Publicado em 5 de agosto de 2021 às 09:28
Entre 2010 e 2020, investidores chineses aplicaram no Brasil US$ 65,7 bilhões (o equivalente hoje a R$ 342,2 bilhões). Três quartos deste montante foram para o setor de energia, com destaque para eletricidade. Mas o capital chinês também procurou negócios diversificados no país, de agricultura a tecnologia da informação, passando pelo setor bancário. >
Os dados pertencem ao relatório "Investimentos Chineses no Brasil - Histórico, Tendências e Desafios Globais", de autoria de Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do CBEC (Conselho Empresarial Brasil-China). >
"O Brasil é alvo de 47% dos investimentos chineses na América Latina", afirma. Até 2009, esse interesse era basicamente irrisório. Mas a partir das grandes operações de privatização do setor de infraestrutura, com destaque para energia elétrica, os investidores chineses chegaram com tudo. >
"Houve uma euforia inicial em 2010, quando foi anunciado um valor de investimentos muito maior (US$ 35,8 bilhões) do que o que foi concretizado (US$ 13 bilhões)", afirma. "O mercado brasileiro ainda era desconhecido e só aos poucos os chineses se acostumaram à burocracia local". >
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A indústria de eletricidade e gás concentrou 48% dos investimentos entre 2010 e 2020, seguida por 28% da extração de petróleo e gás natural. >
"São setores já desenvolvidos na China, mas que estavam despontando para a iniciativa privada aqui no Brasil. Os chineses viram nisso uma oportunidade de empregar o seu know-how", diz Cariello. Empresas como State Grid e China Three Gorges entraram no mercado local. >
Mas houve um interesse também por companhias de outros setores, como o financeiro. O China Construction Bank, por exemplo, comprou o Bic Banco. "Por meio de aquisições, os chineses modernizaram operações brasileiras e mantiveram empregos", afirma o executivo do CBEC. >
Na indústria manufatureira, diversos segmentos foram do capital chinês, desde a indústria automotiva até a de máquinas e equipamentos pesados. >
Cariello vê potencial para aumento dos aportes chineses em infraestrutura, logística e tecnologia da informação -neste último caso, o capital asiático já está presente na 99, controlada pela Didi Chuxing. Já a Tencent, a maior companhia de games do mundo, dona do League of Legends (LOL), é uma das acionistas do banco digital Nubank. >
Os números do investimento chinês em 2020 apontam uma forte queda de 74% em relação ao ano anterior. A princípio, diz Cariello, o recuo está relacionado ao impacto da pandemia. O executivo duvida que a motivação seja política, depois de a China ser alvo de reiterados ataques de membros do governo, do próprio presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo. >
Cariello chama a atenção para a representatividade da potência asiática também nas exportações brasileiras. >
"Como o principal parceiro comercial do Brasil, a China comprou US$ 67,8 bilhões em produtos brasileiros em 2020, um terço do que foi exportado daqui para o mundo", diz Cariello. No comércio bilateral (importações e exportações), a relação entre os países bateu o recorde no ano passado, atingindo US$ 102 bilhões. >
"Tudo isso ocorreu à margem das questões políticas, o que mostra que as agendas econômica e política não andam juntas neste caso", afirma o executivo. "Mas é bom não brincar com a sorte".>
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