Prisão de médico por estupro ajuda a sociedade a sair da anestesia

Violência contra a mulher cometida durante uma cesariana em hospital atingiu o mais alto nível de repugnância e só foi descoberta após desconfiança das enfermeiras. Casos assim devem ser cada vez mais denunciados para não haver impunidade

Publicado em 13/07/2022 às 02h00
Estupro
Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante pela delegada Bárbara Lomba, da Delegacia de Atendimento à Mulher de São João de Meriti (RJ). Crédito: Reprodução/TV Globo

A imagem da anestesia é sempre muito forte. No ambiente cirúrgico, é ela que garante um estado físico no qual a dor é sublimada para que procedimentos invasivos possam ser realizados com segurança. Neste momento, estabelece-se uma relação de confiança entre médico e paciente que vai além da própria ética: é uma questão de humanidade. O anestesista está ali não só como o responsável pelas dosagens dos anestésicos, mas para zelar por aquele corpo adormecido.

atrocidade cometida pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante após estuprar uma mulher na sala de parto durante uma cesariana, quebra esse pacto de uma forma desumana. Quebra esse pacto com dor e trauma, aquilo que o anestesista deveria evitar. Não há justificativas ou atenuantes. E o caso só veio à tona porque profissionais da enfermagem desconfiaram do comportamento do médico em outras ocasiões e resolveram gravar aquela cirurgia. 

Esse estupro é uma perversidade que veio se somar a tantas outras registradas recentemente no país. Está tudo fresco na memória, como as cenas de uma procuradora apanhando diante da câmera de um celular no interior de São Paulo. Ou as denúncias de abusos feitas por funcionárias da Caixa Econômica Federal contra o agora ex-presidente do banco. No caso específico de estupros, ainda se vê quem minimize a violência ou até responsabilize a vítima. Mas essa reticência social, aos poucos, está se reduzindo.

No interior de São Paulo, a Justiça decretou prisão preventiva do procurador que espancou a colega. Na Caixa, além da saída de Pedro Guimarães do cargo, há investigações em curso para checar as denúncias. E, no caso do anestesista, a prisão foi em flagrante. É importante que casos de tamanha repercussão pública tenham encaminhamentos na Justiça, sem deixar espaços para a impunidade. A denúncia permanece sendo crucial: vítimas ou testemunhas têm cada vez mais canais para superar o silêncio. Onde eles não existem, é preciso criá-los.

Este jornal, com a seção Todas Elas, coloca-se como uma trincheira na defesa dos interesses femininos. Tanta violência é insuportável, mulheres continuam morrendo diariamente pelo simples fato de serem mulheres, por isso a relevância social desses espaços de resistência, denúncia e mudança de mentalidade.

A sociedade, assim, vai saindo aos poucos da anestesia, acordando de um tempo em que a honra de um homem justificava a violência ou a roupa de uma mulher era uma permissão para o assédio. Já se fez vista grossa demais para o sofrimento feminino, mas isso está ficando para trás. Há muito o que se avançar, esse estupro monstruoso na sala de parto mostra que há muito a se fazer, uma verdadeira transformação cultural que passa também pelo rigor das punições. É mais um caso lamentável e revoltante. Mas não há como negar: os olhos da sociedade estão cada vez mais abertos.

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