Publicado em 16 de abril de 2020 às 09:04
O governo costura com bancos privados, fundos de investimento e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um plano de socorro de ao menos R$ 48 bilhões a grandes empresas atingidas pela crise do coronavírus. >
Pelo plano em discussão, serão oferecidos a empresas que têm ações negociadas na Bolsa instrumentos de dívidas conversíveis em ações.>
Ou seja, os bancos poderiam ficar com uma fatia da companhia caso ela não tenha condições de pagar o empréstimo ao fim do prazo acordado.>
As negociações para o pacote foram antecipadas pelo jornal Valor Econômico.>
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Somente na cadeia de energia (geradoras, transmissoras e distribuidoras), o montante necessário já é de R$ 40 bilhões, segundo representantes de cada segmento.>
Quando as primeiras conversas com o BNDES começaram, há cerca de três semanas, essa necessidade era de R$ 17 bilhões.>
O valor mais do que dobrou não somente com a queda no consumo, principalmente de indústrias, mas também com o aumento da inadimplência.>
Já quatro companhias aéreas (Gol, Latam, Azul e Passaredo) negociam algo em torno de R$ 8 bilhões. Estimativas de bancos apontam que essas empresas podem estar queimando até R$ 100 milhões em caixa por dia.>
O presidente da Azul Linhas Aéreas, John Rodgerson, cobrou do governo brasileiro a concessão de benefícios a exemplo daqueles concedidos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.>
"Não podemos ter desvantagem mundialmente só porque estamos no Brasil", disse ele durante conversa com investidores pela internet.>
As empresas esperam que, com a entrada dos bancos privados nesse jogo Bradesco, Itaú Unibanco e Santander , seja possível destravar os empréstimos. Isso porque o BNDES insiste em uma política que penaliza as companhias, na visão delas.>
No setor aéreo, por exemplo, os financiamentos seriam válidos por cinco anos, com juros de 6% ao ano, e um ano de carência. A taxa básica de juros está em 3,75% ao ano. >
Se as empresas não conseguirem quitar a dívida até o término do contrato, o valor remanescente será convertido em ações e transferidas ao BNDES em pagamento. >
O problema maior, no entanto, é o cálculo do valor das ações. O banco quer que o preço seja o atual. >
Desde que a crise começou, há cerca de um mês, as ações das empresas brasileiras que são listadas em Bolsa (Gol e Azul) sofreram acentuada desvalorização. Os papéis das aéreas perderam praticamente 75% de seu valor. >
Por isso, as empresas querem que seja usado o valor de antes da crise ou outro método de avaliação. É isso o que emperra as operações. >
Nas conversas com bancos, elas afirmam que, nos EUA, onde operação similar foi realizada, o governo poderá ficar com 3% das empresas. >
Aqui, esse patamar poderia ser superior a 30%, o que consideram injusto porque o valor de mercado reflete a atual paralisação do setor. >
O presidente do Santander, Sérgio Rial, defende que não sejam criados mecanismos artificias de precificação. >
"Qualquer tentativa de construir um artificialismo de preços futuros pode gerar dúvidas sobre como eles foram estabelecidos. O preço que existe é o de ontem, e é esse que tem que ser usado", disse em transmissão ao vivo organizada pelo banco. >
Ele ressaltou que nem todos poderão ser salvos pelos bancos e pelo poder público. "Não temos condições de ajudar todos os setores que estão precisando", afirmou. >
Já no caso das montadoras de veículos, que não têm ações negociadas na Bolsa brasileira e que são vistas como importantes para a economia por gerar empregos, o instrumento a ser usado é uma dívida comum que usaria os ativos locais como garantia. >
Nas discussões, representantes do governo e dos bancos privados têm buscado uma solução combinada, que dividiria riscos entre o poder público e os bancos privados, a exemplo do programa de R$ 40 bilhões em financiamento para médias empresas pagarem salários (lançado há cerca de três semanas). >
Naquele programa, o poder público ficou com 85% do risco (ao aportar R$ 34 bilhões em recursos), e os bancos privados, com 15% (ao bancarem apenas R$ 6 bilhões). >
Para grandes empresas, as condições não devem ser tão vantajosas. O spread (a margem do banco) das operações deve ser menor que o cobrado em condições normais de mercado, mas não chegará a zero, como foi oferecido às pequenas e médias empresas. >
As discussões não preveem um modelo fechado. Empresas com maior capacidade de endividamento poderão optar por um volume maior de empréstimo. >
Para outras, o instrumento preponderante será mesmo títulos de dívidas lastreados em ações, como as debêntures conversíveis. >
Não está descartado o uso de dinheiro do Tesouro nas operações, mas parte da equipe econômica faz ressalvas. >
O entendimento é que, devido à restrição fiscal do país, é preciso voltar as atenções a setores primordiais para preservar emprego e socorrer somente quem foi atingido pela crise do coronavírus. >
O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, disse que o governo vai separar na avaliação das medidas o que é um problema causado pela crise atual do que já vinha sendo experimentado em cada setor. >
Embora tenha iniciado em 2016 uma estratégia de reduzir sua carteira de ações (de R$ 112 bilhões ao fim de 2019), o BNDES não terá restrições para adquirir novas participações em empresas. >
O processo de enxugamento do BNDESPar, braço de participações do banco, será reiniciado após o coronavírus. >
Os idealizadores da proposta defendem que, caso o modelo seja bem elaborado e a economia retomar após o fim da pandemia, as ações adquiridas agora podem se tornar investimentos rentáveis, tanto para os investidores privados quanto para o Tesouro, que recebe dividendos do BNDES. >
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