Publicado em 27 de agosto de 2025 às 19:37
SÃO PAULO - Representantes de setores industriais sinalizaram nesta quarta-feira (26) que poderão articular uma ofensiva conjunta para enfrentar o que chamaram de uma invasão de produtos chineses.>
A Coalizão Indústria, que reúne representantes de 14 setores industriais e foi muito ativa durante o governo Jair Bolsonaro (PL), deve voltar a se movimentar em torno de uma pauta comum, que consideram a urgência: conter o aumento nas importações chinesas em segmentos como aço, calçados, produtos têxteis, plásticos, máquinas e equipamentos.>
"Está mais claro o entendimento de que precisamos de uma união de esforços", disse Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, no encerramento do congresso Aço Brasil. "Trabalhando em conjunto, a gente pode chegar a uma solução.">
A ofensiva mira o governo federal e a percepção de que hoje os pleitos dos setores frequentemente se chocam ou se sobrepõem. "Não adianta ir no Mdic em um dia e no dia seguinte vai o setor agrícola com outro pedido. Os técnicos do Mdic não são árbitros", afirmou Werneck sobre o Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços).>
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José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), entidade que costuma ser crítica aos pleitos protecionistas das siderúrgicas, disse durante o evento que toda a cadeia industrial está sob pressão dos importados. "O chinês usa práticas desleais de mercado e o Brasil teria que cuidar dessas práticas desleais", disse.>
As empresas sob o guarda-chuva da Abimaq são, em sua maioria, pequenas e médias, o que, segundo Velloso, as tornam compradoras de aço das distribuidoras. Elas não têm capacidade de importar aço nem de comprar diretamente nas usinas.>
O problema, diz, não é a importação, mas as condições do que entra no Brasil. "A gente importa muita máquina dos Estados Unidos, a gente importa muita máquina da Alemanha. Não estou aqui reclamando da Alemanha, porque a Alemanha utiliza formas leais de comércio", afirma. "O problema é o comportamento da China, que dá subsídio e ajuda extra para empresas e coloca os excedentes para fora.">
Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo da Aço Brasil e coordenador da Coalizão Indústria, disse acreditar que hoje há uma conversa mais convergente entre os setores. "Todos têm um único pesadelo, que é a China, mas não há uma solução pronta para atender a todos.">
Alguns setores têm defendido que medidas antidumping e ou de salvaguardas envolvem processos longos e demorados, em um momento em que as indústrias demandam decisões mais urgentes. Discussões em torno do Repetro (regime aduaneiro especial para setor de óleo e gás), Finame (linha do BNDES) e conteúdo local também estariam, segundo Marco Polo, entre os temas de interesse da cadeia.>
Na avaliação de Haroldo Ferreira, da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados), usar a estrutura da coalizão é um dos caminhos para tratar do tema junto ao governo. "A gente já trabalha assim [com alinhamento de pautas], mas tem que fortalecer e trabalhar mais nesses pontos", diz.>
No setor calçadista, o nível de importação de pares já está 10 milhões superior ao que foi registrado no ano passado. "O governo tem instrumentos para definir uma cota, pega a média dos anos anteriores e coloca uma cota para o próximo ano, dois anos, para se manter no mesmo volume".>
No setor siderúrgico, as queixas em relação ao volume de importação de produtos chineses não são novas. Neste ano, porém, o setor diz que a participação do aço chinês já chega a 30% do mercado neste ano.>
André Johannpeter, presidente do conselho de administração da Gerdau e do conselho diretor da Aço Brasil, disse considerar que existe um surto de importação chinesa. "É uma competição desleal. Não são as mesmas regras e a China não é uma economia de mercado", afirmou.>
As siderúrgicas têm dito que precisarão revisar seus ciclos de investimentos. Com a entrada de produto chinês, o uso da capacidade instalada das usinas está em queda.>
A média anual de importação de aço ficou na faixa de 2,2 milhões de toneladas entre os anos 2000 e 2019. Para 2025, a Aço Brasil calcula que será de 6,3 milhões de toneladas. A estimativa do setor é a de que o país também esteja importando volume similar indiretamente, em produtos feitos com aço.>
Silvia Nascimento, presidente da Aço Verde do Brasil, disse que atualmente as decisões para investimento estão inviáveis. "O que a gente tem de medidas do governo para conter essa enxurrada de aço importado não está surtindo efeito.">
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