os ânimos políticos nunca estiveram tão exacerbados no Brasil. 2018 foi marcado pela tensão e 2022 deve seguir a mesma toada. Os próprios candidatos têm a responsabilidade de não incitar seus eleitores, os debates precisam estar centrados no campo das ideias e proposições. A civilidade e o respeito não são escolhas na vida em sociedade, são exigências. Sem eles, é um retorno à selvageria no qual a própria política perde o sentido. 

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